Vem aí o diesel verde

 

Estudo recém-divulgado atesta a viabilidade de um tipo de óleo diesel renovável, redutor de emissões de gases poluentes, ao contrário do diesel produzido a partir do petróleo.

Esse combustível renovável é chamado de diesel verde e tem sólidas chances de avançar no consumo doméstico, como, também, ganhar os mercados internacionais.

A chama ambiental favorece a implantação de unidades produtoras do diesel verde, confirmou Energia Que Fala Com Você junto a especialistas.

E elas podem ser implantadas junto a usinas de etanol de cana-de-açúcar e de milho, bem como com as unidades produtoras de biodiesel.

Entretanto, os custos de produção ainda dependem de pesquisas para se chegar a resultados remuneradores. 

Por sua vez, o estudo favorável ao diesel verde acaba de ser divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME).

Denominado Norma Técnica (NT) Combustíveis Renováveis para uso em motores do ciclo Diesel, o trabalho aborda processo de obtenção do renovável, especificações técnicas e desafios para a sua inserção no mercado nacional de abastecimento.

 

Em um futuro de curto prazo, o poluente diesel de petróleo pode ser substituído pelo diesel verde e pelo biodiesel (Foto: Agência Brasil)

 

Contemplado no RenovaBio

O diesel renovável, conforme o estudo, já está devidamente inserido na Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio.

Ou seja: as unidades produtoras poderão obter certificação no programa, que estimula o consumo de biocombustíveis, e, assim, poderão comercializar os créditos de descarbonização, os CBIOs.

Esses créditos equivalem cada um a 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) e serão comercializados, ainda nesse ano, por meio da B3, a Bolsa de São Paulo.

“A Política Nacional de Biocombustíveis já contempla a possibilidade de participação do diesel sintetizado, tendo como combustível substituto o diesel”, destaca trecho do estudo.

 

Mas o que vem a ser o diesel verde?

Esse tipo de biocombustível ganhou projeção em 2019, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) iniciou discussões para validar a utilização de biocombustíveis que podem ser fabricados, entre outros, a partir do hidrotratamento de óleos vegetais, de processos fermentativos e do processo químico  oligomerização de álcoois.

Esses processos denominam o diesel verde, mistura de hidrocarbonetos que poderá compor a mistura do diesel B.

De seu lado, diesel B é aquele comercializado nos postos de serviços e que tem a adição de 12% de biodiesel a partir desse mês de março.

O diesel verde, entretanto, não chega para brigar com o biodiesel, feito a partir de matérias-primas que vão da soja a resíduos de gordura animal.

Chega para tentar afastar o poluente diesel feito do petróleo.

Assim, o diesel B pode, em um futuro de curto prazo, ser composto de renováveis: o verde e o biodiesel.

Mas como destaca o estudo da EPE, será necessária a regulamentação e especificação das características do diesel verde pela ANP.

 

Mercado aberto também no exterior

Uma vez produzido em escala, o diesel verde tem sólidas chances de avançar nos mercados interno e externo.

Isso porque ele pode ser produzido a partir de três fontes e todas são bem aceitas principalmente no apelo ambiental.

Aqui vale descrever tópicos dessas matérias-primas de fabricação.

O primeiro desses processos, a oligomerização de álcoois, emprega também a biomassa de cana-de-açúcar para fazer a conversão – o que se torna mais um ativo para o setor sucroenergético.

No caso do uso da biomassa da cana, de forma bem simples o processo inclui a geração de açúcares, que seguem para a fermentação e para a oligomerização. E pronto: transformam-se em diesel verde.

O outro processo de produção é o Hidrotratamento de Óleo Vegetal (HVO).

Em síntese, origina combustível a partir da hidrogenação de óleos como soja e gordura animal.

A partir dele também pode ser produzido combustível renovável para aviação, outro ativo já contemplado pelo RenovaBio.

No caso do HVO, o estudo da EPE destaca o avanço do biocombustível feito por esse processo.

“Já representa o terceiro maior biocombustível em volume produzido no mundo e sua produção cresce a uma taxa rápida”, relata.

“Entre 2011 e 2018, a produção de éster [produto da reação de um ácido, geralmente orgânico, como o biodiesel] cresceu a uma taxa de 1,7% ao ano no mercado europeu, enquanto o HVO avançou em um ritmo de 37,1% ao ano.”

Sendo assim, caso haja produção significativa de diesel verde no Brasil a partir do processo HVO, ele já terá garantia para disputar o mercado internacional.