Vem aí o diesel verde feito de etanol

Por Delcy Mac Cruz

Biocombustível substituirá o poluente derivado de petróleo em caminhões, ônibus e em máquinas agrícolas 

Créditos de imagem: Divulgação

A próxima fronteira de produtos do setor sucroenergético atende pelo nome de diesel verde e tem previsão de chegar ao mercado a partir de 2024.

Chamado Qdiesel Verde, seu lançamento oficial foi neste ano no principal evento mundial do setor, a Fenasucro & Agrocana, realizada em Sertãozinho (SP).

Por sua vez, o novo produto sucroenergético é aguardado com ansiedade por um único motivo: poderá substituir diretamente o óleo diesel que hoje abastece a maioria dos caminhões em circulação no País. Somente as empresas do setor recrutam uma frota estimada em 3,5 mil desses veículos.

Fora o fato de liberar o Brasil das importações de diesel, que chegam a 30% da demanda, a versão verde de cana é ambientalmente sustentável, uma vez que emite até 90% menos dióxido de carbono (CO2) na comparação com o concorrente fóssil.

Em tempo: antes de entrar em detalhes sobre o Qdiesel, vale lembrar que ele foi criado pelas brasileiras Duo Automation, de Santa Bárbara D’Oeste, no interior paulista, e pela Quadra Engenharia Sustentável, de Curitiba (PR).

Elas são detentoras da tecnologia, que completa uma década de desenvolvimento e já foi testada em vários tipos de motores diesel. A Duo e a Quadra também detêm a patente do diesel verde de cana. 

Qual é a composição do Qdiesel?

Em primeiro lugar, é preciso destacar que se trata de um combustível a base de etanol capaz de atuar como substituto total do óleo diesel sem necessidade de modificações no motor (leia aqui mais a respeito).

A partir de projeções da Duo Automation, vamos detalhar sobre o diesel verde.

Sua composição, por exemplo, integra 96,8% de Butanol vindo do Etanol Anidro e 3,2% de aditivos.

No caso, a função desses aditivos é de melhorar a “explosividade, o que permite a ignição por compressão (ciclo diesel).” Eles contêm lubrificante e coaditivo próprio e exclusivo, o que, segundo as empresas, confere a mesma lubricidade do óleo diesel e garante uma vida útil longa ao sistema de injeção.

Créditos de imagem: Divulgação

Créditos de imagem: Divulgação

Projeções de mercado

Conforme a Duo e a Quadra, o Qdiesel foca a substituição do diesel de petróleo nas máquinas agrícolas, mas o potencial de mercado vai além disso.

Entre outros consumidores prioritários estão os ônibus urbanos, atualmente movidos a diesel e que, sem alterações, poderão de imediato rodar com o diesel de cana.

Outro foco do novo produto são os chamados sistemas isolados, que geram energia em estados fora do sistema interligado de energia, como na Amazônia, cuja eletricidade emprega geradores a diesel - que simplesmente rodarão com o renovável de cana e com baixa emissão de carbono. 

Créditos de imagem: Divulgação

No radar dos EUA e da Europa

Mas o mercado-alvo do Qdiesel extrapola as fronteiras.

É que ele também pode entrar no mercado dos Estados Unidos, em substituição ao diesel dos veículos de transporte e dos navios de carga.

O renovável também pode chegar ao mercado europeu, seja para entrar no lugar do diesel nos motores veiculares, seja para abastecer motores industriais e estacionaŕios geradores de energia elétrica.

Créditos de imagem: Divulgação

Quem deverá produzir

Já existem empresas produtoras de olho no Qdiesel?

Sim.

A Duo e a Quadra destacam que um projeto piloto nos EUA irá produzir 50 mil litros por semana. A planta está em fase de homologação, e, conforme as empresas, esta fábrica virá para o Brasil.

Em tempo: dois grupos de usinas já aguardam por homologações para implantarem plantas em suas unidades sucroenergéticas.

Clique aqui para saber como é produzido o Qdiesel 

RETRANCA

Diesel verde é o futuro do setor

O diesel verde é o futuro do setor sucroenergético para veículos pesados, disse Marcos Daniel de Lima, engenheiro de Automação, diretor de P&DI da Duo Automation, durante apresentação na Fenasucro.

“O etanol atende bem veículos leves, só que está sofrendo uma concorrência dos elétricos, do hidrogênio verde, dos híbridos, além da pressão do preço do petróleo”, disse. E isso “afeta diretamente o produtor e o consumidor”.

Diante desse cenário, o momento é oportuno para a substituição do diesel convencional, que tem origem fóssil, por um derivado do etanol e com as mesmas características técnicas de combustão de motores.

Fora a questão técnica e econômica, outra grande vantagem do Qdiesel é a redução de poluição de particulados.

“A poluição gerada pelo transporte pesado (ônibus e caminhões) nos grandes centros é grande e o Diesel Verde vem para mitigar esse problema, pois zera a emissão de particulados e, como consequência, a poluição”, exemplifica.

Já no campo, a tecnologia pode ser implantada em qualquer usina e pode representar lucro, visto que hoje, de acordo com Lima, elas consomem 10% de seu faturamento bruto com diesel fóssil para frotas e máquinas.

 “Já são 10 anos de pesquisas desta solução produzida com tecnologia nacional tanto para as usinas como para o mercado consumidor e sociedade”, frisa. “Em 2024 já teremos o diesel verde como realidade. É um futuro bem próximo para o setor”, conclui.