Por que os etanóis especiais ampliam o potencial de mercado para usinas de cana

Um dos motivos é de que eles têm alto valor agregado

Crédito da imagem: Grupo Olho D’Água/Divulgação

Que o Brasil tem pleno domínio na produção de etanol de cana-de-açúcar, isso é de conhecimento mundial. 

Produzido desde 1920, o biocombustível ganhou escala industrial na década de 1970. Atualmente, segundo dados oficiais, as 359 unidades produtoras em operação no país respondem pela fabricação média de 30 bilhões de litros por ano. 

Entram nesse montante os combustíveis etanol hidratado (veículos flex) e o anidro (adicionado em 27% à gasolina). Ambos ajudam o país a reduzir importações de gasolina e, tão estratégico quanto, melhoram a qualidade ambiental porque reduzem em até 80% as emissões de carbono (CO2) ante o concorrente fóssil. 

Tem mais: embora fora do balanço, também entram na fabricação das usinas de cana os chamados etanóis especiais. 

Entre outros, integram a lista dos especiais o álcool 70º e em gel, tão requisitados durante a recente pandemia de Covid-19; e o neutro, livre de impurezas e amplamente usado na indústria de bebidas, alimentos e de produtos fármacos e medicinais.

Demanda internacional avança

Do ponto de vista produtivo, o etanol é estratégico para o Brasil e, também, para o mercado externo. 

Prova disso é que, segundo a entidade do setor Unica, as exportações acumuladas somaram 2 bilhões de litros entre abril do ano passado e 16 de janeiro, alta de 60% na comparação com abril de 2021 e janeiro de 22. Detalhe: o balanço exclui os etanóis especiais, cuja demanda internacional só tende a crescer. 

E por que só tende a crescer?

Em outras palavras, porque o mercado exterior enxerga mais e mais as qualidades do produto canavieiro. Além disso, suas vantagens ambientais, em termos de emissões de carbono, o favorecem diante a concorrência poluente. Por sua vez, a produção de etanóis especiais obedece especificações exigidas por tipos de produtos. É assim: o mercado externo procura produtos com designações também específicas.

É o caso da REN, cujo etanol precisa seguir pauta definida pela ANP tanto no que tange a concentração alcoólica quanto dos limites permitidos de impurezas. Ou das designações Coreia 24 e Coreia 40. Aqui, os números 24 e 40 referem-se à quantidade máxima permitida de álcoois superiores. Leia mais a respeito aqui

Não é só: a obtenção desses produtos pode exigir, além da remoção cuidadosa de óleos baixos e altos na retificação, de procedimentos complementares para retirar outras impurezas. Evidente que produzir os especiais custa bem mais do que fabricar anidro ou hidratado. Mas os especiais têm alto valor agregado e não deixam a usina ‘refém’ das oscilações de preços da gasolina - o que pode remunerar ou não a produção sucroenergética. 

Mercado potencial aberto  

As estimativas dão conta de que do total de etanol produzido no Brasil, cerca de 80% é destinado como combustível (seja hidratado, para veículos flex, seja anidro), 10% é exportado e 10% utilizado internamento para aplicações em áreas como indústria química, de bebidas e de perfumaria. Sendo assim, dos 35 bilhões de litros projetados para a produção nacional na safra 2022/23, os etanóis especiais representam cerca de 3 bilhões de litros. Diante disso, dada a oferta atual apresentada pela usinas, os etanóis especiais sinalizam potencial de mercado mundial pra lá de crescente. 

Quem produz os especiais

A partir de divulgações das companhias sucroenergéticas, listamos produtoras de etanóis especiais. Confira:

 

Localizada em Ibaté (SP), a Nova Era Bioenergia produz:

  • álcool em gel antisséptico 70°, 

  • álcool líquido 70°, 

  • etanol neutro (livre de impurezas, é amplamente usado na indústria de bebidas, alimentos, produtos fármacos e medicinais) e 

  • etanol extraneutro (ainda mais apurado e refinado que a versão neutra, chega a ser desnaturado conforme o uso e legislação).

A empresa informa que fornece álcool neutro para Europa, Ásia e África. Em 2020, embarcou mais de 15 milhões de litros e, em 2021, a meta foi chegar a 30 milhões de litros. 

Para atender a demanda do mercado farmacêutico e da indústria de alimentos e de bebidas, em 2021 a Nova Era investiu na ampliação do parque fabril.

Objetivo: chegar a 120 milhões de litros de etanol neutro por ano, ante a produção de até então 50 milhões de litros anuais.

 

Com planta produtora em Goiatuba (GO), a Goiasa produz:

  • álcool neutro orgânico: com alto grau de pureza sem adição de produtos químicos durante o processo de produção, é empregado como matéria-prima nos segmentos de alimentos, cosméticos, bebidas, químicas e farmacêuticas. 

  • álcool hidratado orgânico: produzido a partir de cana orgânica, sendo isento da utilização de produtos químicos, atende a indústria de cosméticos, bebidas e de alimentos.

Localizada em Santa Rita (PB)

Miriri Alimentos e Bioenergia tem a opção de, além de etanol hidratado e anidro e de açúcar, produzir álcool neutro. 

Neste caso, pode chegar a fabricação de 200 mil litros diários. A empresa, conforme relato, já fez operação de exportação de 35 milhões de litros de álcool neutro. 

 

Controlador de três usinas (Giasa, em Pedras de Fogo-PB; Central Olho D’Água, em Camutanga-PE; e Comvap, em União-PI).

O Grupo Olho D’Água lista, entre produtos, também o álcool neutro. De pureza superior, e que não interfere em aromas e sabores, esse álcool conta com processo de qualificação extremamente rigoroso, passando por diversas análises físico-químicas e sensoriais.