Depois do biogás e do biometano, entra em cena o bioquerosene feito de cana

Por Delcy Mac Cruz

Pelo menos três projetos de produção estão em fase de desenvolvimento no país.

Crédito da imagem: UDOP/Divulgação

Entre os renováveis mais recentes feitos da cana-de-açúcar, o biogás e o biometano estão em produção e têm empreendimentos em fase de implantação no Brasil. 

No caso do biometano (que pode substituir o gás natural), a ANP relata que há 8 usinas de biometano de resíduos de cana autorizadas e em fase de andamento no país. 

Já no caso do biogás (empregado como eletricidade ou para gerar biometano), o número de plantas em atuação ou em planejamento passa de 40. 

Agora é vez de outro ‘filhote’ do setor sucroenergético entrar em cena produtiva: o bioquerosene de aviação, ou BioQAV (saiba mais a respeito aqui).

Conhecido também como SAF (Sustainable Aviation Fuels ou Combustíveis Sustentáveis de Aviação), ele pode ser adicionado ao querosene de aviação (QAV) sem a necessidade de ajuste dos motores.

Além disso, oferece pelo menos dois resultados estratégicos: ao contrário do derivado de petróleo, o BioQAV reduz as emissões de gases poluentes, e ajuda a balança comercial do país, porque reduz as importações necessárias do combustível de aviação.

O país conta com pelo menos três projetos de produção de BioQAV em fase de desenvolvimento.

Conheça sobre esses projetos.

Ecossistema de produção

Com o objetivo de reforçar a agenda de sustentabilidade, a fabricante de aeronaves Embraer e a Raízen, joint-venture da Cosan e da Shell, empreendem o desenvolvimento de um ecossistema de produção de SAF. 

Conforme Carta de Intenções formalizada entre as duas companhias em julho de 2022, o objetivo é tornar a Embraer na primeira fabricante de aeronaves a consumir BioQAV a ser distribuído pela Raízen. 

Em termos ambientais, a Embraer prevê reduzir mais de 60% das emissões nas operações da empresa com a adição do SAF.

Enfim, a expectativa é que a Raízen contribua para que a Embraer atinja a meta de ter misturas de SAF representando 100% do seu consumo de combustível no Brasil até 2030. (leia aqui mais a respeito). 

Com aporte dos EUA

Já a GranBio, produtora de etanol celulósico, entra na produção de SAF com aporte financeiro do governo dos EUA. 

No caso, a companhia, por meio de subsidiária, obteve uma subvenção de US$ 80 milhões do Departamento de Energia (DOE) para implantar a planta demonstrativa. 

Conforme o relato do DOE (leia aqui), os recursos financeiros somam US$ 118 milhões em financiamento a 17 projetos, entre eles o da subsidiária ligada a GranBio. 

Os projetos contribuirão “para atingir a meta do DOE de alcançar biocombustíveis com custos competitivos e pelo menos 70% de redução nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030.”

Em entrevistas, o presidente da GranBio, Bernardo Gradin, atesta que a previsão é de que a planta entre em operação em 2026. 

SAF a partir de biogás

Por sua vez, a Geo Biogás & Tech espera iniciar em 2024 as operações de planta-piloto em Tamboara (PR). 

Fruto de investimentos de R$ 15 milhões da Finep e da empresa, a planta terá capacidade inicial de produzir 660 litros diários de combustível sustentável de aviação. 

No caso dessa unidade, as matérias-primas são vinhaça e torta de filtro, ambas já empregadas pela Geo em plantas de produção de biogás que possui em funcionamento ou em fase de implantação. 

Vale destacar que aqui a rota de produção é a Fischer-Tropsch (FT), onde o vapor do gás renovável gera hidrogênio, eliminando a necessidade de investimentos em eletrólise - o que reduz o consumo energético. 

Enfim, a FT, conforme a Geo, já é aprovada internacionalmente para uso em aeronaves, mas ainda não conseguiu obter mercado. 

Ainda. 

Isso porque só não ganhou mercado pela disponibilidade internacional de biogás, matéria-prima que o Brasil tem de sobra por meio da cana-de-açúcar.