Versátil, o bagaço de cana também se destaca como fonte de alimentação animal
Por Delcy Mac Cruz
Ele pode ser incluído em 20% da dieta seca e avança como filão de negócio para usinas
Crédito da imagem: CNA
O bagaço de cana-de-açúcar tem pelo menos dez destinações, e todas são produtivas seja para o setor sucroenergético, para o agronegócio, indústria e para a pecuária.
Ele é fonte para:
- Bioeletricidade
É empregado pela indústria sucroenergética para gerar energia elétrica por meio da cogeração, que emprega caldeiras e turbinas. É a chamada bioeletricidade, consumida pelas usinas e também exportada para o sistema elétrico por meio de leilões ou geração distribuída (GD), quando o consumidor está próximo às redes de distribuição.
- Açúcar e etanol
O bagaço é resultante nas usinas a partir da extração do caldo da cana para a produção de açúcar e etanol.
- Fertirrigação
Ele pode ser empregado na adubação dos canaviais em processo chamado no setor de fertirrigação.
- Biogás e biometano
Ele é insumo para produzir biogás (que gera bioeletricidade) ou, em processo de gaseificação, ajuda a produzir biometano, que substitui o gás natural em indústria (grande usuária do insumo) e em motores de veículos a gás.
- Soluções renováveis
O biorresíduo também já é empregado como matéria-prima de embalagens, no lugar do isopor; de tijolos; na produção de papeis como o tradicional sulfite e na geração de plástico sustentável, no lugar do derivado da indústria petroquímica.
“Chiclete” para bovinos
Na verdade, as destinações do ativo canavieiro surgem no dia a dia.
E entre as aplicações bem conhecidas está uma que ganha destaque em tempos em que a produção de proteína animal de qualidade avança globalmente.
Trata-se do emprego do bagaço na alimentação de bovinos.
Coproduto fibroso, com baixa densidade e baixo teor nutritivo, ele é considerado um excelente “chiclete” para bovinos, e pode ser incluído na dieta entre 10% a 20% na matéria seca para animais de corte (leia mais aqui).
Sendo assim, triturar o biorresíduo e engrossar a alimentação é ainda mais estratégico em períodos de altas de preços de proteína animal e necessidade de se incluir fibras na nutrição.
Mas há bagaço disponível?
Como em qualquer matéria-prima, irá depender da oferta e da procura.
Em todo caso, a oferta do ativo renovável pode representar até 30% da cana processada.
Veja o caso da safra 2023-24 na região Centro-Sul, encerrada oficialmente em 31 de março.
Ela alcançou 654 milhões de toneladas, segundo levantamento da Unica, entidade do setor, e, levando em conta que o bagaço representa 30% desse montante, são por baixo 196 milhões de toneladas.
Negócio para usinas
Diante o avanço da moagem de cana na safra 23/24 no Centro-Sul, o subproduto se tornou, também, um negócio extra na prateleira de produtos das usinas.
Veja o caso, por exemplo, da BP Bunge Bioenergia.
Em relato, a companhia prevê que para o ciclo 24/25 deverá fornecer 400 mil toneladas, 60% mais biomassa ante a temporada anterior (250 mil toneladas).
Por sua vez, a maior disponibilidade atende a demanda crescente por soluções eficientes e renováveis.
“Com a expectativa de aumento de nossa disponibilidade de biomassa, teremos a possibilidade de atender outras indústrias, fornecendo fonte limpa para setores produtores de soja, suco de laranja e proteína animal”, destaca José Piñeiro, gerente comercial de energia e biomassa da BP Bunge.
Assim como a companhia, outras do setor estão atentas em atender a pecuária com um ativo que enriquece a alimentação animal e, ainda por cima, é 100% renovável.