Hidrogênio a partir do etanol deve chegar ao mercado já em 2023
Por Delcy Mac Cruz
Desenvolvimento do renovável é feito pela Raízen, Shell, Hytron, USP e Senai
Créditos de imagem: Copersucar
A partir de 2023, o campus da USP, na capital paulista, dará um exemplo global de descarbonização no transporte público.
É que está previsto no próximo ano o início da operação de estação de abastecimento de hidrogênio para os ônibus que circulam na Cidade Universitária.
Com a estação, sairá de cena o poluente óleo diesel, que hoje abastece os veículos, e entra o hidrogênio, com baixa emissão de dióxido de carbono (CO2), um dos formadores dos gases de efeito estufa (GEEs) que, por sua vez, fortalecem o aquecimento global.
Em tempo: será o primeiro posto de hidrogênio renovável do mundo.
“São grandes iniciativas como essa que incrementam todo um ecossistema de inovação, levando a USP a um novo patamar em relação ao desenvolvimento sustentável”, afirmou o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior durante cerimônia de lançamento de acordo de cooperação entre a instituição, o Senai e empresas.
Sim, é motivo de celebração para a USP em desenvolvimento sustentável. Mas é, também, para o Senai CETIQT e as empresas participantes da iniciativa: a petrolífera Shell Brasil, a sucroenergética Raízen (joint venture entre Shell e Cosan) e a especializada em soluções energéticas Hytron, controlada pela alemã Neuman & Esser.
Geração a partir do etanol
O acordo já é destaque internacional porque prevê a geração de hidrogênio (H2) produzido a partir do etanol e motores equipados com células a combustível (fuel cell).
Assim, além dos ônibus da USP, a iniciativa surge como uma solução de baixo carbono para o transporte pesado, incluindo caminhões e ônibus.
A parceria prevê a construção de duas plantas dedicadas à produção de hidrogênio a partir do etanol e o posto de abastecimento veicular para os ônibus que circulam pela Cidade Universitária.
Como funciona este hidrogênio renovável?
Energia Que Fala Com Você responde à pergunta com destaques sobre a novidade com informações de conteúdo de
Erika Yamamoto, na website Jornal da USP.
As duas plantas a serem construídas serão dedicadas à tecnologia de produção de hidrogênio a partir do etanol. Uma terá capacidade para produzir 5 kg/h de hidrogênio e a outra, quase 10 vezes maior, com capacidade de 44,5 kg/h.
A fórmula química do etanol — C2H5OH — mostra que ele tem bastante hidrogênio, destaca a EPBR..
De acordo com cálculos do setor, 7,6 litros de etanol são capazes de gerar 1kg de hidrogênio.
Segundo o professor da Escola Politécnica (Poli) e diretor-geral do Research Centre for Gas Innovation (RCGI), Julio Meneghini, o hidrogênio a partir de etanol será produzido de forma inovadora.
Vale destacar que a RCGI, com sede na Poli, é um centro de pesquisa em engenharia que desenvolve pesquisas voltadas para o uso sustentável de gás natural, biogás, hidrogênio, gestão, transporte, armazenamento e uso de CO2.
De volta ao hidrogênio verde: o etanol será fornecido pela Raízen, enquanto o desenvolvimento e a fabricação da tecnologia caberá à Hytron.
Por sua vez, o Senai CETIQT entra com suporte técnico.
Já a Shell participa com o financiamento anunciado de R$ 50 milhões por meio da cláusula de P&D da ANP, destaca a EPBR.
Resposta logística
Atualmente, o hidrogênio tem uso predominante na indústria química e é produzido em unidades industriais próximas a refinarias a partir do gás natural.
No futuro, existe a expectativa que o H2 produzido a partir de energia elétrica renovável, como solar e eólica, terá um papel importante para a descarbonização de vários setores industriais e de transporte pesado.
Porém, o transporte deste produto é complexo, pois exige a compressão ou liquefação para armazenamento em cilindros ou em carretas, encarecendo a logística, relata a Raízen.
Neste cenário, a produção do hidrogênio via conversão do etanol representa um avanço na disponibilidade de combustíveis renováveis por meio de uma nova rota tecnológica para expansão de soluções sustentáveis no País e no mundo.
“Esta iniciativa é pioneira na produção de hidrogênio renovável, em grande escala, a partir do etanol” sintetiza Julio Romano Meneghini, diretor-executivo e científico do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI) da USP.
“A tecnologia [do hidrogênio renovável] pode ser facilmente instalada em postos de combustíveis convencionais, o que não exigiria mudanças na infraestrutura de distribuição, garantindo que o hidrogênio estará pronto para abastecer os veículos de forma rápida e segura”, explica Alexandre Breda, gerente de Tecnologia em Baixo Carbono da Shell Brasil.
Busca de outros setores
“A produção local, descentralizada e de baixo investimento de hidrogênio renovável por meio da reforma do etanol, é uma alternativa interessante para setores como o de transporte pesado, que tem uma perspectiva de crescimento expressiva na utilização dessa solução, cuja disponibilidade e escalabilidade são essenciais”, aponta Mateus Lopes, diretor de Transição Energética e Investimentos da Raízen.
“Além de transporte pesado, neste momento, estamos buscando parceiros que possuem interesse em aplicar esta tecnologia para a descarbonização de outros setores.”
Desta forma, será criado um mercado para o H2 de etanol.
“O uso do hidrogênio verde não está restrito ao setor de transporte e beneficiará outros segmentos do país, no que diz respeito à substituição de fontes de energia fóssil”, relata o executivo da Shell.
Enfim, a produção de hidrogênio a partir de bioenergia, como etanol e biogás, está prevista no Programa Nacional do Hidrogênio, do governo federal, cujas diretrizes foram lançadas há pouco mais de um ano.