Biomassa de cana fica de fora de leilão de reserva de energia
Biomassa de cana fica de fora de leilão de reserva de energia
Mas evento programado pelo governo inclui fontes poluentes como diesel e óleo combustível
Foto de Ernest Brillo na Unsplash / Delcy Mac Cruz
O Ministério de Minas e Energia (MME) deverá realizar nos primeiros meses de 2026 o esperado Leilão de Reserva de Capacidade, conhecido pela sigla LRCAP (leia mais aqui).
Como o próprio nome diz, o evento objetiva ter contratos que funcionam como seguro energético: as geradoras vencedoras terão de estar prontas para operar nos momentos de urgência de demanda.
Ou seja: o leilão vai ‘comprar’ a potência, a capacidade de geração disponível para garantir segurança ao sistema elétrico.
Como é o planejamento: em 22 de agosto, o Ministério publicou duas portarias a respeito do certame, com consultas públicas, que terá dois leilões distintos.
Quem poderá participar: as portarias incluem usinas termelétricas a gás natural, carvão mineral e movidas a óleo combustível e óleo diesel.
Tem aí um detalhe: as usinas a biomassa, que incluem as geradoras a partir de bagaço e demais subprodutos da cana-de-açúcar, ficaram de fora.
O que destaca o MME: conforme o Ministério, no caso das duas consultas públicas, os critérios de flexibilidade do certame foram aprimorados para ficarem mais aderentes à operação pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), garantindo maior alinhamento regulatório e técnico.
“O prazo dos contratos estabelecido nas consultas públicas é de três anos, garantindo previsibilidade e estabilidade para investidores e para o setor. Os interessados terão 20 dias [a partir de 22 de agosto] para enviar as contribuições por meio dos portais de Consulta Pública do MME e do Participa + Brasil.”
“Leilão precisa priorizar renováveis”
Diante das informações do MME sobre o leilão, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) alerta que a medida pode não ser suficiente, já que uma delas abrange usinas a gás natural, carvão mineral e hidrelétricas.
Em nota, a FIEMG destaca que o leilão deve priorizar tecnologias capazes de fornecer agilidade operacional, como hidrelétricas reversíveis, sistemas de armazenamento em baterias e programas de Resposta da Demanda (RDV).
“Essas soluções conseguem despachar energia em segundos, enquanto uma térmica a carvão pode levar horas ou até um dia para atingir plena operação”, alerta.
É preciso agilidade: “Não se trata apenas de contratar potência, mas de garantir resposta rápida ao sistema elétrico brasileiro. O Brasil precisa de recursos que assegurem agilidade e segurança nos horários críticos de consumo. Apostar em fontes lentas é repetir soluções do passado e comprometer o futuro”, afirma Flávio Roscoe, presidente da FIEMG.
Estudos do Plano Decenal de Energia (PDE 2034) já indicam risco de déficit de potência de 5,5 GW a partir de 2028, podendo chegar a 35 GW até 2034. A análise é reforçada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que há seis anos apontam a necessidade de contratar capacidade adicional nos horários de maior consumo.
“Esse não é um leilão de térmicas, é um leilão de flexibilidade. O sistema precisa de soluções renováveis e eficientes, que respondam em segundos ou minutos, e não em horas ou dias”, acrescenta Roscoe.
Para a FIEMG, a formatação do leilão será decisiva para o equilíbrio do sistema elétrico brasileiro nos próximos anos. A entidade reforça que a contratação deve estar em sintonia com os estudos técnicos oficiais e incentivar a competição entre tecnologias de resposta rápida, limpas e sustentáveis, capazes de assegurar a segurança energética do país e contribuir para a transição da matriz brasileira.