Levedura animal avança como produto renovável do setor sucroenergético
Por Delcy Mac Cruz
Suplemento ganhará fábrica da Uisa em 2023
Créditos das imagens: Destilaria Copersucar
Integrante do grupo de plantas sucroenergéticas de grande porte, com moagem de 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, a Uisa (antiga Usinas Itamarati) está em vias de se tornar player na produção de levedura animal.
É que em 2023 a companhia, controlada pelo fundo de investimento e participações FIP (leia mais aqui), deverá se tornar a quarta maior produtora nacional de levedura destinada à nutrição animal.
Isso porque a previsão é de que em abril próximo a companhia deverá inaugurar fábrica do suplemento com capacidade de produção anual de 9,5 mil toneladas.
O detalhe é que essa oferta de nutriente sairá da levedura gerada no processo de fabricação de etanol.
Vale lembrar que essa matéria-prima costuma ser descartada.
Agora, no caso, gerará novo produto que agregará remuneração extra para a companhia uma vez que, com o mesmo hectare de cana, produzirá etanol e o nutriente animal.
A nova fábrica recebe investimentos de R$ 53 milhões e integra a biorrefinaria Uisa, localizada no município de Nova Olímpia (MT), onde há criação de gado confinado.
Imagem da biorrefinaria Uisa:
Crédito da ilustração: Uisa
O novo produto renovável da Uisa terá gestão de uma nova empresa, a Uisa Bionutrition. A expectativa é de que os negócios dessa companhia acrescentem entre 10% e 15% no resultado final do grupo.
As projeções da Uisa com a nova empresa atestam, também, a ampliação da levedura de cana no portfólio renovável do setor sucroenergético.
Vale lembrar que o nutriente animal da cana não é novidade.
Já na década de 80, o Brasil viu crescer pesquisas a partir do uso do microorganismo como fonte de proteínas e vitaminas. Esse crescimento se deu por conta da melhoria da qualidade e do avanço da produção de levedura.
Substituto de antibióticos
Há também ganhos de saúde. A utilização desse nutriente “vem ao encontro do contexto da nutrição animal, que visa substituir grande parte de antibióticos e quimioterápicos por aditivos orgânicos com eficiência comprovada”, relatou em 2015 o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Hamilton Hisano.
Outro ponto importante, comunicou ele, diz respeito à proibição do uso de alimentos de origem animal para ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos) no Brasil e em diversos países, assim como restrições pela União Europeia do uso desse tipo de ingrediente também para espécies monogástricas, como aves, suínos e peixes.
“Considerando essas questões, o cenário atual é favorável para o aumento da produção de biomassa de leveduras das usinas e incremento de sua utilização em rações para diversas espécies de animais de interesse zootécnico”, escreveu o pesquisador.
Produção em série
Mais e mais destilarias de cana produzem o nutriente, que parte da levedura, microorganismo importante no processo de transformação do caldo da cana em etanol.
Entre as produtoras estão a Usina Pindorama, da Cooperativa Pindorama e localizada em Coruripe (AL), cuja produção diária é de 10 toneladas de levedura seca.
Por sua vez, a Viralcool, controladora de três plantas no interior paulista, fabrica 1,5 mil toneladas anuais em sua unidade de Pitangueiras.
Já a Tereos, companhia francesa com 7 usinas também no interior paulista, exporta levedura seca de cana para mais de 65 países, entre eles China, Tailândia, Taiwan, Vietnã e EUA.
As vendas externas, relata a empresa, estão a cargo de empresa focada na indústria de nutrição animal, enquanto a produção estava prevista em 9 mil toneladas em 2021.
Assim como elas, praticamente todas as mais de 300 unidades sucroenergéticas em operação no país podem produzir a proteína animal.
Basta ver que, segundo publicação da revista Fapesp, de cada litro produzido de etanol, sobram cerca de 30 gramas de levedura seca.
Se levarmos em conta a produção brasileira anual de biocombustível, da ordem de 30 bilhões de litros, sobram 900 toneladas de levedura.
É muita capacidade produtiva de proteína animal de alta qualidade e tão importante quanto: é toda ela renovável.