Por que a eletricidade da cana é mais estratégica que outras fontes renováveis
Por que a eletricidade da cana é mais estratégica que outras fontes renováveis
Ao contrário da eólica e da solar, a geração a partir da matéria-prima do etanol pode usar outras biomassas
Foto: Unica / Delcy Mac Cruz
A geração de energia de fontes eólica (vento) e fotovoltaica (solar) só avança no Brasil.
Esse crescimento é comprovado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável pela gestão das instalações de geração do sistema interligado nacional, que abastece o território nacional.
No caso da eólica, neste 2024 ela representa 14% do total da capacidade de geração do sistema e, para 2028, deve chegar a 14,1%.
Já a solar, que hoje tem fatia de 6,4% do todo, em 2028 deverá chegar a 9,1%.
As demais fontes limpas
As previsões de alta atestam o crescimento dessas fontes, ao mesmo tempo que, no mesmo levantamento, o ONS prevê que as hidrelétricas, hoje principais geradoras, com 48,4% do total, cairão para 44% em 2028.
Mesmo a geração de eletricidade a partir da biomassa, cuja maioria é formada de subprodutos da cana-de-açúcar, deve cair de atuais 7,2% do todo para 6,9% em 2028.
Gás e óleo
Tem também as fontes não renováveis, finitas, como as térmicas a gás, que hoje representam 6,7% da capacidade, e deverão chegar a 7% em 2028.
Já as térmicas a óleo tendem a cair: hoje somam 1,2% do todo e, em 2028, irão para 0,4%.
Menos emissões de gases
Em linha com os fatos e as projeções, dá para entender que as fontes solar e eólica só tendem a crescer. E, assim, ajudam a tornar a matriz energética limpa, uma vez que no processo produtivo elas emitem bem menos gases de efeito estufa (GEEs) que óleos e gás.
Mas tem aí um porém.
Fonte intermitente
Assim como a eólica, a solar é fonte renovável intermitente.
Ou seja, essa energia não pode ser armazenada e, assim, só é transformada em eletricidade enquanto o recurso estiver disponível.
Tome o exemplo da solar: ela deixa de gerar se não houver sol. Ou, no caso, da eólica, que produz se houver vento.
Em síntese, a intermitente prevê geração variável, com pausas e retomadas.
Cana e madeira
Em tempo: a fonte biomassa também pode ser considerada sazonal, uma vez que em média uma usina de cana-de-açúcar opera 200 dias. Desta maneira, os demais 165 dias do ano ficariam sem geração, caso ela fosse 100% de biomassa.
Mas tem um detalhe: as geradoras anexas às usinas podem funcionar 365 dias por ano com outras biomassas, caso de madeira, casca de laranja e mesmo de cereais.
É aí que está a estratégia da biomassa diante das fontes intermitentes.
Riscos na expansão
Em artigo no blog Infopetro, Altino Ventura, ex-presidente da Eletrobras, chama a atenção pelo país adotar as fontes eólica e solar para expandir o sistema gerador.
Está certo isso? Não, afirma ele.
O blog Fenasucro lista a seguir destaques do artigo de Ventura que explicam os motivos do risco de se apostar nas fontes intermitentes.
Demandas - As fontes eólica e solar introduziram modificações relevantes na matriz de geração, “com implicações em aspectos importantes do sistema interligado, com demandas junto ao sistema gerador que não poderão ser plenamente atendidas”, destaca.
Usinas reservas - Segundo Ventura, serão criadas situações novas. Uma delas é a necessidade de “usinas reservas para substituir a indisponibilidade das usinas eólica e solar, ampliando os custos destas alternativas, nos eventos de condições desfavoráveis de vento e de sol.”
Gás e diesel - “As novas usinas reservas deverão, por razões técnicas, serem unidades térmicas, [com] geração a gás ou diesel, devendo ser priorizadas as que tenham respostas rápidas às intermitências.”
Menos segurança - Outra situação será a “redução da segurança energética e elétrica do sistema interligado nacional.”
Ele explica essa redução em 3 exemplos:
1 - “impossibilidade de gerar e suprir a carga” (montante de energia demandada) com a totalidade da energia garantida do parque gerador nacional, que é necessária para equilibrar o balanço de energia nacional.
2 - será preciso utilizar praticamente toda a energia girante do sistema hidroelétrico nacional no equacionamento operacional da intermitência das usinas solares e eólicas.
3 - haverá, também, grandes variações nos fluxos nas linhas de transmissão das interligações regionais, uma vez que as usinas intermitentes estão concentradas na região Nordeste, mas ajudarão a suprir, via linhas, o mercado Sudeste/Centro Oeste.