Usinas têm prazo de 15 anos para ampliar a produtividade e atender o crescente mercado global de alimentos e de biocombustíveis

Por Delcy Mac Cruz

Setor sucroenergético brasileiro tem todas as condições de liderar a oferta de açúcar e de etanol, afirma Luis Roberto Pogetti

Crédito de imagem: Colheita de cana: BP Bunge/Divulgação

O setor sucroenergético brasileiro tem os próximos 15 anos para ampliar sua produtividade e obter expressivos resultados produtivos.

Quem estima esse prazo é o executivo Luis Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar e Presidente de Honra da Fenasucro & Agrocana 2022.

Mas vale destacar que a pressão por investimentos em produtividade é baseada em bons motivos.

É que a população mundial deverá crescer em 1 bilhão de habitantes até o fim da próxima década, chegando a 10,7 bilhões. Não para por aí. Conforme a ONU, em 2050 seremos 11,9 bilhões de habitantes.

Ao lado do crescimento populacional virá demanda maior por alimentos e é aí que entra o açúcar produzido pelas usinas brasileiras.

Neste ano, por exemplo, a estimativa é de que o consumo global do adoçante chegue a 174,84 milhões de toneladas, das quais o Brasil participa com projetadas 36 milhões de toneladas.

Sendo assim, se quiserem liderar a oferta diante da crescente demanda, as usinas terão de correr em busca de produtividade.

Além disso, será preciso reduzir drasticamente as emissões de gases geradores do efeito estufa e o etanol é uma das principais ‘armas’ para limpar o ambiente. 

Créditos de imagem: Luis Roberto Pogetti/Divulgação 

As avaliações de Pogetti

Em entrevista exclusiva concedida no dia 16 de agosto, durante a abertura da Fenasucro, em Sertãozinho (SP), Pogetti detalhou suas projeções sobre o setor. Confira: 

Por que o setor sucroenergético tem 15 anos de prazo para ‘arrumar a casa’ em termos de produtividade

Luis Roberto Pogetti - Temos pela frente um mercado global bastante promissor, seja em alimentos [o que inclui o açúcar] como em combustíveis.

O etanol está pronto para contribuir com a contenção do aquecimento global. Ou seja, ele pode substituir globalmente o combustível fóssil.

É preciso dizer que o etanol não é a única solução. Os carros elétricos também irão contribuir para conter o aquecimento global.

Mas em algumas regiões do mundo, o carro elétrico é menos competitivo do que o etanol, caso do Brasil, da Índia e de outros países.

E a diferença desse biocombustível ante o do motor do carro elétrico é que o etanol está pronto, enquanto o elétrico ainda tem desafios pela frente.

Temos, assim, um mercado promissor.

Hoje somos competitivos, mas para abraçar esse mercado teremos de ser cada vez mais competitivos, porque as outras tecnologias irão evoluir rapidamente.

 

Como fazer isso?

Luis Roberto Pogetti - Temos que investir em tecnologia e em inovação, e a Fenasucro, realizada entre os dias 16 e 19 de agosto, é prova viva de que o brasileiro tem competência para desenvolver novas tecnologias, processos inovativos de uso e aplicação, ampliando a otimização da matéria-prima disponível.

A oferta dos expositores da Fenasucro nos faz acreditar que o setor sucroenergético brasileiro pode ter um futuro muito brilhante para contribuir com o [crescente] mercado global.

 

Qual sua receita para obter recursos financeiros para fazer esses investimentos em produtividade?

Luis Roberto Pogetti - Para bons projetos existem financiamentos. Veja o caso do termo da moda, o ESG (práticas ambientais, sociais e de governança).

Bons projetos aliados ao aquecimento global, aliados à preservação de recursos naturais, terão como obter recursos de financiamentos.

Diante disso, digo que temos que ter bons projetos, boa gestão. Hoje há capital no mundo disponível para financiar bons projetos.

 

O setor sucroenergético é protagonista do único programa oficial de descarbonização do Brasil criado por lei, o RenovaBio. Mas por meio de decreto do governo de julho, a comprovação de atendimento das metas de vendas de créditos de descarbonização (CBIOs) foi ‘congelada’ até setembro de 2023. Qual sua avaliação?

Luis Roberto Pogetti - Acredito que há chances de esse normativo [o decreto do ‘congelamento’ das metas] ser corrigido.

Mesmo porque ele agride a legislação, que fala que as metas são anuais e não existe ano de 18 meses [já que o congelamento vai de julho deste ano a setembro de 2023].

Ou seja: um ato do Executivo não tem capacidade de mudar uma legislação. Por isso, acredito que isso será mudado.