Gás renovável da cana, o biometano chega de vez ao mercado

Por Delcy Mac Cruz

Distribuição a consumidores de cidades do interior paulista pode começar nos dias da Fenasucro 

Créditos de imagem: GasBrasiliano/Divulgação 

O gás verde ou renovável da cana-de-açúcar está em vias de começar a ser distribuído em Presidente Prudente e municípios vizinhos no interior paulista.

Também chamado de biometano, o gás atesta fato inédito e representa uma nova e vigorosa fronteira do setor sucroenergético.

Depois do açúcar, etanol, álcool para fins industriais e do bactericida - caso do álcool 70 -, além da bioeletricidade, entram de vez no mercado nacional o biogás e sua conversão em biometano.

Feito a partir de subprodutos do setor como vinhaça e torta de filtro, o biogás é transformado em energia elétrica e, se todas as usinas o produzirem, teremos uma oferta de 19,5 gigawatts (GW), ou 10,5% da atual capacidade de eletricidade do país, conforme a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.

Além disso, o biogás, em sua versão purificada, é transformado em biometano.

Esse pode simplesmente substituir motores a gás natural veicular (GNV) e mesmo o gás encanado e, assim, oferecer garantia de suprimento e ajudar o país a reduzir as importações de gás. Sim, porque com mais motores a gás não será preciso consumir tanto óleo diesel e dará para cortar as importações necessárias para atender a demanda.

Emissões zero de carbono

Mas é no tocante ao gás encanado que entram Presidente Prudente e cidades vizinhas. 

Na segunda quinzena de agosto, quando será realizada a principal feira mundial do setor sucroenergético, a Fenasucro, entre os dias 16 a 19, é bem possível que esteja no fim a ativação de todos os equipamentos e tecnologias necessárias para a inserção do biometano na rede.

Ou seja, é provável que antes da Fenasucro ser encerrada os moradores já comecem a receber biometano em suas residências.

Para tanto, será preciso concluir o chamado período de comissionamento da rede, estágio no qual se garante que toda a operação estará apta a ser iniciada com total segurança.

Em todo caso, trata-se de projeto pioneiro no país que irá abastecer a região de Presidente Prudente, que também será referência nacional em sustentabilidade.

Vale lembrar que além de garantir o suprimento e reduzir importações, o biometano ajuda o Brasil a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2).

Em termos comparativos, enquanto o gás natural veicular emitir mais de 80 gramas de CO2 equivalente por megajoule (gCO2eq/MJ), o biometano tem emissão negativa de algo em torno de - 20 gCO2eq/MJ, segundo relato da ABiogás.

Como funcionará o abastecimento?

Presidente Prudente, Pirapozinho e Narandiba, cidades do interior paulista, integram o projeto “Cidades Sustentáveis”.

Participam dele a concessionária pública de distribuição de gás canalizado GasBrasiliano, cujo controle é da Compass Gás Energia, do Grupo Cosan, e a companhia sucroenergética Cocal, com unidades produtoras em Paraguaçu Paulista e em Narandiba.

É na unidade de Narandiba que a Cocal produzirá biometano, cuja oferta poderá chegar a 25 mil metros cúbicos (m3) por dia. Esse será injetado em gasoduto para distribuição construído e gerido pela GasBrasiliano.

O projeto, que conta com a parceria da Secretaria de Infraestrutura do Estado de São Paulo, contempla 51 quilômetros de tubulação em aço para interligar a fonte de suprimento (a usina localizada em Narandiba) ao mercado consumidor (Narandiba, Pirapozinho e Presidente Prudente).

Há, também, mais 14,5 quilômetros de tubulação em polietileno para a conexão ao mercado industrial, comercial, residencial e veicular localizados nas áreas urbanas destes municípios.

O investimento total no projeto foi de R$ 180 milhões, sendo R$ 30 milhões da GasBrasiliano para construção da rede de distribuição e R$ 150 milhões da Cocal na construção da planta para a produção de biometano.

No mais, entre seu lançamento e implantação, o “Cidades Sustentáveis” levou apenas três anos, já que foi anunciado em 2019 em Ribeirão Preto.

“É um projeto totalmente inovador, que promoverá diversidade energética, competitividade à indústria e fomento à expansão da rede em outras regiões”, explicou em nota Alex Gasparetto, então diretor presidente da GasBrasiliano. No caso, a empresa divulgava a conclusão das obras conforme o cronograma.

“Esse projeto destaca o compromisso da Cocal com os valores ESG (Ambiental, Social e Governança) em busca da descarbonização da matriz energética brasileira. O biometano é um gás verde que representa mais uma contribuição, além do etanol, em prol do meio ambiente, afirma na nota Paulo Zanetti, diretor superintendente da Cocal.

Além da Cocal e da GasBrasiliano, o setor sucroenergético como um todo têm motivos de sobra para celebrar a implantação do projeto que consolida mais uma etapa de novos produtos sustentáveis da cana-de-açúcar.