Como as usinas ajudam o agro a fortalecer a região Centro-Oeste
Por Delcy Mac Cruz
Estados como Goiás e Mato Grosso avançam em número de moradores e em geração de renda.
Não é novidade nenhuma falar sobre o peso do agronegócio no PIB do Brasil. Apenas no primeiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto cresceu 1,3%, segundo estimativa da consultoria MB Agro. E, desse crescimento, o agronegócio responde por 1 ponto porcentual.
Já em termos de renda, o agro deve fechar o ano em R$ 1 trilhão do qual, conforme relato da consultoria, R$ 647 bilhões são do setor agrícola, em cenário marcado pela safra recorde de grãos e por exportações em alta.
Vale destacar que a safra recorde, mais a valorização do real, podem reduzir o peso do agro no PIB de 2024. Mas mesmo que isso ocorra, a renda agropecuária, segundo especialistas, deverá cair em 1% ante a do ano em andamento.
Sendo assim, mesmo com a propalada queda, a renda do agro vai a R$ 900 bilhões.
Fora a robusta participação no PIB brasileiro, o agro tem papel que se consolida prioritário em termos de geração de renda, de impostos e em avanço social.
No caso, essa comprovação se dá pelos resultados iniciais do Censo 2022, recentemente divulgados.
ESTADOS DO CENTRO-OESTE AVANÇAM EM ATRAÇÃO
Conforme o levantamento do IBGE, estados da região Centro-Oeste do país se destacam pelo crescimento populacional ante outras regiões que antigamente lideravam em atração de novos moradores, caso dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Ou seja, entre 2010 (quando foi realizado o Censo anterior) e 2022, a população paulista avançou 7,5%. Melhor dizendo: o total de moradores saiu de 41,3 milhões para 44,4 milhões.
Já a população do Rio de Janeiro se manteve. Ou seja, em 2010 os cariocas somavam 15,9 milhões e chegaram a 16 milhões.
Vale lembrar que São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro seguem sendo os estados mais populosos do país. E, segundo os primeiros resultados do Censo, os três concentravam 39,9% da população brasileira.
Entretanto, em se tratando de crescimento populacional entre um Censo e outro, em estados do Centro-Oeste a situação é diferente.
Tome o exemplo de Goiás: em 2010 os goianos eram 6 milhões e, em 2022, chegaram a 7 milhões, em alta de 17%.
Vamos ao Mato Grosso: dos 3 milhões de moradores do Censo anterior, hoje eles somam 3,7 milhões, em crescimento de 23%.
Outro exemplo de avanço está no Mato Grosso do Sul: o número de moradores, que era de 2,4 milhões em 2010, chegou em 2022 a 2,8 milhões, em alta de 17%.
QUAL O MOTIVO DA ALTA POPULACIONAL?
Simples: o Centro-Oeste atrai cada dia mais pessoas porque se tornou um polo de oportunidades.
E é o agronegócio quem está à frente desse polo.
Na verdade, trata-se de um ecossistema puxado por um player.
Exemplificando: se uma indústria chega a um município então tipicamente rural, aos poucos essa localidade precisará acomodar os profissionais da companhia, o que incentivará a construção civil e os serviços.
“Isso motiva todas as ondas de migração e ainda está acontecendo”, relata, em entrevista à BBC News Brasil, Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor de economia, administração e sociologia na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
“Antes, migrar para a região era uma grande aventura, mas isso mudou e virou uma referência no crescimento e geração de emprego, ao contrário de outras que estão em estagnação”, relata.
PESO DAS PLANTAS DE ETANOL
É em meio a esse salto do agro no Centro-Oeste que entram as plantas produtoras de etanol e de açúcar.
Goiás e Mato Grosso, para ficar em dois dos estados da região, são tradicionais produtores de biocombustível.
Conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), existem 42 instalações produtivas em Goiás, e 22 no Mato Grosso.
Mas a essas 64 unidades devem se somar às 17 novas que, conforme a ANP, estão sendo implantadas em Goiás, e às 6 em fase de implantação no Mato Grosso.
Tem mais: a Agência lista 59 unidades goianas em ampliação e 8 outras matogrossenses que também estão sendo ampliadas (acesse aqui o levantamento da ANP).
Pegue-se, agora, o número de vagas diretas e indiretas em cada uma dessas plantas produtoras.
Não é fácil dizer com exatidão qual o número médio de vagas em uma planta, isso porque o avanço tecnológico reduz a demanda de outrora.
Melhor dizendo: uma usina de cana tinha por baixo 1,5 mil colaboradores na década de 80. Hoje, entre vagas diretas e indiretas, o número pode estar entre 500 e 1 mil.
Sendo assim, os 23 novos empreendimentos de etanol e de açúcar em Goiás e no Mato Grosso geram pelo menos 10 mil vagas diretas e indiretas.
São novos moradores qualificados e com renda chegando a municípios com novas plantas de biocombustíveis como Campo Novo dos Parecis, Sorriso e Tapurah, no Mato Grosso; e em Anicuns, Itumbiara e em Itumbiara, em Goiás.
Enfim, a chegada dos profissionais atesta a estratégia das plantas produtoras de etanol e de açúcar como geradoras de renda e de transformação social em estados como os da região Centro-Oeste.
Os dados do Censo 2022, divulgados pelo IBGE, confirmam uma realidade vivenciada há anos por aqueles que trabalham no setor Agro.
O Brasil está passando por um processo de interiorização, um movimento contrário ao que presenciamos no passado.
Essa mudança é impulsionada principalmente pelo crescimento significativo do Agronegócio nos últimos anos. Tive a oportunidade de testemunhar e acompanhar de perto essa evolução.
Do Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas, atravessando regiões tradicionais como o interior de São Paulo e do Paraná, até os Estados da região Centro-Oeste, como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o impacto é visível.
O setor rural, a agroindústria associada e as pequenas e médias cidades estão gerando empregos e impulsionando o crescimento local.
Com a chegada de novos moradores, essas comunidades expandem seus negócios e serviços.
Essas cidades estão experimentando um cenário de pleno emprego, onde empresas e agricultores enfrentam dificuldades para preencher todas as vagas necessárias para a operação. Tenho mencionado há tempos, em conversas com amigos e familiares, a importância de os jovens e recém-formados prestarem mais atenção às oportunidades que essas regiões estão oferecendo e considerarem abraçar uma nova vida.
É hora de explorar novos horizontes e se envolver em um setor em constante expansão.
O Agro não se limita apenas às atividades agrícolas, mas abrange uma ampla gama de oportunidades, desde a tecnologia aplicada ao campo até a gestão de negócios agropecuários.
Essa é uma chance de fazer a diferença, contribuir para o desenvolvimento econômico do país e desfrutar de uma qualidade de vida única que essas regiões oferecem.
Vamos juntos impulsionar o crescimento sustentável do Agro e construir um futuro promissor para o Brasil, valorizando as oportunidades e o potencial dessas regiões em ascensão. Esteja aberto a novas possibilidades e permita-se explorar os caminhos que o Agro tem a oferecer!
*Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) e do Fórum Nacional Sucroenergético (FNS)