Limpo, o biogás avança no Brasil a partir de subprodutos da cana

 

O biogás entra de vez no mercado brasileiro como fonte limpa de geração de eletricidade ou transformado em biometano, similar ao gás natural e substituto renovável do poluente óleo diesel. 

Oficialmente, o biogás ganhou escala comercial em outubro deste ano, quando a  Raízen, joint-venture da Shell e da Cosan, inaugurou unidade após ter sido liberada pela Aneel a iniciar a operação comercial de três turbinas de energia elétrica de planta localizada em sua Usina Bonfim, em Guariba (SP).

O que chama a atenção é que toda essa energia elétrica tem como matéria-prima biogás produzido a partir de vinhaça e de torta, resíduos do processo industrial da usina de cana-de-açúcar.

A planta geradora pertence a Raízen e a Geo Energética e fornecerá a maioria da eletricidade para o governo federal em contrato vencido em leilão público de 25 anos.

Por sua vez, a planta da Usina Bonfim já é referência mundial do setor sucroenergético porque é a primeira do mundo a vencer leilão público com eletricidade de biogás de cana-de-açúcar e seus resíduos. A capacidade instalada da planta é de 21 megawatts (MW). 

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Tereos investirá em produção de biogás de cana 

Assim como a Usina Bonfim, outras empresas sucroenergéticas anunciam empreendimentos de biogás a partir de subprodutos da cana. 

É o caso, por exemplo, do Grupo Tereos, controlador de sete usinas de cana no interior paulista.

De origem francesa, a Tereos já produz biogás desde 2019 por meio da controlada Tereos Amido & Adoçantes, empresa de processamento de milho e mandioca na qual foram investidos R$ 15 milhões na compra de biodigestor e na modernização do sistema de tratamento de efluentes que reutiliza resíduos orgânicos. 

São esses resíduos que fazem o biodigestor gerar biogás. Com esse, segundo a Tereos, é reduzido em até 20% a compra de biomassa para gerar vapor empregado como energia nos processos industriais. 

Agora, a Tereos se uniu às brasileiras Zeg Biogás e Zeg Renováveis para estudar a viabilidade econômica da produção de biogás através do aproveitamento da vinhaça proveniente pela unidade produtora Cruz Alta, usina do grupo francês localizada em Olímpia, no interior paulista. 

Uma vez confirmada a viabilidade, as empresas têm planos para constituir uma Sociedade de Propósito Específico SPE) com objetivos de comercializar biocombustíveis e eletricidade.

O acordo foi celebrado em abril deste ano, porém tornou-se público no dia 19 de outubro, após a avaliação e publicação do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) no Diário Oficial da União (DOU).

A composição acionária a ser constituída serão de 51% para a Tereos AEB e de 49% para a Zeg Biogás e Zeg Renováveis, em conjunto. Para o CADE, a operação pode ser classificada como uma joint venture concentracionista por envolver parcialmente as atividades de ambas as empresas. Clique aqui para mais informações. 

Não para por aí. 

Geo, que é sócia da unidade de biogás da Usina Bonfim, é pioneira na produção do produto renovável a partir de subprodutos da cana. 

Ela operacionaliza planta de biogás junto a usina de cana-de-açúcar da cooperativa Coopcana no interior do Paraná.

“A planta na Coopcana começou com uma unidade de demonstração tecnológica de biodigestão de torta, vinhaça e palha de cana”, relata ao Energia Que Fala Com Você Alessandro Gardemann, diretor da Geo. 

Tem mais. Em 19 de outubro o BNDES anunciou a aprovação de financiamento de R$ 21,9 milhões à Geo Elétrica Tamboara para ampliação de planta de planta de biogás a partir da vinhaça. 

A capacidade de geração da planta da empresa, localizada no município de Tamboara, no noroeste do Paraná, será ampliada em 123%, chegando a 59,85 GWh por ano em 2022. 

Desse total, cerca de 50 GWh serão distribuídos para o sistema interligado de energia, volume capaz de atender ao consumo anual de cerca de 25 mil residências, contribuindo para o incremento da segurança energética no país a partir de uma matriz renovável. 

A previsão da companhia é que a ampliação da planta fique pronta em 2022. Estima-se que o projeto seja capaz de evitar a emissão de 90,2 toneladas de gases do efeito estufa (GEEs) ao ano. O cálculo leva em consideração o volume de dióxido de carbono que seria lançado na atmosfera caso a vinhaça fosse descartada na natureza.

 

Leia também: Biogás da cana chega de vez ao mercado

 

Biogás tem potencial gigantesco

O biogás biogás de cana-de-açúcar foi tema de webinar realizado em 04 de junho último pela Fenasucro (clique aqui para ler a respeito).

Os participantes desse encontro virtual foram unânimes em concordar que o biogás de cana-de-açúcar entra em cena como novo produto do setor sucroenergético. E chega com potencial gigantesco de crescimento.

Alexandre Gardemann, da Geo, afirma ao Energia Que Fala Com Você que a produção de biogás é viável até mesmo para usinas de menor porte, com moagem a partir de 1 milhão de toneladas de cana por safra (período produtivo entre abril a dezembro).

Daniel Rossi, diretor da ZEG Biogás, concorda com Gardemann. Em entrevista a este canal de notícias, ele destaca que os investimentos em uma planta de biogás em usina de 1 milhão de toneladas de cana ficam entre R$ 15 milhões a R$ 20 milhões.

Gardemann, da Geo, lembrou, no webinar, que o biogás tem 6 milhões de anos.

“O segredo, hoje, é que o mundo é outro”, disse. “O gás avançou e, no Brasil, existe uma escala na qual o biogás pode se tornar competitivo diante o gás.

A cadeia do biogás se desenvolve. “Há R$ 400 milhões investidos no setor sucroenergético e os 3 projetos (Coopcana, Raízen e Cocal) têm flexibilidades de atuar em vários mercados: vender em posto, gerar energia em leilão, Geração Distribuída (GD) e no mercado livre”, destacou.

“Tudo é factível no biogás e traz flexibilidade e soluções”, disse. Citou, como exemplo, que se pode pensar em planta híbrida solar-biogás. “Dá para armazenar biomassa para passar o ano inteiro e guardar o biogás por 24 horas de maneira barata.”

 

A aposta da ZEG e da Vivo no biogás

Assim como a cana fornece matéria-prima para produzir biogás, ele também pode ser processado por outras fontes. 

Exemplos dessas fontes são os resíduos sólidos e dejetos animais. É com eles, por exemplo, que o grupo Capitale Energia, especializado em comercialização de energia, planeja investir R$ 500 milhões no negócio de biogás nos próximos dois anos. 

A meta da companhia é alcançar uma capacidade de produção de 1 milhão de metros cúbicos diários de biometano (gás natural renovável produzido a partir de resíduos sólidos ou dejetos de animais), o equivalente a quase 1% de toda a produção de gás natural do país, até o fim de 2021.

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Ainda em outubro, a operadora Vivo anunciou ao mercado que passará a produzir sua própria energia para atender às suas unidades em todo o Brasil. O plano da empresa prevê um modelo de geração distribuída, que utilizará fontes renováveis de origem solar (61%), hídrica (30%) e de biogás (9%). O estado de Pernambuco será contemplado com uma usina de biogás, o que promete movimentar a economia durante o projeto de instalação. O município contemplado será Caruaru e a empresa responsável é a Gera Energia Brasil.

A expectativa é que até o final do primeiro semestre de 2021, todas as regiões do Brasil tenham ao menos uma usina para abastecimento próprio em operação. 

A Vivo tornou seu consumo totalmente renovável a partir de novembro de 2018, quando migrou de um cenário com consumo de 26% de energia proveniente de fontes renováveis – obtidas tanto no mercado livre como em geração distribuída – para 100%, por meio da aquisição de certificados de energia, os I-RECs (International Renewable Energy Certificates) de fonte eólica para o restante do consumo de energia elétrica.

Em 2019, a energia proveniente de fontes renováveis permitiu à Vivo reduzir 50% de suas emissões diretas e indiretas de CO2 e viabilizou à empresa neutralizar suas emissões dos gases causadores do efeito estufa. Com a expansão da Geração Distribuída, a Vivo tem expectativa de reduzir a aquisição de certificados nos próximos anos.  

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