Por que o etanol cresce - e muito - como combustível de aviões agrícolas

por Delcy Mac Cruz

63% das aeronaves em operação no agro nacional são movidas pelo biocombustível

A aviação agrícola brasileira entrou 2022 com uma frota de 2.409 aviões, alta de 3,40% sobre o ano anterior, relata levantamento divulgado pelo Sindag, sindicato representativo do setor. 

O crescimento de aeronaves por si só é boa notícia que atesta os investimentos do agronegócio. Mas não é só. Isso porque nada menos do que 63% dessa frota é movida a etanol.

Este percentual representa as 1,5 mil aeronaves dos modelos Ipanema, da Embraer, entregues pela fabricante até o fim de 2021. 

Um destaque da aviação movida a etanol está nos ganhos econômicos. 

Eles são estratégicos, uma vez que os combustíveis respondem por 40% dos custos da aviação geral, como divulga a Secretaria Nacional de Aviação Civil

Para se ter ideia, o litro da gasolina de aviação (AVGAS) chegou a R$ 7,22 ao consumidor final, nota o portal BNews

Já o litro da querosene de aviação (Qav) entrou em maio custando R$ 5,07, segundo a ANP. 

Na média, o litro do etanol hidratado - também usado nos modelos da Embraer - valia R$ 5,20 na média nacional, relata a ANP. 

Em termos comparativos, o preço do biocombustível pode até empatar com a AVGAS, mas é preciso lembrar que parte do combustível fóssil é importado, enquanto o etanol é 100% feito no país. 

Mais ainda: a Embraer explica ao Energia Que Fala Com Você que o “etanol fornece 7% a mais de potência ao motor, tornando seu uso muito mais vantajoso ao operador”. 

Vale destacar que modelos do Ipanema como EMB-202A e EMB-203 devem ser operados apenas com o biocombustível - já a gasolina de aviação é usada apenas nas partidas com o tempo/motor frio. 

Ganhos ambientais

Não bastassem os ganhos econômicos e operacionais, existem aí os ganhos ambientais. 

Como se sabe o etanol reduz as emissões de dióxido de carbono (CO2), geradora de gases de efeito estufa e do aquecimento global. 

Na comparação com a gasolina, um veículo movido a biocombustível diminui em 80% as emissões de CO2. 

Ante a AVGAs, o etanol também supera em termos de menores emissões, mas o montante depende das especificidades das aeronaves. 

Entretanto, em artigo na Revista Brasileira de Aviação Civil

Valdir Adileu de Souza e Jairo Afonso Henkes atestam: “além de não compensar a emissão de CO2, a AVGAS possui em sua formulação o chumbo tetraetila, que, além de ser tóxico, é cancerígeno.”

Entusiasmo com as projeções para 2023

Por sua vez, a Embraer celebra as vendas de modelos agrícolas a etanol. Nos primeiros cinco meses deste 2022, por exemplo, registrou 39 novos pedidos, volume 22% maior que o de mesmo período de 2021. 

Apenas na Agrishow, feira realizada em abril em Ribeirão Preto, foram vendidas 11 aeronaves do modelo 203, que passa de 130 em operação no país. 

Em tempo: a família de aeronaves Ipanema está em sua quinta geração.

“Diante do desempenho favorável do agronegócio, os clientes têm antecipado a demanda para safras futuras e estamos bastante satisfeitos com os crescentes resultados obtidos e entusiasmados com as projeções para 2023”, diz em nota Sany Onofre, head de aviação agrícola da Embraer. 

Movido a etanol desde 2005, o Ipanema se tornou o primeiro avião da Embraer certificado e produzido em série para voar com energia renovável, liderando uma ampla frente de atuação histórica da companhia em pesquisas e utilização de biocombustíveis na aviação. 

A aeronave, relata a fabricante, é líder de mercado no segmento de pulverização aérea, com 60% de participação nacional. 

 

Para saber mais a respeito dos modelos a etanol, a Embraer destacou técnicos para responder a questões do Energia Que Fala Com Você.

Confira as respostas:  

 

Qual é o rendimento do etanol no comparativo à gasolina de aviação?

 

Na aviação se usa a métrica de consumo por hora de voo. Nesse aspecto, o consumo da aeronave é de cerca de 100 litros/hora no etanol, contra 70 litros/hora utilizando-se gasolina de aviação (AVGAS) nas aeronaves do mesmo tipo. 

Contudo, além de ser energia renovável e de maior acessibilidade, o etanol fornece 7% a mais de potência ao motor, tornando seu uso muito mais vantajoso ao operador.

 

O etanol usado no Ipanema certamente é o mesmo dos veículos flex? No caso, é o etanol hidratado?

 

Exatamente, os modelos EMB-202A e EMB-203 do Ipanema utilizam o etanol automotivo. Entretanto, essas aeronaves devem ser operadas apenas com Etanol. Os aviões movidos a álcool hidratado utilizam a gasolina de aviação apenas nas partidas com o tempo/motor frio.

 

Como está na quinta geração, o Ipanema adquiriu aperfeiçoamento em consumo de etanol?

 

O Ipanema EMB-203 é a aeronave da categoria com maior produtividade. Dessa forma, por ser mais produtivo, pode-se dizer que o EMB-203 possui um menor consumo de etanol por hectare pulverizado, quando comparado com as demais versões. 

A nova envergadura de asa do Ipanema 203 permite uma faixa de deposição de até 24M, dado comprovado em testes realizados pelo departamento de engenharia rural da FCA/UNESP. Com essas mudanças, o 203 se torna o Ipanema com o melhor custo operacional desde o início da sua fabricação.

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