Manutenção de mistura de biodiesel compromete investimentos milionários no setor
Manutenção de mistura de biodiesel compromete investimentos milionários no setor
A partir de março, o óleo diesel teria 15% de adição do renovável, mas foram mantidos os 14% de antes
Foto: Raízen / Delcy Mac Cruz
A mistura de biodiesel no litro do óleo diesel, que subiria para 15% neste mês de março, foi mantida em 14%, segundo decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
A medida ajuda a segurar o preço dos alimentos, segundo a Agência Brasil, porque “a elevação da mistura para 15% encareceria o combustível, usado no transporte de cargas, com impacto no preço da comida.”
Lideranças do agronegócio criticaram a posição do CNPE.
Entre elas está o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), presidente da Comissão Especial da Transição Energética e Produção de Hidrogênio Verde da Câmara Federal.
Segundo ele, a suspensão de ampliação da mistura do renovável no diesel fóssil “desorganiza uma cadeia produtiva que se planejou para atender às regras estabelecidas pela Lei Combustível do Futuro”, da qual ele foi relator do projeto de criação.
Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biodiesel (Aprobio), afirma, em nota, que a decisão do órgão do governo irá “comprometer o desempenho de toda a cadeia produtiva, colocando em risco altos volumes de investimentos anunciados.”
Como fica a indústria com a manutenção da mistura?
A previsão do aumento anual das vendas de biodiesel em um cenário de mudança da mistura para 15% a partir de março/25 era de 1,2 bilhão de litros, totalizando um volume demandado de 10,2 bilhões de litros no ano.
Com a manutenção do B14 ao longo de todo o ano de 2025, as projeções passam para um crescimento anual de 600 milhões de litros, alcançando um volume de 9,6 bilhões de litros, destaca a Associação dos Produtores de Biodiesel (Aprobio).
Vale destacar que a alteração também gera impactos sobre as estimativas de consumo de óleo de soja para a geração de biodiesel. Isso porque 70% do biodiesel feito no Brasil utiliza como matéria-prima a soja.
Freio nos aportes
Atentas ao potencial de aumento de demanda de biodiesel gerado pela Lei Combustível do Futuro, que pode chegar a 25% em 2030, a cadeia do setor projetou investimentos de R$ 6,8 bilhões até 2027.
Essa previsão, no entanto, depende, agora, da retomada do crescimento gradativo da mistura do renovável ao fóssil.
É que a decisão de manutenção de 14%, tomada em 18 de fevereiro pelo CNPE, ficou de ser reavaliada na próxima reunião do colegiado. A data, no entanto, não foi marcada até a conclusão deste texto.
Quando o biodiesel começou a ser adicionado ao diesel?
O renovável entrou no mercado em 2009, quando o CNPE estabeleceu mistura obrigatória de 5% ao derivado do petróleo.
Hoje, o acréscimo é de 14% no chamado diesel B (que contém biodiesel).
Segundo o Ministério de Minas e Energia, no período de 20 anos foram produzidos 77 bilhões de litros e a oferta ajudou o país a economizar na importação de diesel (isso porque o Brasil precisa complementar a oferta com óleo comprado no exterior).
Com essa economia, o país deixou de gastar US$ 38 bilhões em importação do óleo, destaca a Agência Brasil, ao citar o Ministério.
Mas tem, também, o ganho ambiental.
É que o biodiesel emite bem menos gases formadores de efeito estufa ante o concorrente fóssil.
Estudo da Embrapa atesta que as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) pelo biodiesel são 70% menores em relação às do diesel de óleo.