Com mais produtividade e área, usinas do Norte e Nordeste projetam produção 3,1% maior
Por Delcy Mac Cruz
Entre os motivos do otimismo estão os ganhos gerados pelas chuvas nos canaviais
Crédito da imagem: Canavial Raízen
Com projeções positivas, a produção de cana-de-açúcar das regiões Norte e Nordeste reforça a safra brasileira do setor sucroenergético.
Denominado 2023/24, o ciclo da moagem de cana começou em meados de julho nas usinas das regiões com a previsão de prosseguir até o primeiro trimestre de 2024.
Esse fim pode ser antecipado a depender dos efeitos do fenômeno climático El Niño, que segue até o fim de dezembro e, enquanto acelera chuvas fora de época em estados do Sul do país, gera estiagem aguda no Norte e Nordeste.
Em tempo: produzem cana três estados do Norte (Amazonas, Pará e Tocantins) e oito do Nordeste (Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia). E o número de usinas em operação nesses estados é de 57.
Vale mencionar que a região Centro-Sul, onde a safra oficialmente vai de 01/04 deste 2023 a até 31 de março próximo, também segue com a safra em alta.
Ou seja, as usinas dessa região devem chegar a 591 milhões de toneladas de cana, conforme o boletim mais recente de acompanhamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) - acesse o boletim aqui.
Se confirmado, esse montante de cana será 7,3% acima do ciclo anterior, e deixa o Centro-Sul responsável por 90% de toda a cana processada no país.
E quais os números previstos para o Norte-Nordeste?
Conforme o boletim da Conab, divulgado em 17 de agosto, a produção em cana processada da região deverá crescer 3,1% sobre a safra 22/23. Ou seja, as usinas devem chegar a 63 milhões de toneladas da matéria-prima.
Essa alta reflete 2,4% mais área cultivada com cana, o que atesta investimentos do setor em recuperação de canaviais. Outra explicação para o otimismo é o ganho de produtividade agrícola, medido pelo total de toneladas colhidas por hectare - conhecido pela sigla TCH.
Pois esse TCH, segundo a Conab, tende a ter média de 65,3 toneladas por hectare no Nordeste e de 83,2 no Norte. Embora os saldos sejam diferentes, equivalem a um ganho de TCH de 0,7% sobre a safra 22/23.
Previsões da Conab para a safra 23/24:
Qual é a previsão de açúcar e etanol?
Para a atual safra, a Conab estima a produção de açúcar no Norte-Nordeste em 3,67 milhões de toneladas, com alta de 12% sobre a safra anterior.
Esse montante representa 9% das esperadas 41 milhões de toneladas a serem fabricadas no país no ciclo vigente.
Já no caso do etanol, a empresa do Ministério estima que as usinas do Norte-Nordeste chegarão a 2,3 bilhões de litros, em alta de 0,6% sobre o ciclo anterior.
Vale lembrar que essa produção representa 8,2% dos 28 bilhões de litros a serem fabricados pelas usinas de cana do país na temporada 23/24.
Etanol anidro de milho chega à região
Responsável por crescimentos seguidos de produção de etanol, o milho também avança no Nordeste como matéria-prima do biocombustível.
É que a usina da Cooperativa Pindorama, localizada entre os municípios de Penedo, Coruripe e Feliz Deserto, em Alagoas, e que já produz etanol hidratado (veículos flex), faz sua estreia na produção de etanol anidro a partir do cereal.
Conforme relato da cooperativa, será possível produzir até 150 mil litros diários de anidro (adicionado em 27% à gasolina).
O montante engrossa a oferta nacional de etanol de milho que está concentrada na região Centro-Oeste e, segundo a Conab, deve fechar a safra 23/24 com 6,11 bilhões de litros, alta de 37,2% sobre o ciclo anterior.
RETRANCA
Confira a previsão em cada um dos estados
Alagoas
Assim como em outras regiões, as chuvas torrenciais registradas em 2022 e em meados deste ano são responsáveis por desastres em municípios de estados do Norte e Nordeste.
Mas no caso da cana, as incidências pluviométricas ajudaram a melhorar a qualidade dos canaviais.
É o caso de Alagoas, que, conforme a Conab, o regime pluviométrico gera no setor uma expectativa otimista para os números de produção a serem alcançados.
Isso porque os índices pluviométricos, registrados desde o início do ano, favorecem as lavouras, resultando na estimativa da terceira maior produtividade da série histórica da Conab.
Pernambuco
Em sua mais recente estimativa, a Conab revela uma ligeira redução na produção de cana-de-açúcar, quando comparada à última safra.
O decréscimo de área é justificado pela otimização de áreas para minimizar custos de produção e perda de contratos de fornecedores de cana-de-açúcar para estados vizinhos.
Por outro lado, investimentos e boas condições climáticas impactam positivamente o rendimento.
O cenário global mais favorável para venda de açúcar influencia a produção sucroalcooleira pernambucana a aumentar seu mix açucareiro em relação à última safra, enquanto o etanol deve sofrer queda.
Paraíba
As precipitações ocorridas entre abril e julho últimos tiveram média de 1.115 mm nas microrregiões onde se localizam as unidades de produção de cana-de-açúcar.
No entanto, relata a Conab, a distribuição não ocorreu de forma uniforme, com picos de 90 mm diários em junho e julho. Ainda assim, foram favoráveis ao desenvolvimento das lavouras de cana-de-açúcar.
Para essa safra, a estimativa de área colhida é de 127,8 mil hectares, com uma produção estimada em 7,76 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
Boa parte dessa produção deve ser direcionada à fabricação de açúcar, aumentando a produção em relação à safra passada.
Bahia
Com cinco usinas, a Bahia avança na moagem de cana. Até julho, por exemplo, elas já tinham colhido e processado 48,7% do esperado para o ciclo 23/24, informa a Conab.
A expectativa de alta na produção nesta safra deve-se ao aumento da área a ser colhida, e da produtividade.
A alta significativa na área produtiva deve-se ao somatório da área de expansão e da área de cana bisada (que ficou sem ser colhida), ambas da safra passada.
Nesta safra, espera-se o incremento do açúcar total recuperável (ATR) em virtude da expectativa da eficiência do manejo de fertilização, além da execução da colheita no cronograma estimado.
Rio Grande do Norte
A estimativa é de crescimento na área colhida de cana-de-açúcar.
Houve um pequeno atraso no início da colheita devido às chuvas na região canavieira, o que não foi um problema para o setor, segundo a Conab.
O comum é que a colheita tenha início no final de julho e início de agosto, contudo o breve atraso favoreceu o desenvolvimento da cultura no campo com nível de ATR ótimo para o esmagamento e processamento.
Maranhão
Entre janeiro e março de 2023, ocorreram chuvas volumosas, ainda que em menor quantidade, em relação ao ano anterior, com volumes acumulados entre 400 mm e 1.200 mm, com manutenção do armazenamento de umidade do solo.
No entanto, nas áreas de produção de cana-de-açúcar houve ausência de chuvas nesse período. A restrição hídrica facilitou a maturação para a colheita.
A estimativa de área colhida também é maior em relação à safra 2022/23. A ampliação na área de corte dessa safra se deve ao aumento das áreas de renovação e expansão dos canaviais em 2022.
Dessa forma, a produção total de cana-de-açúcar da safra 2023/24 esperada é superior que a produção da safra anterior. A elevação da produção é em decorrência da expansão de área de corte quanto do aumento de produtividade das lavouras. O ATR geral é o mesmo estimado no levantamento anterior.
Tocantins
Para a temporada 2023/24, as lavouras se encontram em bom estado, relata a Conab.
A previsão é que tenha um crescimento na produtividade e produção com cana-de-açúcar em relação à safra 2022/23.
O total estimado de cana-de-açúcar apresenta um crescimento em relação ao fechamento da safra passada, sendo que entre os principais motivos estão os atrelados aos manejos preventivos para o controle de pragas, doenças e irrigação.
O custo de produção vem sendo afetado pelo acentuado aumento de preços na cadeia de insumos, associado à baixa cotação de preços do etanol.
Sergipe
As condições climáticas continuam favoráveis para o desenvolvimento da cana-de-açúcar na safra 2023/24. As chuvas continuam bem distribuídas ao longo dos meses que compreendem a atual safra de cana-de-açúcar, visto que em maio e junho as precipitações ocorreram bem acima da média histórica.
As condições climáticas favoráveis, em virtude da ocorrência de precipitações regulares e volumosas durante a safra, vêm criando um cenário propício para o bom desenvolvimento da cultura.
Piauí
Na área geográfica que compreende a produção de cana-de-açúcar no Piauí, localizada em municípios da região centro-norte do estado, o volume de chuvas ocorrido em 2022 foi bastante satisfatório. O acumulado em 2023, até julho, foi menor que a média do mesmo período da safra anterior. Porém, mesmo com a redução do índice pluviométrico, as lavouras se encontram em boas condições, assegurando boa produtividade para esta safra, atesta a Conab.
Na safra 2023/24, houve redução na área total de cana-de-açúcar do estado, redução atribuída à área de fornecedores. Quanto à produtividade, fatores como índices pluviométricos, lavouras majoritariamente mais novas, com área de renovação de cana-de-açúcar de 12 meses, segundo e terceiro cortes representando quase metade da área, e investimento em irrigação, têm contribuído para a obtenção de produtividade média superior à da safra anterior.
Pará
A estimativa é de aumento na produção de cana-de-açúcar em relação à safra anterior. Esta elevação se justifica, principalmente, ao aumento na área, mas também pela quase manutenção da produtividade, justificados pela maior colheita de talhões de primeiro corte, mais produtivos, aliados às boas práticas no campo e ao clima favorável.
No Pará, a colheita iniciou em maio e se estenderá por todo o período seco, que encerra em novembro.
Amazonas
Para esta safra, a perspectiva continua sendo de uma produtividade média que representa um crescimento quando considerado a safra anterior. Registra-se que as lavouras sofreram influências negativas do excesso de chuvas ocasionadas pelo efeito do La Niña.
Atualmente a destinação do bagaço da moagem da cana-de-açúcar é exclusivamente para a geração de energia.