Com bioinsumos, canaviais irão reduzir (ainda mais) a emissão de gases de efeito estufa  

Com bioinsumos, canaviais irão reduzir (ainda mais) a emissão de gases de efeito estufa

 

Trata-se de fertilizantes que, ao contrário dos  concorrentes químicos, reduzem o lançamento de poluentes na atmosfera

Foto: Freepik / Delcy Mac Cruz

Responsável pela produção de combustíveis renováveis como o etanol e o biometano, o setor sucroenergético também é reconhecido por seu potencial de reduzir a emissão de carbono (CO2). 

Essa redução se dá pela fotossíntese na cana-de-açúcar e, entre outros exemplos, pela produção do próprio etanol. 

Para se ter ideia, entre março de 2003, quando foram lançados no país os veículos flex, até março de 2021, o consumo do biocombustível virou a emissão de 552 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, destaca a Unica, entidade do setor. 

É um montante expressivo, se levarmos em conta que, em 2020, o país emitiu 3,2 milhões de toneladas de CO2 equivalente, segundo estudo do Ministério da Ciência e Tecnologia.

 

Avanço nas emissões de CO2

A boa nova é que o setor sucroenergético pode colaborar ainda mais com a redução dos gases causadores do aquecimento global. 

É que a cana-de-açúcar, principal matéria-prima do etanol, deverá ampliar o consumo de bioinsumos no lugar de fertilizantes químicos nitrogenados. 

O detalhe é que, ao contrário destes, o bioinsumo ajuda a diminuir as emissões de CO2. 

 

Maioria importado 

Tem, também, o peso na balança comercial. 

Composto químico cuja composição contém nitrogênio em grandes concentrações, o fertilizante químico é, em sua maioria, importado.

Sendo assim, além de pesar na balança comercial do país - que reflete exportações e importações -, essas compras tornam o Brasil dependente dos países fornecedores. 

 

Foco nas gramíneas

Assim como a cana, gramíneas como o milho - que também é matéria-prima do etanol -, arroz, trigo e pastagens entram na lista de ‘clientes’ do bioinsumo. 

Assim como o ‘concorrente’ químico, ele interfere positivamente no crescimento e no desenvolvimento da produção. 

Mas tem um detalhe: o emprego do biosinsumo em gramíneas pode fazer o Brasil economizar US$ 1,5 bilhão por ano, destaca o estudo estratégico “Bioinsumos como alternativa a fertilizantes químicos em gramíneas: uma análise sobre os aspectos de inovação do setor”.

 

Potencial de redução de CO2

Lançado em 24 de setembro pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o documento destaca, também, a possibilidade de redução de até 18,5 milhões de toneladas de emissões de CO₂ equivalentes.

Elaborado em parceria com a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) e o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, o trabalho dá o pontapé no Projeto Nitro+, que, segundo o Mapa, pretende elaborar uma estratégia para a ampliação do uso de tecnologias de inoculantes em gramíneas, aos moldes do que aconteceu com as leguminosas como a soja.

 

O que é mesmo bioinsumo? 

Conforme o estudo, bioinsumo pode ser compreendido não apenas como produto utilizado para combater pragas e/ou doenças, mas, também, como aquele destinado a aumentar a disponibilidade de nutrientes para as plantas, estimular o crescimento vegetal e melhorar a fertilidade do solo, incluindo bioestimulantes, biofertilizantes, condicionadores biológicos de ambientes e inoculantes microbianos.

“Estes insumos biológicos consistem em tecnologias verdes de alta eficiência, de menor custo e toxicidade ambiental, além de grande potencial para produção interna, contribuindo para o desenvolvimento da agricultura sustentável e do mercado agropecuário do país.”

 

Área atendida

Atualmente, relata o estudo, cerca de dez milhões de hectares de áreas cultivadas no país recebem algum tipo de bioinsumo para controle biológico de pragas. 

No ano de 2021, os bioinsumos utilizados no país movimentaram cerca de R$ 3 bilhões, sendo 78% deste valor relacionado ao uso de bionematicidas, bioinseticidas e biofungicidas, enquanto 22% foram relativos ao uso de inoculantes para melhora de crescimento.

 

Dificuldades

 

No entanto, o estudo lista uma série de dificuldades para o avanço dos bioinsumos. 

 

Exemplos:

 

  •  falta de investimentos para P&D a fim de alavancar as pesquisas e inovações na área; 

  • ausência de metodologias de estudo aplicadas a áreas tropicais, dificultando análises e estudos aprofundados do mecanismo de ação e eficácia das tecnologias/produtos/processos desenvolvidos;

  • precariedade em conhecimento e inexistência de equipamentos mais adequados à escalabilidade de produção e manejo em campo de produtos biológicos; 

  • escassez de estudos relacionados a sequenciamento, e melhoramento genético

  • dificuldade de registro de produtos e necessidade de regulamentação própria para bioinsumos; 

  • falta de incentivos fiscais específicos para produção de bioinsumos.



Exemplo da iniciativa privada

Em que pesem os desafios para o avanço dos bioinsumos pela ação pública, a iniciativa privada caminha pelas próprias pernas. 

Veja o exemplo da Tereos, produtora de açúcar, etanol e bioenergia, e a Koppert, especialista em controle biológico.

As duas assinaram em 20 de setembro um acordo inédito de longo prazo para pesquisa e desenvolvimento de insumos biológicos. 

Segundo comunicado da Tereos, o contrato de três anos também reafirma a manutenção de fornecimento de insumos da Koppert para a Tereos, como já prevê atualmente a parceria entre as duas empresas.

Além disso, pelo acordo, a Tereos terá participação no centro avançado de pesquisa SparcBio (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control), mantido pela Koppert, Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Universidade de São Paulo, por meio da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/USP, em Piracicaba, garantindo o acesso a novas soluções desenvolvidas no espaço.