Vem aí o uso do etanol como combustível de navios

Por Delcy Mac Cruz

Biocombustível é estratégico em compromisso de entidade marítima de reduzir as emissões de poluentes.

Crédito da imagem: Venti Views na Unsplash

Depois dos veículos rodoviários, que rodam com etanol hidratado (motores flex), anidro (adicionado à gasolina) e com biometano em motores a gás GNV, o etanol se prepara agora para novas empreitadas.

A primeira, em desenvolvimento, é o seu emprego como matéria-prima de combustível sustentável de aviação, o SAF. Companhias como a Raízen e a GranBio já têm parcerias para produzir o renovável.

As previsões são de que o primeiro litro de SAF de etanol chegue ao mercado em 2025, mas existe hoje uma extensa fila de clientes à espera, disse a este blog Amanda Gondim, coordenadora do Projeto de Gestão da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis de Aviação (RBQAV) (leia aqui o que ela informa a respeito).

Seja o emprego do etanol em veículos como em aeronaves, a pressa da clientela tem viés de apelo sustentável.

Isso porque, para ficar em um exemplo, o biocombustível reduz as emissões de gases de efeito estufa, enquanto o concorrente fóssil caminha em sentido contrário. 

Próxima etapa: combustível de navios
Sim, a notícia de momento é a de que o biocombustível também será empregado como matéria-prima de combustível para o transporte marítimo.

Vale destacar que não se trata de uma novidade.

Há muito se busca uma alternativa renovável para o bunker, que também é chamado de Marine Fuel, óleo combustível destinado ao abastecimento de navios de grande porte.

Essa busca, no entanto, ficou turbinada com a pressão para reduzir as emissões de poluentes.

Não é à toa que a Organização Marítima Internacional (IMO) aprovou neste ano a estratégia IMO 2023, com a meta de “alcançar emissões líquidas zero de gases de efeito estufa no transporte marítimo internacional próximo a 2050” (leia aqui sobre o projeto no original).

Se a meta é descarbonizar navios, a busca de soluções tem que ser mesmo para ontem.

Isso porque o número de navios realizando o transporte do comércio internacional passa de 30 mil. Parece pouco, mas cada navio cargueiro tem tanque para 500 mil a até 1 milhão de litros. 

É aí que entram os substitutos do bunker.

Há várias apostas em curso mundo afora.

Uma delas é o e-metanol, que substitui o químico metanol, gerador de teores tóxicos impraticáveis diante de um mundo que se diz em transição energética.

A thyssenkrupp já produz o e-metanol, ou metanol verde, e, segundo o relato do CEO da empresa, Paulo Alvarenga, “seu uso deve ser muito alavancado nos próximos anos à medida que novas embarcações sejam adaptadas” (leia aqui o relato do executivo em seu perfil no Linkedin).

Testes com biodiesel
Outras apostas estão com os biocombustíveis. Em linha com essa situação, a Petrobras anunciou, em julho último, ter iniciado testes com bunker com 24% de biodiesel na composição e, com isso, validar a elevação do uso de matéria-prima renovável no abastecimento de navios.

E tem o etanol.

Neste mês de outubro, a Raízen e a Wärtsilä, líder em tecnologias para os mercados marítimo e de energia, divulgaram a celebração de um acordo de descarbonização para avançar na redução de emissões do setor marítimo.

No caso, o acordo prevê a aplicação do etanol como combustível marítimo para reduzir as emissões de GEE, oferecer novas opções aos clientes que buscam alternativas de combustíveis sustentáveis e “para contribuir substancialmente para a discussão da transição energética no setor globalmente”, como informam as empresas.

A substituição de combustíveis fósseis por etanol produzido de forma sustentável no transporte marítimo pode reduzir as emissões de CO2 em até 80% em uma rota padrão do Brasil para a Europa, segundo estudos preliminares da Raízen.

“Enfim, o etanol tem o potencial de ser uma solução viável para descarbonizar o setor, uma vez que proporciona maior flexibilidade e opcionalidade à medida que a indústria avança em direção a uma combinação de alternativas de combustíveis com menores emissões”, relatam as empresas. :