Brasil sai na frente com sistema que integra na mesma área energia renovável e produção agrícola  

Conhecido por agrivoltaico ou agrofotovoltaico, ele chega a Minas Gerais depois de ser implantado em Pernambuco 

Crédito da imagem: Rodion Kutsaiev/Unsplash

Líder global em energias renováveis, o Brasil expande para outros sistemas em linha com as fontes limpas de geração.

É o caso do sistema agrofotovoltaico ou agrivoltaico.

De forma resumida, trata-se de reunir em uma mesma área a geração de eletricidade de fonte limpa e a produção agrícola.

Normalmente, a produção de energia solar (ou fotovoltaica) é feita por meio de placas geradoras fixadas próximas ao solo. No caso do agrivoltaico, as placas ficam na mesma área, mas com espaço liberado para a produção de alimentos. 

O melhor: essa tecnologia, considerada simples, é tema recorrente de pesquisadores mundo afora. Mas já está implantada desde 2019 em Pernambuco e caminha agora para ser expandida para outros estados, caso de Minas Gerais. 

 

Como é o sistema em Pernambuco

Chamado Ecolume, o sistema agrivoltaico é o primeiro do Brasil, desenvolvido por uma rede nacional de mais de 40 pesquisadores, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

É assim: em 2019, com coordenação do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), foi instalada unidade demonstrativa do Ecolume na escola de agroecologia Serta, no município de Ibimirim, em Pernambuco.

Origem: o projeto surgiu para testar formas para o semiárido brasileiro produzir alimentos o ano todo e com menos água, já que a região enfrenta períodos de seca com temperaturas cada vez mais altas.

Modelo: produção consorciada de alimentos e energia solar, com uso integrado de tecnologias de reúso de água e captação de água da chuva.

Estrutura: consiste em 10 placas fotovoltaicas instaladas a aproximadamente dois metros do solo, numa área total de 24 metros quadrados. Embaixo da estrutura está instalado um sistema de aquaponia, onde são cultivadas hortaliças e peixes de modo combinado, além de um galinheiro.

Estratégia: esse modelo melhora a produtividade agrícola no semiárido, pois o sombreamento gerado pelas placas solares barra a exposição solar excessiva e garante um microclima mais ameno e úmido, os quais são fatores ideais para o desenvolvimento de plantas e animais. 

Resultado: o sombreamento também ajuda a reduzir perdas de água por evapotranspiração e o consórcio com aquaponia e reúso da água permite uma irrigação mais sustentável do que na agricultura convencional.

Ganhos: estudo da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, também em região suscetível à seca, mostra um aumento de duas a três vezes na produção de alguns tipos de vegetais e frutas debaixo de painéis solares, em cultivo direto no solo. O Save, por integrar ao sistema tecnologias que tratam e reciclam água, permite ainda economizar 90% no uso desse recurso para irrigação.

Leia aqui mais sobre o Ecolume

 

Minas Gerais estreia na tecnologia

O Campo Experimental Mocambinho, localizado em Jaíba, região Norte de Minas Gerais, que desenvolve cultivos de melão, morango, feijão e alface, e o Campo Experimental Santa Rita, em Prudente de Morais, região Central do estado, recebem na prática o sistema agrivoltaico.

Desenvolvido por meio de parceria entre a companhia energética Cemig e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em conjunto com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), o projeto avalia a coexistência entre a produção de alimentos e energia elétrica.

Como funciona: instalação e monitoramento de unidades-piloto com cultivos agrícolas sob painéis solares fotovoltaicos.

Culturas: melão, morango, feijão e alface, além de pastagens destinadas à criação de bovinos.

Tempo: terá 30 meses de duração, a partir de janeiro último, e prevê avaliações agronômicas sobre produtividade, duração do ciclo de cada cultura, presença de pragas e doenças, eficiência do uso da água e qualidade final dos alimentos produzidos, dentre outros aspectos.

Estrutura: serão analisados quatro módulos (de áreas produtivas de aproximadamente 300 a 400 metros quadrados cada) para cada cultura, nos quais serão testadas placas fotovoltaicas monocristalinas e bifaciais (que captam energia de ambos os lados) em dois sistemas diferentes: “fixo” e “tracker” (composto por placas móveis que acompanham o movimento do sol ao longo do dia).

Próximo passo: conclusão das aquisições de placas fotovoltaicas, sementes, adubos e demais materiais, para que as instalações sejam realizadas e os sistemas comecem a produzir.

Apoio externo: para as definições técnicas e instalações das unidades-piloto, a Epamig tem contado com consultoria da Fraunhofer-Gesellschaft, organização alemã de pesquisas aplicadas sem fins-lucrativos, e com financiamento proveniente de um segundo projeto de pesquisa (com 48 meses de duração) aprovado junto à Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do estado (Fapemig).

 

Mais projetos no radar

Além de Pernambuco e de Minas Gerais, outros estados brasileiros entram no radar para receber projetos agrivoltaicos. Afinal de contas, o que não falta no país é matéria-prima para geração de energia renovável.