Como as usinas se preparam para enfrentar a estiagem e riscos de novos incêndios
Como as usinas se preparam para enfrentar a estiagem e riscos de novos incêndios
Em 2024, ocorrências foram responsáveis por prejuízos de R$ 2,6 bilhões a companhias bioenergéticas da região Centro-Sul
Imagem: Divulgação/Arquivo / Delcy Mac Cruz
A safra de cana anterior, a 2024/25, foi marcada por estiagem severa e incêndios em canaviais de São Paulo, Minas Gerais e outros estados da região Centro-Sul do País.
Para se ter ideia, 414 mil hectares da região foram afetados pelo fogo, o que representa pouco menos de 10% dos 560 milhões de hectares canavieiros do Centro-Sul. Mas o prejuízo financeiro chegou a R$ 2,67 bilhões (leia mais aqui).
As companhias bioenergéticas têm tradição em campanhas e estratégias preventivas contra eventos climáticos, caso da estiagem.
Ocorre que, em 2024, parte dos incêndios foram criminosos.
E quem garante que eles não serão repetidos neste ano, em que deverá haver menos cana-de-açúcar à disposição?
Ações contra o ‘inimigo’
Diante disso, usinas empreendem ferramentas e ações para enfrentar o possível ‘inimigo’ climático que no ano passado ‘atacou’ principalmente entre agosto e setembro.
O blog da Fenasucro destaca a seguir exemplos de como as companhias de bioenergia fazem para enfrentar possíveis novos problemas climáticos - e mesmo criminosos, caso dos incêndios provocados.
Tereos: vinhaça localizada
Para enfrentar os efeitos da seca prolongada que atingiu o país no ano passado e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a Tereos iniciou na safra 24/25 um projeto de aplicação de irrigação de salvamento em canavial com a utilização de vinhaça, subproduto da produção de etanol.
A solução foi desenvolvida e começou a ser testada em 2021, ano que também foi marcado por forte seca na região Centro-Sul, uma das principais produtoras de cana-de-açúcar do país.
Os testes apresentaram um bom desempenho, mas a solução não precisou ser utilizada até 2024, quando novamente os efeitos climáticos afetaram a produção.
Para realizar a irrigação de salvamento utiliza-se a mesma estrutura de aplicação de vinhaça localizada, com o objetivo de aumentar a quantidade de água aplicada no solo.
Na prática, a aplicação em cada propriedade é realizada numa dose maior, respeitando o limite do Plano de Aplicação de Vinhaça (PAV), já que a vinhaça é composta por mais de 90% de água.
Dessa forma, a hidratação adicional disponibilizada auxilia na absorção de nutrientes e brotação da cana nos períodos críticos.
Em 2024, cerca de 20% das áreas próprias da Tereos – o equivalente a mais de 30 mil hectares de cana – receberam a irrigação de salvamento com vinhaça, especialmente entre os meses de junho e agosto, período em que o canavial mais sente os efeitos da seca.
Com a operação de salvamento, é esperado que a perda de produtividade seja menor do que nas áreas tratadas de maneira convencional.
Raízen: carreatas
Com a chegada da temporada de seca, que aumenta os riscos de incêndios e propagação de fogo em áreas de canaviais, matas e nas proximidades de rodovias, a Raízen retoma suas carreatas com foco na conscientização da população.
A primeira delas, no começo de junho, foi na cidade de Morro Agudo (SP). Durante o trajeto, foi realizada uma blitz com a distribuição de cartilhas que apresentam as ações de prevenção da companhia, além de orientações práticas para evitar focos de incêndio.
O material também informa como a população pode solicitar ajuda ao identificar fumaça, por meio do canal da companhia, 0800 770 22 33, além de poder contar com o apoio do Corpo de Bombeiros, pelo número 193. Participam também da carreata a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e fornecedores.
A ação faz parte da campanha “Quem ama a terra, não chama o fogo” e tem como objetivo engajar a população com atitudes simples e eficazes no dia a dia.
A iniciativa reforça o trabalho contínuo da companhia e dos órgãos públicos no enfrentamento dos incêndios, especialmente durante o período crítico da seca, entre maio e outubro.
Com operações nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, a Raízen mobiliza colaboradores, fornecedores, parceiros e a sociedade como um todo para atuarem juntos na prevenção.
Usina Lins: campanha com instituições
Com o tema “O fogo apaga tudo, até o que não pode ser substituído”, foi realizada em maio na sede da Usina Lins, em Lins (SP), a cerimônia de lançamento da quinta edição da campanha “Juntos Prevenindo Incêndios”.
A iniciativa reúne 32 instituições públicas e privadas para fortalecer a conscientização, prevenção e combate aos incêndios, especialmente durante a época de estiagem.
A edição deste ano reforça a importância da responsabilidade coletiva e do papel de cada cidadão na prevenção de incêndios, destacando que pequenas atitudes do cotidiano podem evitar grandes tragédias ambientais.
A campanha 2025 foi estruturada com foco na preservação da vida humana, animal e vegetal,
ressaltando os danos irreversíveis que o fogo pode causar.
As ações envolvem uma ampla mobilização regional com o uso de materiais educativos e informativos em diferentes plataformas de comunicação.
Entre os meses de junho e outubro, período crítico para a ocorrência de queimadas, estão previstas divulgações em mídias online e offline, como outdoors, paineis eletrônicos em rodovias, placas educativas, adesivos veiculares, folheto educativo, anúncios em jornais e revistas, postagens em redes sociais, palestras em escolas e treinamentos com brigadas de incêndio.
Zilor: campanha junto com associação de plantadores
A Zilor Energia e Alimentos lançou a campanha “Juntos Contra o Fogo – Prevenir é Proteger”, em parceria com a Ascana (Associação dos Plantadores de Cana do Médio Tietê).
A ação, lançada no fim de maio, tem como objetivo prevenir e combater incêndios em canaviais, áreas de preservação permanente (APPs) e matas ciliares da região, reforçando o compromisso da companhia com práticas sustentáveis, proteção ambiental e valorização da biodiversidade.
“Para enfrentar o período seco, é essencial atuar em três frentes: promover a conscientização para evitar focos de incêndio, manter brigadas treinadas e ágeis, e contar com o apoio da comunidade, que pode acionar o 0800 da Zilor em caso de fumaça. A prevenção é o caminho mais eficaz para reduzir os danos causados pelo fogo”, afirma Cláudio Campanholi, gerente de Parcerias Agrícolas da Zilor.
A campanha da Zilor e da Ascana será realizada até outubro, período de maior risco de queimadas, com ações educativas, ambientais e operacionais voltadas a colaboradores, escolas e comunidades.
O foco é promover a conscientização sobre os impactos do fogo na qualidade do ar, na produção agrícola e na vida animal e vegetal da região.
Entre as ações previstas estão, por exemplo, capacitação de colaboradores; monitoramento estratégico por câmeras e campanha publicitária regional.