Chegou a hora do bioquerosene

 

Depois do etanol, do biodiesel e do biometano, o bioquerosene de aviação ganha destaque entre os biocombustíveis.

Redutor das emissões de carbono na indústria de aviação, ao ser empregado com aditivo do querosene, o bioquerosene também poderá ser contemplado no programa de estado RenovaBio.

Em vigor nesse fim de dezembro de 2019, o RenovaBio prevê a gradativa substituição dos poluentes combustíveis fósseis por biocombustíveis.

Para tanto, unidades produtoras podem buscar a certificação no programa e, assim, comercializar os créditos de descarbonização, os CBIOs.

A inserção do bioquerosene no RenovaBio, entretanto, depende de resolução da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responsável pela gestão normativa do programa de estado.

 

Estratégia de mercado

Apesar de esperar pela inserção no RenovaBio, a produção do biocombustível deverá deslanchar também por sua estratégia de mercado.

Antes de tudo, o bioQAV, como é chamado o bioquerosene, é um combustível renovável formado por uma mistura de hidrocarbonetos, tanto lineares quanto cíclicos, como uma composição semelhante do querosene de origem fóssil.

Assim como o etanol, ele pode ser adicionado ao querosene de aviação em proporções que podem chegar a 50%, segundo informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Diante a situação, obter custo menor na produção do renovável torna-se imperante diante o concorrente derivado de petróleo – e que também precisa ser importado.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, em 2018 o país importou 800 milhões de litros de querosene de aviação.

Esse montante representa 11% dos 7,2 bilhões de litros empregados naquele ano para abastecer as aeronaves.

As estimativas são de que o querosene de aviação no Brasil é um dos mais caros do mundo e representa 38% dos custos totais dos voos domésticos.

No restante do mundo o índice médio é de 28%.

 

Brasil tem potencial

“O Brasil tem grande potencial para a produção de bioquerosene para aviação”, destacou José Mauro Coelho, diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, durante congresso realizado em junho em Natal (RN).

Segundo ele, o bioquerosene renovável para aviação apresenta vantagem competitiva no caso brasileiro, pois trata-se de alternativa interessante para oferta descentralizada de combustíveis de aviação; diminuição dos custos logísticos no atendimento de áreas remotas; e redução de importações de energéticos fósseis e de emissões.

Atenta à situação, a Petrobras está entre as grandes empresas com aportes nesse biocombustível.

No começo de dezembro, a empresa anunciou seus planos de descarbonização e, entre eles, está o investimento anual de US$ 70 milhões em iniciativas de P&D como diesel renovável e bioQAV.

Assim como a Petrobras, outras empresas fazem gestões pela introdução do bioquerosene.

Elas são ancoradas por entidades como a Associação Brasileira das Empresas Aéreas e pela União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).

 

Rede brasileira

A mobilização ganha reforço com a implantação de rede brasileira do bioquerosene, anunciada no congresso do setor realizado em junho em Natal.

“As emissões dos transportes aéreos representam 2% do total das emissões de gases de estufa, precisamos substituir o querosene fóssil”, relata Edmundo Barbosa, presidente do Sindalcool-PB, entidade representativa de biocombustíveis na Paraíba.

Segundo ele, as estimativas apontam para uma produção de 7 bilhões de litros anuais de bioquerosene na próxima década.

É um mercado nascente que impulsiona o setor nacional de biocombustíveis.

 

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