Como o setor sucroenergético pode participar da produção da ‘gasolina sem petróleo’

Como o setor sucroenergético pode participar da produção da ‘gasolina sem petróleo’

Chamada de e-fuel, ela requer energia elétrica limpa no processo de produção, caso da bioeletricidade de biomassa de cana

Crédito da imagem: MME

Basta uma rápida pesquisa na internet para encontrar dezenas, senão centenas, de relatos que destacam a gasolina sintética, a e-fuel.

Também chamada de gasolina sem petróleo, ela troca o petróleo pelo ar e água como matérias-primas.

 

Como ela é produzida: em linhas gerais, a fabricação consiste em processo físico-químico chamado de hidrólise. Ou seja, retira-se o hidrogênio da água para posterior combinação com o dióxido de carbono (CO2).

Daí resulta gás usado para gerar cadeias de hidrocarbonetos que irão se transformar em combustível líquido (leia mais aqui).

 

Neutros em emissões - Os combustíveis sintéticos (gasolina e também o diesel) são considerados neutros nas emissões de CO2 e, assim, são “uma tábua de salvação para esse veículo [a combustão], diante do tsunami da eletrificação” (mais aqui).

 

Sem modificar motor - Outra característica do e-fuel (gasolina ou diesel), segundo especialistas, é de que ele possui as mesmas propriedades de queima dos derivados de petróleo, sem necessidade de modificar peças dos motores a combustão.

 

Já existe produção - Outra: o e-fuel deixa de ser tema de apresentações, projeções e discursos porque a primeira fábrica da América do Sul foi inaugurada no Chile.

“Em sua fase piloto, a produção foi de 750 mil litros por ano, com a expectativa de ir até 550 milhões de litros anuais até 2027, suficientes para abastecer a um milhão de carros por quase um ano”, destaca conteúdo do portal Petróleo & Energia.

 

Quem participa: vale indicar que por trás dessa usina estão a startup chilena Highly Innovative Fuels em parceria com empresas como a Siemens Energy, Audi, Bosch, ExxonMobil, Enel, além da chilena ENAP e da chinesa AME.

 

Custos e energia verde

Diante disso tudo, com gigantes investindo e companhias focadas em seguir na produção, significa que os motores a combustão seguirão firmes e fortes com o combustível sintético.

Certo? Não é bem assim.

Em primeiro lugar tem os custos de fabricação. Um litro da gasolina sintética hoje sai por R$ 55, relata artigo do portal MobiAuto.

É certo que fábricas como a do Chile são embrionárias e irão avançar em redução de custos.

Mas em quanto tempo?

Já em segundo lugar, tem a anunciada emissão zero de CO2.

No mesmo texto, o portal destaca que, no máximo, o e-fuel reduzirá as emissões em 70%.

Vale lembrar que o etanol, na comparação com a gasolina fóssil, reduz em até 80% as emissões de CO2.

 

Participação do setor - No mais, o setor sucroenergético também é peça vital para a futura produção em escala de e-fuel.

 

Como assim?

 

É que o processo de retirada do hidrogênio da água exige grande quantidade de energia elétrica.

E para dar a chancela de combustível limpo, essa energia deve ser preferencialmente de origem limpa, como solar, eólica, de hidrelétricas ou, então, de biomassa.

Vale dizer que a biomassa de cana-de-açúcar é a principal fonte de geração termelétrica, processo pelo qual a energia elétrica  é produzida por empresas de usinas de etanol e de açúcar.

A importância das térmicas (termelétricas) pode ser conferida em slide do Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre a participação das fontes geradoras: 

Estratégia da bioeletricidade - Por ser produzida de forma ininterrupta nos meses da safra, que na região Centro-Sul do País vai de 30 de abril de um ano a 30 de março do ano a seguinte, a bioeletricidade é garantida também para o processo de hidrólise do e-fuel.

Em termos comparativos, as fontes eólica e solar também podem ser ininterruptas, mas vai depender da oferta de sol e de vento.

No mais, o setor sucroenergético deve inaugurar ao longo do ano 16 novas usinas de resíduos agroindustriais, a maioria bagaço, palha e biogás de cana.

Enfim, o  setor tem muita bioeletricidade que ainda pode ser gerada, seja porque muitas das usinas ainda não produzem eletricidade para exportação (vender para clientes), ou porque podem ampliar a produção já existente.

Seja de um jeito ou de outro, o setor sucroenergético pode, sim, contribuir para a produção da gasolina sem petróleo.