5 opções de captação de recursos financeiros para o setor sucroenergético

Por Delcy Mac Cruz

Elas têm atrativos como juros abaixo dos praticados pelo mercado 

Crédito de imagem: Raízen

2022 segue desafiador mesmo nestes últimos meses do ano. No caso do açúcar e do etanol, o sobe e desce dos preços afeta os balanços, já abalados pelas altas despesas financeiras.

Em que pese a balança da safra 2022/23, que na região Centro-Sul termina oficialmente no fim de março próximo, o planejamento financeiro de curto e médio prazo exige agilidade urgente.

Em linha com essa urgência, as empresas do universo sucroenergético possuem estratégias de captação de recursos financeiros fora das opções convencionais.

Energia Que Fala Com Você apresenta a seguir 5 dessas opções disponíveis para usinas e, também, para fornecedores de cana e de bens e serviços do setor.

Cédulas de Produto Rural

Conhecida como Lei do Agro 2, a lei 14.421/2022, sancionada em julho, ampliou o alcance das Cédulas de Produto Rural (CPRs).

Trata-se de um título tradicional no agro, que representa uma promessa de entrega futura de um produto, funcionando como facilitador na produção e comercialização rural.

Com a Lei do Agro 2, entrou em cena a CPR 3.0, que pode ser emitida para financiar atividades antes e depois da porteira, como a comercialização de insumos, máquinas e equipamentos agrícolas e de armazenagem e a industrialização de produtos agropecuários.

Desta forma, revendas, agroindústrias, empresas de insumos e comercialização também podem emitir o título, embora sem isenção fiscal - este benefício foi mantido para os produtores.

“Com mais alguns poucos ajustes legais, entre cinco e dez anos, o mercado de crédito privado para o agronegócio chegará à casa do trilhão de reais”, disse ao Valor José Ângelo Mazzillo Júnior, secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Agricultura.

De fato, o saldo de CPR não para de crescer. No fim de setembro, por exemplo, acumulava R$ 193 bilhões referente a 90 mil cédulas emitidas e registradas, relata o executivo. Até o fim de outubro, a expectativa era de chegar a R$ 200 bilhões.

Certificados I-REC

Os Certificados Internacionais de Energia Renovável (I-REC) ganham mercado global conforme avança a demanda por descarbonização.

Em linhas gerais, o I-REC é um sistema global de rastreamento de atributos de energia renovável projetado para facilitar a contabilidade confiável de megawatts-hora (MWh).

Cada REC equivale a 1 MWh renovável, de baixa ou zero emissão de carbono, injetado no sistema elétrico.

As usinas de cana integram esse universo.

É o caso da Raízen, joint venture entre a Cosan e a Shell, que entre abril de 2021 e março de 2022 comercializou 1.154 milhão desses certificados (leia mais aqui).

Vale lembrar que, para entrar nesse mercado, é preciso cadastrar o empreendimento. O registro, com cinco anos de validade, custa R$ 7 mil, segundo relata o Instituto Totum.

Em tempo: o país já conta com a versão nacional do REC.

Enfim, em termos de mercado, o valor de um destes certificados renováveis varia conforme a demanda e a oferta. Segundo o Valor, em meados de maio deste ano, cada um deles era vendido por até R$ 5. 

CRA também para produtor de cana

Eles são bem conhecidos do setor, principalmente pelas usinas, tradicionais usuárias de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece o CRA por meio do produto BNDES Garantia.

A operação precisa ser estruturada por instituições e consultorias especializadas. E não fica mais apenas para as companhias.

Em agosto último, por exemplo, o BNDES divulgou emissão focada em fornecedores de cana da Usina Coruripe.

Durante cinco anos, a produção de cana desses produtores terá aporte de R$ 156,4 milhões.

Funciona assim: o CRA é emitido por companhia de securitização (no caso é a Virgo), cabendo ao BNDES o papel de garantidor de 80% da classe Sênior. Já o lastro é composto de Cédulas de Produto Rural com Liquidação Financeira (CPR-Fs) emitidas diretamente pelos produtores rurais (leia mais aqui).   

Mercado voluntário de carbono

O mercado voluntário de créditos de carbono está aberto para o setor sucroenergético. 

Em agosto, o BNDES abriu o segundo edital de chamada para aquisição desses créditos, com a liberação de R$ 100 milhões. O resultado deve ser divulgado em novembro (leia a respeito aqui).

Em termos comparativos, o montante liberado supera em dez vezes o montante do primeiro edital.

Em síntese: créditos de carbono representam a não emissão de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera.

Nesta segunda chamada, são elegíveis projetos com foco em reflorestamento, redução de emissões por desmatamento e energia (biomassa e metano), que é onde entram as usinas de açúcar e de etanol. 

Suporte a fornecedores

Lançado em 2013, o Programa Cultivar oferece soluções de suporte aos fornecedores da Raízen, controladora de 35 unidades produtoras. 

Acesso a iniciativas de apoio à gestão, soluções financeiras e de redução de custo estão entre essas soluções.

Joint venture entre Cosan e Shell, a Raízen divulga que 80% da cana adquirida pela companhia é de produtores contemplados no programa.

Um dos destaques é o pool de compras, que amplia o poder de negociação dos fornecedores, além de desenvolver parcerias com diferentes empresas, para garantir os tratos do canavial a custos acessíveis.

Além disso, a Raízen tem parceria com o Banco Santander para acesso a crédito rural, com financiamentos com teto de R$ 3 milhões por CPF e período de amortização de acordo com cada tipo de operação, mas que pode variar entre 12 a 18 meses nas linhas de custeio, e de até cinco anos no caso de investimentos.

Em 2021, esse método possuía taxas de 10 a 15% abaixo dos valores médios praticados pelo mercado, conforme destaca a empresa pelo RPA News.

A companhia relata que o Cultivar acumula mais de R$ 500 milhões movimentados em crédito rural.