‘Filha’ do etanol de segunda geração, lignina é candidata a virar matéria-prima de biocombustíveis avançados
‘Filha’ do etanol de segunda geração, lignina é candidata a virar matéria-prima de biocombustíveis avançados
Convertida em combustível renovável, ela pode atender setores como o marítimo e de aviação
Foto: Raízen / Delcy Mac Cruz
O etanol de segunda geração, o E2G, tem credenciais positivas de sobra.
Também chamado de bioetanol, etanol verde ou etanol celulósico, é biocombustível avançado produzido a partir dos resíduos restantes do processo de fabricação do etanol comum (de primeira geração, ou E1G) e do açúcar.
Enquanto o adoçante e o biocombustível usam como matéria-prima a biomassa e o açúcar da cana-de-açúcar, o E2G emprega palha, folhas, bagaço, cavaco, entre outras ‘sobras’ do processo produtivo dos produtos convencionais.
É assim que faz, por exemplo, a Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, com duas plantas de E2G em operação e cinco anunciadas.
Tem mais: o etanol de segunda geração é gerado sem ampliar a área agrícola, já que emprega resíduos da própria cana.
Menos emissões
Há, também, a pegada de carbono (footprint), medida que avalia quanto um processo produtivo emite de carbono (CO2) ou outro gás equivalente na atmosfera.
Pois o E2G possui pegada 30% menor se comparado ao de primeira geração, e até 80% menor do que combustíveis fósseis como a gasolina, relata a Raízen.
Não é só.
A produção de E2G no Brasil é recente. Conta, além da Raízen, com a BioFlex, unidade da GranBio que opera desde 2017 em São Miguel (AL).
Mas em que pese o pouco tempo de vida, o etanol celulósico gera uma matéria-prima destinada a se tornar fonte de biocombustíveis avançados.
Seu nome é lignina.
O que é lignina
Em linhas gerais, ela é um biopolímero presente na estrutura de árvores e vegetação terrestre, caso da cana - e, neste caso, é encontrada no bagaço.
Subproduto da produção de biocombustíveis e de papel, a maior parte da lignina residual ou é descartada ou queimada para produzir bioeletricidade ou bioenergia em usinas.
Em texto, a Raízen estima que menos de 2% da lignina global seja aplicada em processos industriais de valor.
Mas esse baixo uso em processos industriais de valor está com seus dias contados.
Acordo prevê conversão
É que em 14 de agosto último a Raízen e a holandesa Vertoro anunciaram a assinatura de um Acordo de Desenvolvimento Conjunto (JDA, do inglês Joint Development Agreement) com o objetivo de aumentar o valor agregado da lignina.
Esse aumento virá por meio da sua conversão em biocombustíveis avançados para os setores marítimo e de aviação, produtos químicos e materiais.
Como irá funcionar
A Raízen fornecerá a lignina de suas plantas de E2G, que deve chegar a 1,5 milhão de toneladas (base úmida) com as sete plantas produtivas em operação.
Por sua vez, a Vertoro, por meio de sua tecnologia Goldilocks®, transforma quimicamente a lignina em um produto puro, com baixo teor de enxofre, altamente processável e de baixo peso molecular, adequada para uma ampla gama de aplicações de base biológica (bio-based).
Mais: a colaboração se concentrará inicialmente na produção de amostras em larga escala na unidade de demonstração da Vertoro na Holanda, neste 2024.
Essas amostras serão distribuídas a produtores selecionados nos setores de combustível, produtos químicos e materiais para testes de aplicação.
O objetivo dessas atividades de validação é garantir um Contrato de Compra Mínima Garantida (Offtake Agreement) para uma unidade de produção em escala comercial, que será integrada às instalações de etanol de segunda geração da Raízen no futuro (leia aqui o texto completo da Raízen sobre o acordo entre as duas empresas).