Cana lidera ranking de matérias-primas para produção de biometano
Por Delcy Mac Cruz
É o que destaca estudo de consultoria alemã, para quem os resíduos canavieiros podem gerar 27 bilhões de metros cúbicos por ano do renovável
Crédito da imagem: Divulgação
Apontado como substituto renovável de combustíveis fósseis como o gás natural e o óleo diesel, o biometano, ou gás natural renovável, poderá render ao Brasil quase R$ 200 bilhões por ano em 2050.
A previsão integra levantamento da consultoria alemã Roland Berger e leva em conta a crescente penetração do renovável no mercado em substituição do gás natural.
Conforme o estudo, o energético poderá atingir 39 bilhões de m3 de volume de vendas ao ano. Já o potencial de produção estimado é ainda maior e pode ir a 59 bilhões de m3 por ano.
“A previsão é que, até 2050, a demanda doméstica por produtos de gás natural e derivados deverá crescer de forma constante, atingindo cerca de 80 bilhões de m3”, disse ao Valor o gerente de projetos sênior da Roland Berger, João Martins.
“Já a penetração de mercado do biometano no Brasil, atualmente em apenas 4%, tem potencial de aumentar para 10% até 2030 e 50% até 2050”, destaca.
Cana lidera ranking de matérias-primas
É aí que entram os resíduos da cana-de-açúcar.
Por meio do processamento industrial, eles geram o biogás, resultante da decomposição da matéria orgânica por bactérias e que pode ser usado para gerar eletricidade ou ser purificado e transformado em biometano.
Conforme o levantamento da consultoria alemã, os resíduos de cana lideram o ranking de potencial de produção de biometano no Brasil.
Traduzindo em números, a cana pode responder por 27 bilhões de metros cúbicos anuais do renovável.
O segundo lugar cabe ao estrume de gado (matéria-prima para 9,2 bilhões de m3/ano), seguido de resíduos de milho, mandioca e soja (8,3 bilhões de m3/ano), indústria de carnes e laticínios (6,3 bilhões de m3/ano) e de resíduos sólidos urbanos (4,2 bilhões de m3/ano).
Como está a produção de biometano?
Ela cresce desde 2016, em simultâneo ao avanço da regulação - que oficializou, por exemplo, a mistura da molécula do biometano nos dutos de gás natural.
Ainda assim, conforme o Valor, a produção é de 182 milhões de m3 por ano.
Conforme a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), só seis plantas comercializam biometano no Brasil. Para 2029, conforme a gerente executiva da entidade, Tamar Roitman, prevê que 89 plantas entrem em operação em 2029.
Integram essas 89 as 7 com resíduos de cana em fase de implementação, com a devida autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Quais são essas 7 plantas em implementação?
- Zeg Biogás Aroeira SPE Ltda, em Tupaciguara (MG)
- Uisa Geo Biogás S. A., em Nova Olímpia (MT)
- Tropical Biogás Ltda., em Edéia (GO)
- Geo Elétrica Tamboara Bioenergia, em Tamboara (PR)
- Raízen-Geo Biogás Costa Pinto Ltda, em Piracicaba
- Bioenergética Santa Cruz Ltda, em Américo Brasiliense (SP)
- Adecoagro Vale do Ivinhema S. A., em Ivinhema (MS)
Além delas, há as plantas de biogás/biometano em fase de construção, caso da unidade da Cocal (leia abaixo).
Unidade de biogás e de biometano na unidade da Cocal em Narandiba (SP) - Crédito: Empresa
Segunda planta da Cocal deve iniciar operações em 2025
A sucroenergética Cocal é pioneira na distribuição de biometano como substituto de gás natural em Presidente Prudente, Narandiba e Pirapozinho no interior paulista.
Inaugurada em 2022, a planta, localizada junto à planta sucroenergética da Cocal em Narandiba, produz biogás 100% voltado para gerar biometano, por meio de parceria com a Geo Biogás & Tech.
Com capacidade de gerar até 25 mil metros cúbicos (m3) por día, a planta disponibiliza o biometano por meio de gasoduto operado pela Necta Gas (antiga GasBrasiliano), controlada pela Commit, que pertence a Compass (do grupo Cosan) e a Mitsui.
Além do gasoduto, o combustível renovável é entregue via GNC (cilindros transportados por meio de carretas), o que permite a comercialização do renovável também para clientes fora do acesso ao gasoduto.
Tem mais: o biometano também é usado para abastecer parte da frota da Cocal durante a safra, que vai de abril a dezembro.
“Na última, a safra 22/23, deixamos de utilizar 300 mil litros de diesel com a substituição pelo biometano e, no ciclo vigente, a expectativa é substituir 1 milhão de litros do derivado de petróleo”, relata André Gustavo Silva, diretor comercial e de novos produtos da companhia.
Essa substituição crescerá ainda mais porque a Cocal anunciou no começo de julho uma segunda planta de biogás e de biometano, desta vez em sua segunda unidade, localizada em Paraguaçu Paulista, também no interior paulista.
A previsão é de que ela entre em operação em abril de 2025.
Com a nova planta, “teremos dado mais um importante passo em busca de nos tornarmos uma empresa zero carbono do agronegócio”, destaca o diretor da Cocal.
Vale lembrar que após a produção do biogás, as matérias utilizadas no processo voltam para a área de produção como biofertilizantes.
Aqui, os benefícios são tanto ambientais como financeiros, já que o preço do fertilizante químico (substituído pelo biofertilizante), produzido em escala global pela Rússia, sofreu disparada de preço em 2022 com o início da guerra.