Com mais cana para moer, usinas do Norte e Nordeste projetam produção até 10% maior

Por Delcy Mac Cruz

Entre os motivos do otimismo estão o crescimento da área cultivada e o registro de chuvas fartas

Créditos de imagem: Udop

Com boas projeções, a produção das regiões Norte e Nordeste reforça a safra brasileira do setor sucroenergético. Denominado 2022/23, o ciclo da moagem de cana começou em meados de agosto nas usinas do Norte e do Nordeste e deve prosseguir até fevereiro próximo.

Enquanto isso, na região Centro-Sul, onde se produz 93% da fabricação nacional de açúcar e 97% da produção total de etanol, a safra, que tradicionalmente tem início em abril, sofreu pequeno atraso e deve seguir até dezembro.

Mas tem aí um nó: o Centro-Sul amarga quebra também por conta da estiagem registrada em 2021.

Em seu último levantamento, divulgado em 13 de setembro, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) revela que a moagem na região acumula 366,29 milhões de toneladas de cana, resultado 6,9% inferior à do ciclo anterior.

Por sua vez, as usinas do Norte-Nordeste tendem a ter resultados positivos.

Em seu mais recente boletim de safra, apresentado em 18 de agosto, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), revela previsões bem animadoras.

Esse otimismo está na área cultivada, em produtividade (mensurada em quilos por hectare) ou em produção.

Vamos aos dados: nos estados canavieiros do Norte, a área cresceu para 47,8 mil hectares, em avanço de 6,1% ante a safra anterior, enquanto devem ser colhidas 88,7 toneladas por hectare, alta de 3,6%. Já a produção deve ir a 4,2 milhões de toneladas, 9,8% acima do ciclo anterior.

O otimismo projetado pela Conab no Norte também é partilhado entre os estados canavieiros do Nordeste.

Aqui, a área com cana vai a 868 mil hectares (alta de 2,4%), a produtividade deve subir 6% (62,3 toneladas por hectare) e a produção deverá cravar em 54,1 milhões de toneladas, ou seja, 8,6% acima da safra anterior.

Confira os dados da Conab: 

Bons ventos no Norte e Nordeste

As previsões otimistas vão além.

É certo que em termos de área e de produção, o Centro-Sul segue no topo. Seus canaviais somam 7,2 milhões de hectares, 87% acima dos localizados no Norte e Nordeste. E a produção deve somar 514,5 milhões de toneladas, 82% superior à dos estados nortistas e nordestinos.

Contudo, o boletim da Conab destaca que, na comparação com a safra anterior, o Centro-Sul opera em área 3,2% inferior e a produção deverá sofrer redução de 2%.

Diante disso, o impacto negativo na safra nacional será de 1%, com a produção nacional de cana chegando a 573 milhões de toneladas.

Por sua vez, a produtividade média no Norte/Nordeste deve ter alta de 5,9%, enquanto a produção de cana projetada é de mais 8,7%.

Vale destacar que, conforme a Conab, as usinas dessas regiões deverão produzir 2,79 bilhões de litros de etanol, sendo 269 milhões no Norte e 2 bilhões no Nordeste.

Para efeitos comparativos, serão respectivamente 2% e 10% acima da oferta do ciclo anterior.

No caso do açúcar, as usinas do Norte deverão processar 97 mil toneladas, ante 66,2 mil no ciclo anterior, enquanto as do Nordeste tendem a chegar a 3 milhões de toneladas, contra 2,8 milhões da safra 21/22. 

Motivos da safra otimista

E o que explica o otimismo na safra dos estados do Norte e do Nordeste onde, segundo relatório da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), operam 67 usinas?

Tome o exemplo da Paraíba, onde estão sete das unidades.

Aqui, as chuvas, fartas e bem distribuídas, foram as grandes responsáveis. “No Litoral Sul, onde ficam grandes regiões produtoras, choveu 2.400 milímetros entre janeiro a agosto, superando a média da região, que é de 1.700”, relata a Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan).

“Essa será uma safra com muita cana, com preço bom, o que não é usual, porque normalmente quando há uma boa safra o preço não acompanha e vice-versa, mas as estimativas são otimistas”, destaca em nota José Inácio de Morais, presidente da entidade, que representa 1,8 mil fornecedores de cana.

No caso de Pernambuco, onde estão 12 usinas, as chuvas também respondem pela projeção otimista de alta na moagem de até 9% ante a safra anterior.

Outro ponto favorável é a previsão de aumento nas exportações de açúcar. “Na safra passada, 42% do açúcar produzido no Estado foi para fora e, desta vez, os embarques externos devem chegar a 49%”, atesta Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, ao JornalCana. Vale lembrar aí que a alta do dólar favorece os valores em reais.

Ele relata, no entanto, que o setor enfrenta aumento nos custos de produção, como em adubos e nos componentes e peças dos parques industriais.

Essa situação também afeta os produtores de Alagoas, onde estão 15 unidades em operação.

Mas em que pese isso, o Sindaçúcar-AL projeta variação positiva de 7,5% no processamento de cana ante o ciclo anterior. Com isso, a produção de açúcar, na comparação com a safra 21/22, deverá crescer 13% e, a de etanol, 8,6%.