Por que os biocombustíveis ajudam o Brasil a sair na frente na guerra pela descarbonização

É o que revela estudo que identifica oportunidades e o potencial da bioeconomia

Crédito da imagem: Apla/Shutterstock

Transição energética e bioeconomia são processos complementares e que devem ser incentivados de forma conjunta no Brasil. 

Assim, o país estará globalmente um passo à frente na guerra pela descarbonização. 

Em resumo, é o que sinaliza o estudo inédito “Identificação das Oportunidades e o Potencial do Impacto da Bioeconomia para a Descarbonização do Brasil”

Lançado em novembro pela Associação Brasileira de Bio-Inovação (ABBI), o documento tem por objetivo avaliar as oportunidades geradas pela bioeconomia no Brasil em um contexto de transição para uma economia de baixo carbono no país. 

Vale lembrar que a pesquisa foi realizada em parceria com pesos pesados como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Bioenergia), Laboratório Nacional de Bio-renováveis do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM), Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI/CETIQT) e o Laboratório Cenergia/UFRJ

Antes de seguir adiante, convém detalhar alguns termos citados nos parágrafos anteriores. 

O que é transição energética? 

Trata-se da passagem de uma matriz energética focada nos combustíveis fósseis para um com baixa ou zero emissões de carbono, baseada em fontes renováveis. Mais aqui

E bioeconomia? 

É um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. Objetivo: oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. Saiba mais aqui

Incentivo conjunto

Sendo assim, o estudo da ABBI reforça que, por serem processos complementares, a transição energética e bioeconomia devem ser incentivadas de forma conjunta. 

“O Brasil precisa consolidar uma estratégia nacional de bioeconomia, visto que ela depende da interação entre diferentes setores econômicos”, destaca a entidade no estudo. 

Por sua vez, estes setores “devem ser apoiados por políticas públicas que fomentem uma oferta sustentável de biomassa e que incentivem a implementação de biorrefinarias, que dependem da produção conjunta de biocombustíveis e de bioprodutos de maior valor agregado, criando assim uma demanda que valorize os aspectos ambientais positivos da biomassa brasileira.”

Biocombustíveis

É aí que entram o etanol, biodiesel, biogás e até a bioquerosene de aviação, biocombustíveis dos quais o Brasil detém tecnologias. 

Vale lembrar que o etanol brasileiro completa 50 anos em 2025, uma vez que foi oficializado em 1975 pelo Programa Nacional do Álcool, o Proálcool

Já o biodiesel chegará a 20 anos em 2024, já que o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) foi lançado em dezembro de 2004. 

Enquanto isso, o biogás, que pode ser feito a partir de várias matérias-primas, entre elas subprodutos da cana-de-açúcar, já é produzido por pelo menos cinco usinas sucroenergéticas.

Por aí se vê que o Brasil tem experiência de sobra em combustíveis renováveis. 

É por isso que eles fazem a diferença em favor do Brasil na briga global pela descarbonização. 

Se depender das previsões do estudo, os biocombustíveis farão ainda muita diferença favorável ao país. 

Como assim?

Isso porque, conforme relata a entidade, a biomassa “passa a ser a principal fonte de energia para a implementação de tecnologias de baixo carbono nos principais setores da economia brasileira para cumprimento do Acordo de Paris, visando limitar o aumento de temperatura terrestre “bem abaixo dos 2ºC” até o final do século”.

Mais: neste cenário, a biomassa representa 76% da oferta interna de energia primária e, quando combinada com processos de captura e armazenamento de carbono (CCS), se apresenta como a única alternativa capaz de entregar emissões negativas de gases de efeito estufa (GEEs) necessárias para atingir as metas de descarbonização com a urgência requerida.

Salto na produção 

Para cumprir este cenário, só com mais oferta. 

E é isso que projeta a pesquisa. Em 2050, a produção de biocombustíveis deverá chegar a 373 bilhões de litros ao ano. 

Desse montante, 89% serão de biocombustíveis avançados, caso do etanol de segunda geração (E2G) e do biogás. 

Para se ter noção da importância desse volume projetado, ele é 75% superior em relação à produção do cenário de 2ºC.

Ótimo, não? 

Mas calma lá: a atual capacidade produtiva de etanol (de primeira e de segunda gerações) fica em 60 bilhões de litros. 

No estudo, a ABBI lembra que a expansão projetada para 2050 “está relacionada com avanços tecnológicos, uma vez que está pautada no aumento da produção de biocombustíveis avançados – aqueles que utilizam matérias-primas que não concorrem com alimentos, como os resíduos urbanos e agroindustriais e as culturas energéticas (energy-crops).”

“Muitas dessas matérias-primas ainda precisam da construção de cadeias de fornecimento, com a superação das barreiras logísticas, e necessitam do avanço de tecnologias de processamento adequadas”, acrescenta. 

Tudo bem. 

Mas tem como chegar lá. 

Afinal de contas, as projeções para um cenário mundial de emissões neutras em 2050 também apontam uma tendência no uso de biocombustíveis, principalmente para atender a demanda dos veículos de grande porte, dos modais aéreos, marítimos e rodoviários, cuja eletrificação é mais complexa 

Vai daí que no contexto brasileiro, onde já existe uma cadeia plenamente estabelecida de produção de etanol, os biocombustíveis continuam sendo uma alternativa muito interessante, mesmo frente a eletrificação. 

Ou seja, veículos híbridos e movidos a células a combustível baseados em etanol aliam as vantagens dos biocombustíveis à eletrificação, representando uma grande vantagem nacional.

Enfim, é por tudo isso que os biocombustíveis são sérios candidatos a fazer do Brasil protagonista na guerra mundial pela descarbonização.