Como reduzir o Custo Brasil, segundo Rosana Amadeu, presidente do CEISE Br

Por Delcy Mac Cruz

Em entrevista, executiva avalia também os impactos da Lei do Aço, proposta por ela apresentada ao governo paulista

Crédito da imagem: Ceise BR - Divulgação 

 

O Custo Brasil segue uma barreira para empresas como as fornecedoras do setor sucroenergético.

É um problema que se agrava ainda mais com o avanço da produção de etanol no exterior, mercado em que as empresas brasileiras de bens de capital dominam a tecnologia, mas enfrentam a concorrência em termos de preços.

Mas é possível, sim, reduzir esse Custo Brasil.

É do que trata Rosana Amadeu, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE Br) em entrevista exclusiva ao blog Fenasucro.

 

Confira a entrevista:

 

O custo Brasil sempre foi uma pedra no ‘calcanhar’ dos fornecedores do setor. O que precisamos fazer (com urgência) para disputar em pé de igualdade em mercados que se abrem para o etanol?

 

 

Rosana Amadeu - O alto "Custo Brasil" representa um desafio histórico para os fornecedores brasileiros de etanol, limitando sua competitividade no mercado internacional.

Com a crescente demanda global por etanol, especialmente em países como a Índia, que planeja adicionar 20% de etanol à gasolina até 2026, é crucial que o setor brasileiro tome medidas urgentes para se tornar mais competitivo.

 

Ações urgentes para reduzir o "Custo Brasil":

 

1. Logística e Infraestrutura:

 

⦁        Otimização da cadeia logística: Reduzir custos de transporte e armazenamento através da otimização de rotas, investimentos em multimodalidade e integração entre diferentes modais de transporte.

⦁        Modernização da infraestrutura: Investir na modernização de portos, rodovias, ferrovias e aeroportos para aumentar a eficiência e reduzir custos logísticos.

⦁        Desburocratização: Simplificar processos administrativos e reduzir a burocracia para agilizar o transporte e o comércio de etanol.

 

2. Melhoria da produtividade:

 

⦁        Inovação tecnológica: Adotar novas tecnologias na produção agrícola e industrial para aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a qualidade do etanol.

⦁        Pesquisa e desenvolvimento: Investir em pesquisa e desenvolvimento para aprimorar os processos de produção, desenvolver novas variedades de cana-de-açúcar e buscar soluções inovadoras para os desafios do setor.

⦁        Profissionalização da mão de obra: Investir na qualificação e treinamento da mão de obra para aumentar a produtividade e reduzir custos com mão de obra.

 

3. Incentivos governamentais:

 

⦁        Incentivos fiscais: Implementar políticas de incentivos fiscais para a produção e exportação de etanol, reduzindo a carga tributária e tornando o setor mais competitivo.

⦁        Crédito e financiamento: Facilitar o acesso a crédito e financiamento para o setor, permitindo investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação.

⦁        Promoção internacional: Promover o etanol brasileiro no mercado internacional através de campanhas de marketing, participação em feiras e eventos internacionais, e acordos comerciais com outros países.

 

4. Cooperação entre os setores:

 

⦁        Fortalecimento das entidades do setor: Fortalecer as entidades do setor de etanol para que representem os interesses dos produtores, exportadores e demais envolvidos de forma mais eficaz.

⦁        Colaboração entre empresas: Incentivar a colaboração entre empresas do setor para compartilhar conhecimentos, tecnologias e boas práticas, buscando soluções conjuntas para os desafios comuns.

⦁        Diálogo com o governo: Manter um diálogo aberto e constante com o governo para discutir políticas públicas, buscar soluções para os problemas do setor e garantir um ambiente de negócios mais favorável.

 

Isso tudo exige esforço conjunto?

 

Rosana Amadeu - Enfrentar o "Custo Brasil" e se tornar competitivo no mercado global de etanol exige um esforço conjunto do setor privado e do governo.

As ações urgentes descritas acima, como otimização da logística, investimento em tecnologia, profissionalização da mão de obra, incentivos fiscais e cooperação entre os setores, são essenciais para que o setor brasileiro de etanol possa aproveitar as oportunidades que se abrem no mercado internacional, como a crescente demanda por etanol na Índia.

Ao implementar essas medidas de forma rápida e eficaz, o setor brasileiro de etanol poderá superar os desafios do "Custo Brasil" e se posicionar como um player competitivo e relevante no mercado global de etanol, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do país e a geração de renda e emprego.

 

Lei do Aço: Por que essa propositura, apresentada recentemente pelo CEISE Br ao governo de São Paulo, é tão estratégica para o setor de bens de capital focado em setores como o sucroenergético?

 

Rosana Amadeu - A recente proposta da "Lei do Aço" no Estado de São Paulo surge como uma iniciativa estratégica para o setor de bens de capital, com foco em áreas como o sucroenergético, papel e celulose, e outros.

Para compreender a relevância dessa proposta, é crucial analisar seus objetivos, benefícios potenciais e impacto esperado em cada um dos setores mencionados.

 

A Lei do Aço visa, principalmente, estimular o desenvolvimento da indústria metalmecânica paulista, através da concessão de incentivos fiscais e da criação de um ambiente regulatório mais favorável.

 

Entre os principais objetivos específicos, podemos destacar:

 

⦁        Redução da carga tributária: A lei prevê a redução da alíquota do ICMS para produtos siderúrgicos, diminuindo os custos de produção das empresas do setor de bens de capital.

⦁        Atração de investimentos: A criação de um ambiente fiscal mais vantajoso visa atrair novas empresas para o estado, impulsionando a geração de empregos e o desenvolvimento tecnológico.

⦁        Fortalecimento da competitividade: Ao reduzir custos e atrair investimentos, a Lei do Aço busca tornar as empresas paulistas mais competitivas no mercado nacional e internacional.

 

Benefícios para o setor de bens de capital:

 

Os benefícios da Lei do Aço para o setor de bens de capital se traduzem em diversos aspectos:

 

⦁        Redução de custos: A diminuição da carga tributária impacta diretamente nos custos de produção, tornando os produtos finais mais competitivos.

⦁        Aumento da competitividade: Com custos reduzidos e maior acesso à tecnologia, as empresas do setor se tornam mais competitivas no mercado, tanto internamente quanto externamente.

⦁        Estímulo à inovação: O ambiente favorável à pesquisa e desenvolvimento, impulsionado pela lei, incentiva a criação de novas tecnologias e produtos inovadores.

⦁        Expansão do mercado: Com produtos mais competitivos e inovadores, as empresas podem expandir sua participação no mercado, tanto em São Paulo quanto em outras regiões do país.

 

Impacto nos setores sucroenergético, papel e celulose:

 

Os setores sucroenergético e de papel e celulose, que dependem fortemente dos bens de capitais para suas operações, serão diretamente beneficiados pela Lei do Aço:

 

⦁        Redução de custos na produção: A indústria sucroenergética e a de papel e celulose poderão reduzir seus custos de produção com a aquisição de bens de capitais a preços mais competitivos.

⦁        Aumento da eficiência operacional: O acesso a bens de capitais mais modernos e eficientes pode levar a um aumento na produtividade e na qualidade dos produtos finais.

⦁        Estímulo à investimentos: Com a perspectiva de um mercado mais favorável, as empresas desses setores podem investir em novas tecnologias e na expansão de suas operações.

 

A propositura fortalece também a competitividade?

 

Rosana Amadeu - A Lei do Aço se configura como uma proposta estratégica para o desenvolvimento do setor de bens de capital em São Paulo, com impacto positivo em diversos setores da economia, como o sucroenergético, papel e celulose.

Ao reduzir custos, aumentar a competitividade e estimular a inovação, a lei contribui para a geração de empregos, o crescimento da economia e a consolidação do estado como um importante polo industrial.

 

Qual sua avaliação sobre a reforma tributária? Organiza, burocratiza? O setor de bens de capital e serviços nacionais tende a ganhar ou a perder?

 

Rosana Amadeu -  A reforma tributária, promulgada em dezembro de 2023, ainda em fase de implementação gradual, gera efeitos distintos para diferentes setores da economia. Avaliar se ela organiza ou burocratiza o sistema depende da análise específica de cada caso.

 

⦁        Simplificação e combate à guerra fiscal:

 

A reforma busca simplificar o sistema tributário brasileiro, substituindo cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), federal, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), estadual e municipal. Essa mudança tem o potencial de organizar o sistema, reduzindo a carga tributária e a burocracia para as empresas, especialmente para o setor de serviços.

 

⦁        Efeitos no setor de bens de capital e serviços:

 

O impacto da reforma no setor de bens de capital e serviços nacionais ainda é incerto e dependerá da implementação das leis complementares que definirão as alíquotas e regras específicas para cada tributo.

 

⦁        Possíveis benefícios:

 

Redução da carga tributária: A unificação dos tributos pode levar à redução da carga tributária para alguns setores, especialmente para aqueles que atualmente pagam PIS e Cofins sobre a receita bruta. Isso pode estimular o investimento e a produção, beneficiando o setor de bens de capital e serviços nacionais.

Fim da guerra fiscal: A reforma também busca acabar com a guerra fiscal entre estados, em que empresas se mudam para pagar menos impostos. Isso pode criar um ambiente de negócios mais justo e beneficiar empresas que competem em igualdade de condições.

 

⦁        Possíveis desafios:

 

Aumento da carga tributária: Para alguns setores, a reforma pode levar a um aumento da carga tributária, especialmente se as alíquotas do CBS e IBS forem definidas em níveis altos. Isso pode prejudicar a competitividade das empresas nacionais.

Complexidade da implementação: A implementação da reforma é complexa e pode levar tempo para que seus efeitos sejam totalmente sentidos. As leis complementares que definirão as regras específicas para cada tributo ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional.

 

A seu ver, os efeitos da reforma dependem de leis complementares?

 

Rosana Amadeu -  A reforma tributária brasileira tem o potencial de organizar o sistema tributário e beneficiar o setor de bens de capital e serviços nacionais, mas seus efeitos finais dependerão da implementação das leis complementares e das alíquotas que serão definidas para cada tributo.