Mercado de créditos de descarbonização de biocombustíveis deve crescer no mínimo 37% em 2022
Ativo ganha destaque ambiental porque até dezembro reduzirá a emissão de 36 milhões de toneladas de CO2
O mercado de créditos de descarbonização de biocombustíveis movimentou R$ 1,17 bilhão em 2021, segundo Pietro Mendes, diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME). Para este ano, a previsão é de que a comercialização cresça 37% e supere R$ 1,6 bilhão.
A estimativa leva em conta a necessidade de 36 milhões de créditos em 2022 a serem adquiridos pelas distribuidoras de combustíveis a um valor médio de R$ 45.
Vale lembrar que essa projeção é conservadora, uma vez que o mercado desses créditos começou 2022 pra lá de aquecido. Na verdade, dobrou de valor: cada crédito saltou de R$ 45 em 05 de janeiro para R$ 97 em 17 de fevereiro, conforme balanço da B3, responsável pela comercialização, em conteúdo do Valor Econômico.
Mais do que o peso econômico, o crédito de descarbonização – também chamado de CBIO – gera ganhos ambientais e faz o Brasil despontar na corrida mundial pela redução de gases de efeito estufa (GEEs), responsáveis pelo aquecimento global.
É que cada CBIO equivale a uma tonelada de dióxido de enxofre (CO2) que deixa de ser injetada no meio ambiente graças ao uso de etanol, biodiesel, biogás ou bioquerosene de aviação.
Para se ter ideia, os 24,4 milhões de créditos comercializados em 2021 retiraram 24,4 milhões de toneladas de CO2, equivalentes ao mesmo número de árvores em termos de captura de carbono, como destaca o executivo do MME.
Criado no fim de 2018, com a oficialização do programa de Estado Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), o crédito começou a ser comercializado em abril de 2020. Naquele ano, foram vendidos cerca de 15 milhões de CBIOs a um valor médio de R$ 43,66.
Mas qual é o motivo de 15 milhões em 2020 e de 24 milhões em 2021?
Tais volumes integram as chamadas metas de descarbonização, ou seja, quanto as distribuidoras precisam quitar em CBIOs para ‘pagar’ pelas emissões geradas pelos combustíveis fósseis que venderam no ano anterior.
Clique aqui para saber mais a respeito do RenovaBio e dos CBIOs.
Vale destacar que, além das donas de postos de serviços, os créditos de biocombustíveis atraem uma clientela crescente: empresas que investem em descarbonização e mesmo investidores de ativos financeiros.
Se se levar em conta o desempenho da valorização do CBIO no começo do ano, ele já é de longe um campeão.
No caso, a cotação nas alturas é explicada porque parte das distribuidoras adquiriu os créditos em janeiro e o estoque disponível na B3 passou a ser disputado, empurrando os preços para cima.
É a velha questão da oferta e da procura. O cenário tende a favorecer os CBIOs, principalmente no caso do etanol hidratado, porque, dependendo do desenrolar da situação na Ucrânia, o barril de petróleo pode ficar acima de US$ 100.
É que se ficar neste patamar e o preço da gasolina seguir caminho igual, o etanol hidratado (veículos flex) ganhará competitividade e o consumidor. Desta forma, incentivará as usinas de cana a ampliar a produção de biocombustível.
E quanto mais etanol, maior a oferta de CBIOs.
Como assim? Um crédito desse equivale a no mínimo 700 litros de etanol.
Vai daí que se as usinas do Centro-Sul do país saírem de 16 bilhões de litros de hidratado na safra 21/22 para 19 bilhões na próxima, esses 3 bilhões de litros extras resultarão em mais 4,3 milhões de CIOs, levando em conta a necessidade de 700 litros para gerar um crédito.
Em tempo: de nada adianta turbinar a produção de etanol pensando nos CBIOs porque tem a tal meta anual das distribuidoras e, em 2022, ela é de 36 milhões de créditos.
Mas caso a oferta deles crescesse, o meio ambiente agradeceria de pés juntos, até porque a redução de emissões de CO2 via biocombustíveis é comprovada.