Como os biocombustíveis fazem do Brasil exemplo mundial de descarbonização na COP 27
Por Delcy Mac Cruz
Peso da eletricidade renovável também favorece o país na briga contra o aquecimento global
Crédito de imagem: UDOP
O Egito sedia até dia 18 deste mês de novembro a 27ª edição da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 27).
É a mais importante conferência global para discutir o futuro do planeta sob a perspectiva dos impactos da mudança do clima e os compromissos para a redução do aquecimento global, caso dos gases de efeito estufa (GEEs).
Ao longo dos dias do evento, são esperados representantes dos 193 países que em 2015, na COP 21, assumiram formalmente o compromisso de minimizar as emissões e, assim, reduzir a temperatura global em 2,5 graus Celsius até o fim do presente século.
Não se sabe se a redução será cumprida nos próximos 77 anos. Isso porque entre 2015 e hoje dois eventos globais são pra lá de desafiadores: a pandemia de Covid 19 e a guerra Ucrânia-Rússia.
Como se sabe, ambos eventos promoveram alterações globais que impediram a plena execução de metas assumidas para reduzir as emissões.
Exemplo nesta linha: para enfrentar o inverno, países europeus reativaram geradores movidos a combustíveis fósseis diante a escassez na oferta de gás natural pela Rússia.
Até então, o gás russo era a principal fonte dos geradores empregados para o aquecimento.
Entretanto, não é possível quantificar por ora os resultados da reativação de derivados de petróleo porque, por precaução, a Europa promoveu grandes estoques de gás (leia mais aqui).
O caso da Europa se soma ao da China, que enfrenta instabilidade econômica cujos impactos ainda são mundialmente aguardados.
Biocombustíveis na bagagem da descarbonização
Em meio a tudo isso, o Brasil participa da COP 27 com bons exemplos que atestam seu compromisso firmado na versão 21 da Conferência.
É que na bagagem representantes brasileiros levam os resultados práticos da redução de emissões de GEEs ao longo dos últimos anos.
E quem responde por tais resultados?
São vários, incluindo biocombustíveis como etanol e biodiesel e energias renováveis, caso das fontes hidrelétrica, biomassa, solar e eólica.
Vamos a relatos que atestam tais resultados.
Levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) destaca que entre março de 2003, data de lançamento da tecnologia flex, e abril de 2021, o consumo de etanol evitou a emissão de mais de 556 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Pois esse montante, conforme a UNICA, equivale às emissões anuais somadas de Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia e Uruguai.
Outro exemplo vem com o biodiesel, combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais.
Ele é adicionado ao óleo diesel atualmente na proporção de 10%.
No entanto, estudo da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) estima que se abastecer a frota urbana de ônibus com óleo diesel com 20% de biodiesel (B20), as 40 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes podem reduzir em até 70% as emissões de CO2.
A força da biomassa na eletricidade
Exemplo também vigoroso em favor do Brasil é a eletricidade renovável, formada pelas fontes hidráulica, eólica, solar e térmica, quando essa inclui a biomassa. Vale lembrar que ela também pode ser gerada por fontes emissoras como óleos e carvão.
Em tempo: pelo menos metade da térmica ou termelétrica é produzida por biomassa. E 80% dessa vem da cana-de-açúcar.
Antes de seguir adiante, veja o peso da energia renovável na matriz energética. Em termos de geração, a hidráulica, solar, eólica e térmica representam mais de 80%.
É o que revela o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) com o volume acumulado de megawatts-hora médio até a tarde do dia 03 de novembro.
Tirando a participação nuclear (3,3%) e parte da térmica movida a fósseis e a geração é mais de 90% renovável, conforme imagem da ONS:
Crédito de imagem: Divulgação
Bioeletricidade e RenovaBio
Não para por aí.
Em termos de redução de emissões, a eletricidade feita de biomassa de cana, chamada de bioeletricidade, gera bons resultados.
Em 2021, o setor sucroenergético produziu 20,2 milhões de megawatts-hora (MWh) para a rede nacional de energia.
Esse saldo equivale a 30,4% da geração de energia pela Usina Itaipu naquele ano.
Já em redução de CO2, a geração de bioeletricidade foi equivalente à diminuição de emissões do dióxido de carbono estimadas em 7 milhões de toneladas.
“Essa marca somente seria atingida com o cultivo de 49 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos”, compara em artigo Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da UNICA.
Os produtores de biocombustíveis (etanol e biodiesel à frente) têm outra relevância quando se trata de programa brasileiro contra a descarbonização.
Trata-se do RenovaBio, política de Estado que reconhece o papel estratégico de todos os biocombustíveis na matriz energética brasileira no que se refere também à mitigação de gases GEEs.
“Há cinco anos construímos, a várias mãos, o maior programa de descarbonização da matriz de transportes do mundo”, relata Evandro Gussi, presidente da UNICA, referindo-se ao RenovaBio.
O programa contempla os créditos de descarbonização (Cbios): cada um deles equivale a uma tonelada de carbono que deixa de ser emitida.
Esse título é adquirido de forma obrigatória pelas distribuidoras de combustíveis, para compensar as emissões da gasolina e do diesel, mas também está disponível no chamado mercado voluntário.
Para se ter ideia, em 2023 o Ministério do Meio Ambiente propõe a redução de 35,4 milhões de toneladas de carbono no escopo do RenovaBio.
É um exemplo a mais que atesta a estratégia dos biocombustíveis na liderança global do Brasil em descarbonização.