Como os biocombustíveis podem evitar metade das emissões de CO2 em apenas seis anos

Como os biocombustíveis podem evitar metade das emissões de CO2 em apenas seis anos

Estratégia do emprego de etanol, biodiesel e biometano é confirmada em relatório da IEA e da FAPESP

O uso de biocombustíveis como etanol, biodiesel e biometano nos transportes é a solução para se conseguir cumprir metade da meta de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEEs), causadores do aquecimento global. 

 

Não é novidade dizer que o emprego de biocombustíveis é estratégico. 

 

Mas relatório recente sobre o potencial dos biocombustíveis na redução de GEEs atesta que o uso de biodiesel, etanol e biometano no transporte no Brasil e em mais outros dez países emergentes - China, Índia e África do Sul, entre outros - pode evitar a emissão de 300 a 400 milhões de toneladas de carbono (CO2) até 2030. 

 

Com isso, esse bloco de países contribuiria com quase a metade da meta estipulada pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) de reduzir as emissões de 800 milhões de toneladas desse gás pelo setor de transporte global nos próximos seis anos. 

 

Publicação da Agência FAPESP destaca que o relatório foi realizado por força-tarefa sobre bioenergia da IEA, liderada por pesquisadores vinculados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN). 

 

Em tempo: o estudo foi lançado durante a Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2024, que ocorreu entre 22 e 24 de outubro, em São Paulo.

 

Renováveis no lugar de fósseis

 

Conforme Glaucia Mendes Souza, coordenadora do BIOEN e autora-líder do estudo, “é possível que esses [11] países emergentes reduzam a pegada de carbono de seus setores de transporte em até 84% ao substituir combustíveis fósseis por renováveis.”

 

30% da produção global

 

Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala, sob a liderança brasileira, têm participação de 30% na produção global de biocombustíveis, conforme relatório dos pesquisadores publicado em 2023. 

 

Essa participação corresponde à redução de 62 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano. 

 

Há terra disponível

 

No caso de ampliar o uso de biocombustíveis, que exigem cultivos de cana-de-açúcar e de milho (no caso do etanol) e de soja (caso do biodiesel), a autora-líder do estudo destaca haver terra suficiente. 

 

E, assim, não é preciso concorrer com o plantio de alimentos ou avançar sobre áreas de floresta. 

 

“Há muita terra disponível nessa região, especialmente voltada para pastagem, que poderia ser usada para a expansão da bioenergia nesses países”, afirmou Souza para a Agência FAPESP.

 

“Se quiserem duplicar a produção de biocombustíveis e, dessa forma, contribuir para evitar a emissão de 120 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, esses países teriam de converter apenas 5% de suas áreas de pastagens”, estimou.

 

Produção em outros países

 

E como ofertar biocombustíveis globalmente?

Segundo os pesquisadores, outros países emergentes também têm disponibilidade de terra e poderiam replicar o modelo de produção de bioenergia implantado na América Latina.

 

Aqui entram China, Etiópia, Índia, Indonésia, Malásia, África do Sul e Tailândia.

 

“A produção global de biocombustíveis hoje é de cerca de 160 bilhões de litros, o que equivale a cerca de 4% de toda a demanda do setor de transporte”, avaliou no evento Bharadwaj Kummamuru, diretor-executivo da World Bioenergy Association (WBA), da Suécia.

 

“E as projeções da Agência Internacional de Energia indicam que será preciso triplicar o volume nos próximos cinco a sete anos. Para isso, os países emergentes, especialmente no Sul Global, deverão exercer um papel crucial”.