Depois da cana e do milho, etanol tem novas matérias-primas: soja, sorgo, arroz e até batata doce

Produção a partir dessas fontes é estratégica para atender o consumidor regional distante dos polos produtivos.

Crédito da imagem: Udop

A produção brasileira de etanol se prepara para ampliar as  fontes. Entram em cena o melaço da leguminosa soja, o cereal sorgo, a gramínea arroz e o tubérculo batata doce. 

Não se trata aqui de projeções ou estudos: as matérias-primas já possuem plantas industriais autorizadas ou em aprovação pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).  

Além disso, desde 2021 a  CJ Selecta S. A. produz etanol de soja em sua usina em Araguari (MG). No caso, a companhia pode fabricar até 30 mil litros de etanol hidratado (veículos flex) por dia. 

Antes de mais nada, vale destacar que essas ‘novas’ fontes não irão tirar o ‘trono’ da cana-de-açúcar. Vale lembrar que as primeiras experiências produtivas com essa gramínea datam de 1920, ou seja, há 123 anos. 

Já a produção anual de etanol de cana passa hoje de 26 bilhões de litros, segundo estimativa da Conab, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 

Tem também o ascendente milho. Os primeiros litros de etanol feito do cereal foram fabricados em 2013. 

De lá para cá, foi salto produtivo atrás de salto produtivo. Não é à toa que já em 2022, conforme a Conab, a produção a partir do cereal superou a casa de 4,5 bilhões de litros. 

Diante disso, cana e milho seguirão protagonistas em um setor sucroenergético que abre as portas para novas matérias-primas. 

Novas fontes reduzem custos logísticos

Essa abertura de portas é bem estratégica porque as matérias-primas são, por exemplo, produzidas em regiões do Rio Grande do Sul, distantes de estados que são polos produtores do biocombustível. 

Desta forma, o custo logístico de fazer o etanol hidratado chegar aos municípios gaúchos é bem maior do que entregar o biocombustível em postos de São Paulo e de Minas Gerais, estados que, juntos, somam mais de 200 usinas produtoras. 

Menos ‘dependência’

Além disso, a produção localizada deixa o consumidor regional menos ‘dependente’. 

Exemplo: as cinco plantas produtoras autorizadas ou com projetos em andamento na ANP deverão inicialmente ofertar 68,2 mil litros por dia. Some-se, aí, os 30 mil litros diários da usina de Araguari e o total vai a 98,2 mil litros por dia. 

Tem aí um detalhe: assim como o milho, as novas fontes podem ser produzidas ou estocadas o ano todo, ao contrário da cana, cujo ciclo produtivo médio é de 210 dias.

Sendo assim, se houver produção nos 365 dias do ano, os 98,2 mil litros se transformam em 36 milhões de litros. 

Tal volume certamente pesa na oferta e, assim, pode puxar os preços ao consumidor para baixo. 

Vale destacar que, segundo fontes a par do tema, a produção de matérias-primas será feita exclusivamente para as plantas de etanol, sem utilizar um grão de soja ou um pé de arroz hoje destinados ao mercado. 

Conforme essas fontes, há hoje tecnologias produtivas de ponta que ampliam a produtividade sem a necessidade de crescer as áreas plantadas. 

E quem são as plantas industriais já oficialmente cadastradas para fazer etanol a partir de melaço de soja, sorgo, arroz e de batata doce? 

Confira a seguir: 

Novas usinas

Não para por aí. 

A partir deste ano a Caramuru Alimentos deverá ofertar etanol de soja a partir de sua planta industrial em Sorriso (MT). A capacidade de produção é de 9 milhões de litros por ano. 

Já a Olfar Alimentos pretende implantar unidade produtora de biocombustível de melaço de soja no Rio Grande do Sul. A previsão é de que a produção comece em 2024 com a previsão de chegar a 12 milhões de litros por ano.