Na contramão dos elétricos, montadoras investem em modelos flex no Brasil
Por Delcy Mac Cruz
Quatro delas anunciaram aportes no Brasil e os ganhos ambientais do etanol estão entre os motivos
Créditos de imagem: Copersucar
Nem veículos elétricos e nem movidos a eletricidade ou a combustível, chamados de híbridos…
No Brasil, as 4 montadoras que anunciaram investimentos estão focadas em modelos com motores a combustão (gasolina e etanol).
Mas isto não soa um contrassenso, na medida em que os elétricos avançam mundo afora? Limpos em emissões de carbono, esses modelos detêm tecnologia de ponta e de fato crescem em vendas globais. No entanto, em termos ambientais, a realidade brasileira favorece os biocombustíveis.
É que há 48 anos o país detém a tecnologia do álcool combustível, criada pelo Proálcool. E há 19 anos ostenta a tecnologia flex, na qual o motor roda com etanol hidratado ou com gasolina composta de 27% de etanol anidro.
Para se ter ideia, o etanol chega a emitir até 90% menos carbono e demais gases de efeito estufa (GEEs) na comparação com a gasolina, relata a UNICA, entidade representativa do setor sucroenergético.
No mais, tem a questão financeira: os modelos elétricos disponíveis custam a partir de R$ 130 mil, o que é impeditivo para o bolso da maioria da população.
Ainda assim, as vendas de puros elétricos e híbridos crescem, mesmo que de forma compassada. No primeiro semestre foram emplacados 20.427 modelos de automóveis e comerciais leves, alta de 47% sobre igual período de 2021, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Entretanto, esse nicho representou 2,3% das vendas totais no país do setor de automóveis e leves, conforme balanço dos primeiros cinco meses do ano.
Energia Que Fala Com Você apresenta a seguir as quatro montadoras de veículos que anunciaram investimentos no Brasil com foco nos motores a combustão.
Renault: R$ 2 bilhões
No fim de junho, a Renault do Brasil confirmou o investimento de R$ 2 bilhões referente ao anúncio feito em março.
O aporte é para a produção de um novo motor 1.0 turbo e um novo SUV por meio de uma nova plataforma, a CMF-B.
Gerada pela Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, essa plataforma permite a chegada de novos produtos no futuro, bem como uma eventual eletrificação, conforme divulgou a Renault.
Tanto o novo 1.0 quanto o SUV serão produzidos no Complexo Industrial Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR).
GWM: híbridos a etanol
Recém chegada ao Brasil, a chinesa Great Wall Motors (GWM) prevê produzir carros híbridos movidos a etanol a partir de 2023.
Ao Valor, o chefe da área comercial da GWM, Oswaldo Ramos, relata que a empresa está em contato com fornecedores para iniciar a produção na fábrica em Iracemápolis (SP), que pertenceu à Mercedes-Benz.
Enquanto isso, a empresa lançará ainda neste ano um híbrido importado da China, mas movido a gasolina, conforme explicações de executivos (leia aqui no original em inglês).
CAOA Chery: R$ 1,5 bilhão
A CAOA Chery aposta na composição de veículos híbridos e elétricos, mas sem descontinuar os modelos a combustão.
É o que a companhia, que há cinco anos uniu a brasileira CAOA e a chinesa Chery, aplica na fábrica em Anápolis (GO).
E de lá saem os modelos Tiggo 5X Pro e Tiggo 7 Pro. E, híbridos que poderão ser abastecidos com etanol, fruto de aporte de R$ 1,5 bilhão.
“O híbrido deve dominar porque o etanol é um produto estratégico para o Brasil”, disse ao Valor Márcio Alfonso, vice-presidente de operações do grupo.
NBR: fábrica em Pernambuco
O município de Araripina (PE) sediará a montadora de automóveis da NBR - Grupo Novo Brasil. Com aporte de R$ 260 milhões, as obras da planta devem começar neste ano.
No caso, é a primeira fábrica a contemplar carros compactos e buggies em série no Brasil.
“No primeiro momento, o motor será Flex e contará com a possibilidade de opcional para conversão a gás natural veicular (GNV) de fábrica”, disse ao site Jorge Morais o presidente da NBR, Evandro Lira.
Avanço dos modelos híbridos
Com os investimentos, a Renault, GWM, CAOA Chery e o grupo GNB reforçam a importância estratégica do etanol como combustível de seus novos modelos.
E, assim, fazem coro à Toyota, que produz híbrido a etanol no país desde 2019, e a VW e o Grupo Stellantis (Fiat/Jeep/Peugeot e Citroën), que desenvolvem modelos híbridos flex a serem lançados nos próximos anos.