Mais tecnologia e eficiência na indústria automobilística

 

Montadoras e fabricantes de autopeças se destacam na corrida tecnológica da Indústria 4.0.

 

Os avanços tecnológicos na produção dos automóveis foram tão significativos nos últimos anos que hoje, se Henry Ford estivesse vivo, dificilmente reconheceria as plantas industriais cuja base fundou no início do século passado. Não é à toa: o setor automotivo lidera a corrida tecnológica, conforme mostra o Projeto Indústria 2027, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL). A pesquisa também indicou que, junto ao de bens de capital e da agroindústria, o setor é o que mais aposta na dominância de tecnologias 4.0 para a competitividade dos negócios até 2027.

“O setor automotivo enfrenta mundialmente profundas transformações, tanto na arquitetura dos veículos quanto na sua forma de consumo. O Brasil, seguramente, não ficará à parte desse processo”, resume o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Dan Ioschpe.

O fato é que fábricas inteligentes, que combinam conceitos de automação e troca de dados em tempo real em favor da eficiência produtiva, já são realidade tanto entre as montadoras como entre as fabricantes de autopeças. A Mercedes-Benz, por exemplo, comemora os ganhos de eficiência proporcionados pelas tecnologias implantadas na linha de montagem de caminhões de São Bernardo de Campo (SP) inaugurada há cerca de um ano. “Ela é 15% mais eficiente em termos de produção do que a anterior”, disse o presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina, Philipp Schiemer. Além disso, a perspectiva da empresa era alcançar 20% de ganho de eficiência logística.

Por trás desses números estão diferenciais tecnológicos que incluem mais de 60 AGVs (Veículos Guiados Automaticamente), mais de 100 apertadeiras eletrônicas e modernas impressoras 3D. Mais, na logística de peças, destacam-se novas empilhadeiras com câmeras que orientam toda a movimentação e sensores luminosos nas prateleiras de estoque que monitoram a entrada e a saída de materiais. Agora, a perspectiva da empresa é repetir esses ganhos na nova Linha de Cabinas, inaugurada neste ano, que avança para a produção de agregados, como motores, câmbios e eixos, e chassis de ônibus sob os conceitos de Indústria 4.0.

 

O modelo também está presente na Thyssenkrupp. Em sua fábrica de eixos de comando de válvula e módulos integrados para motores de automóveis de Poços de Caldas (MG), a linha de produção é monitorada em um ambiente virtual por meio de sensores que fornecem dados em tempo real para o sistema de controle. Para tanto, todos os componentes produzidos carregam um código que é checado automaticamente antes que qualquer passo do processo seja iniciado. Dessa forma, caso algum problema seja identificado, é possível interromper a etapa para, por exemplo, reparar e aprimorar o processo de fabricação. Além disso, a tecnologia permite uma rastreabilidade das condições de montagem de cada conjunto individualmente. “A interconexão entre as etapas do processo, o monitoramento em tempo real e a própria automação envolvida nos permitem obter um nível de controle e uma capacidade de resposta sem precedentes”, resumiu Roberval Calca, diretor da fábrica de Poços de Caldas da Thyssenkrupp no Brasil.

A Dana, por sua vez, também trabalha com iniciativas que se encaixam na denominação de Indústria 4.0. “Todas as novas linhas de produção já são desenhadas e simuladas em 3D durante a definição dos processos produtivos. Isto nos ajuda no dimensionamento da linha, e também em questões de ergonomia e segurança, além de eficiência e produtividade”, explica o diretor de Excelência Operacional da empresa, Nelson Wagner, lembrando que sistemas automatizados de carga e descarga, entre eles robôs, já são empregados em várias linhas de produção. Outro foco é na aquisição e monitoramento online de dados de eficiência e produtividade além de rastreabilidade, padronizando os sistemas mundialmente.

Dentre os investimentos mais recentes, destaque para a modernização da linha de forjamento de vigas de eixo dianteiro em Campinas. “A automação dos sistemas de transporte, carga e descarga, e renovação dos equipamentos, além de resultar em melhorias de produtividade, tem um foco muito grande em redução de riscos e melhorias ergonômicas”, explica Wagner.

Cadeia de fornecedores

A Bosch também coleciona exemplos de aplicações de indústria 4.0. Destaque, por exemplo, para o case da linha de produção de freios ABS de Campinas, que “conversa” com as outas 10 plantas da empresa no mundo. Desta forma, se é identificado algum tipo de problema com o produto, todas interrompem o funcionamento para detectar a falha antes de prosseguir. Isso é uma ação preventiva, que reflete na qualidade da produção e também na produtividade.

Em paralelo, a multinacional atua no fortalecimento da cadeia de fornecedores, apoiando-os na transição para o novo modelo de produção. Projeto-piloto desenvolvido com a Rudolph Usinados, de Timbó (SC), identificou máquinas relativamente antigas que ainda têm condições de entrega com eficiência e produtividade, para implantação de melhorias. O projeto inclui a identificação dos sinais vitais do processo e monitoramento por meio de software. No primeiro ano, a empresa registrou um aumento de eficiência dos equipamentos de 15%, além de redução de custo de manutenção, e melhoria geral do ciclo produtivo. A perspectiva é ir além: “Não é só questão de corrigir gaps, é colocar o processo num patamar que ele não alcançaria em condições normais”, explica Jefferson Almeida, gerente de Desenvolvimento de Fornecedores da Bosch Brasil, acrescentando que em breve a solução será implantada em outros dois fornecedores.

 

 

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