País ganha quatro novas unidades de etanol e de açúcar
Por Delcy Mac Cruz
Conheça cada uma delas, que entram em operações em 2023
Crédito da imagem: Udop
O setor sucroenergético deverá estrear pelo menos quatro novas unidades produtoras em 2023.
Elas representam investimentos da Nardini, Raízen, Neomille/Cerradinho Bio e da Usina Coruripe.
Das novas unidades, três produzirão biocombustível e uma fabricará o adoçante.
Em projeção, as unidades terão condições de chegar no primeiro ano de produção a 689 milhões de litros de etanol.
Já a fábrica de açúcar terá capacidade de 187 mil toneladas de açúcar VHP por safra, como é chamado o período produtivo das usinas de cana, equivalente a média de 210 dias do ano.
Confira detalhes de cada um dos novos empreendimentos:
Nardini Unidade Aporé
Empreendimento cujo ‘sonho’ começou há 15 anos, a Unidade Aporé da Nardini Agroindustrial, localizada no município de mesmo nome em Goiás, deverá iniciar sua primeira safra em abril de 2023.
Com investimentos estimados em R$ 500 milhões, a Unidade irá gerar mais de 1 mil empregos diretos, segundo o Relatório Anual de Sustentabilidade 2021-22 da Nardini.
No primeiro ano de safra, a Unidade deverá moer 800 mil toneladas de cana. A moagem aumentará ano a ano até chegar a 3 milhões de toneladas.
Segundo o Relatório, a nova Unidade irá produzir etanol hidratado e energia elétrica.
A produção de biocombustível deverá alcançar 70 milhões de litros no primeiro ano, com a expectativa de chegar a 300 milhões de litros.
Para se ter ideia, a unidade matriz da Nardini, em Vista Alegre do Alto (SP), comercializou 121 milhões de litros de etanol anidro e hidratado em 2021.
No caso de energia elétrica, a Unidade Aporé tem capacidade de produção de 70 mil megawatts (MW) na primeira safra, com posteriores 300 mil MW. É o equivalente ao consumo de 27 mil famílias por ano.
Já em 2021 a Unidade matriz comercializou 156,9 mil megawatts-hora (MWh) de eletricidade feita do bagaço de cana.
Enquanto não entra em operação, a Unidade Aporé operou como fornecedora de cana e produtora de alimentos.
A Nardini informa no Relatório que toda a produção de cana de Aporé referente a safra 21/22 foi comercializada.
Já em termos de produção de alimentos, a Unidade de Aporé entrou na 13ª safra de amendoim. “Temos a previsão de colheita de 104 mil sacas”, relata em nota Edmar Ravazi, supervisor de operações da Unidade.
Raízen: novas plantas de E2G
Entre 2023 e 2027, a Raízen construirá 5 novas plantas de etanol de segunda geração (E2G). Juntamente com planta já em operação e três outras em implantação, a companhia, que é joint-venture entre Cosan e Shell, totalizará 9 plantas em 2027.
As 5 novas plantas totalizaram investimentos da ordem de R$ 6 bilhões e a produção delas atenderá contrato com a Shell cujo anúncio foi feito em outubro. A Raízen entregará 3,3 bilhões de litros do biocombustível ao longo de uma década.
Leia aqui comunicado ao mercado da Raízen sobre o assunto.
A primeira das novas unidades deverá iniciar operações em 2023 em Piracicaba (SP), sede da unidade de E2G já em funcionamento.
Todas as novas plantas terão capacidade para produzir 82 milhões de litros de ESG por ano. A matéria-prima é composta de resíduos da cana, caso da palha e do bagaço.
Vale lembrar que o mercado internacional paga mais pelo E2G por conta de sua menor pegada de carbono em relação a outros biocombustíveis. Outro atributo do E2G é que ele não necessita de área agrícola adicional para produção.
Cerradinho: 2ª unidade de etanol de milho
Com unidade produtora de etanol de cana-de-açúcar em Chapadão do Céu (GO), a Cerradinho Bio estreou também na produção de biocombustível de milho a partir da subsidiária Neomille, criada em 2019.
Localizada ao lado da unidade de cana, ela tem capacidade anual de produção de 245 milhões de litros de etanol a partir de 580 mil toneladas de milho.
Com isso, no total a Cerradinho alcançou 675 milhões de litros de etanol hidratado na safra 2020/21, dos quais 431 milhões de litros da unidade de cana.
Vale lembrar que a unidade de milho também fabrica 175 mil toneladas de DDGS (fontes protéicas de alimentação animal) e 7 mil toneladas de óleo de milho.
Capacidade: 45% maior
No entanto, a Neomille já recebe investimentos de ampliação, segundo Paulo Motta, diretor-presidente da Cerradinho Bio.
Em evento realizado em outubro pelo Nova Cana, ele destacou dois projetos em andamento. Um deles é a ampliação da Neomille goiana. O outro é a construção de uma nova planta em Maracaju (MS).
Com isso, a capacidade da Cerradinho crescerá em cerca de 45%, chegando o equivalente a 13 milhões de toneladas de cana, sendo que esse avanço será feito por meio do milho.
A produção da nova unidade deverá alcançar 537 milhões de litros de etanol por ano, além de produtos como a fonte protéica animal DDG (1.086 toneladas ao dia) e óleo de milho (58 mil litros por dia).
A expectativa é de que, durante as obras de implantação, a unidade de Maracaju gere 150 empregos diretos. Uma vez em funcionamento, deverão ser criados 2 mil empregos diretos e indiretos (leia mais a respeito aqui).
A previsão é de que a unidade entre em operação a partir do segundo semestre de 2023.
Coruripe: nova unidade de açúcar
A Usina Coruripe está entre os 10 maiores grupos sucroenergéticos do Brasil. Tem capacidade de moagem de 15,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e unidades produtoras em Alagoas e em Minas Gerais.
Essa capacidade, no entanto, irá crescer em pelo menos 1 milhão de toneladas apenas com o investimento atual na expansão da unidade em Limeira do Oeste (MG).
No caso, os aportes somam R$ 200 milhões, relata a Coruripe, e também são destinados à instalação de uma linha de produção de açúcar VHP (sigla para Very High Polarization, tipo de açúcar bruto, menos úmido). Hoje, a planta industrial é 100% produtora de etanol.
Com a nova planta, a Coruripe terá um acréscimo de produção de 187 mil toneladas de açúcar VHP por ano. Além disso, a capacidade de moagem em Limeira do Oeste sairá de 1,5 milhão para 2,5 milhões de toneladas por safra.
Tem mais: serão gerados aproximadamente 100 novos empregos diretos na região, relata a empresa.
Até março de 2024
A nova linha de produção surge a partir da aquisição feita pela Coruripe, em 2021, dos ativos da Usina Corol, no Paraná, transferidos para Limeira do Oeste.
A previsão de conclusão das reformas e da instalação das novas máquinas é em março de 2024.
Conforme Mario Lorencatto, presidente da Usina Coruripe, os investimentos têm importância não somente para Limeira do Oeste, mas para todo o país.
“Sem dúvida, esse novo investimento da companhia vai gerar um grande desenvolvimento, bem como ampliar as possibilidades de negócios da região”, ressalta ele em nota.
Por sua vez, Thierry Soret, diretor-financeiro da companhia, destaca: “a expansão da Unidade Limeira do Oeste representa um investimento estratégico, que consolida o Grupo Coruripe no Triângulo Mineiro, além da otimização da logística com a operação do novo terminal de Iturama.”
No caso, esse terminal foi inaugurado em junho deste ano e é operado dentro da Unidade Coruripe de Iturama, município do Triângulo Mineiro.
Fruto de investimentos de R$ 95 milhões, trata-se de unidade de transbordo rodoferroviário com capacidade para movimentar 2 milhões de toneladas de açúcar VHP por ano.
A produção da planta de Limeira do Oeste, localizada a 50 km de distância, será escoada pelo terminal recém-inaugurado.
RETRANCA
As avaliações de Alexandre Figliolino
Os investimentos das companhias sucroenergéticas nas novas unidades atestam o crescimento do setor sucroenergético. E cada uma tem motivação diferente.
Leia a seguir as avaliações de cada uma das novas unidades por Alexandre Figliolino, sócio diretor na MBAgro Consultoria e especialista no setor sucroenergético.
Nardini Aporé:
“É um projeto iniciado entre 2007 e 2008, que ficou parado em função dos anos de chumbo vividos pelo setor na primeira metade da década passada.
Mais recentemente, com a melhora do cenário, a paridade de preços internacionais da Petrobras, o RenovaBio, e com as excelentes remunerações que o setor propiciou nos anos 2020, 21 e 22, a empresa estava desalavancada e resolveu retomar o investimento.
A [Nardini Aporé fica] em uma região que parece muito propícia. É um local em que chove bem, com boa regularidade de incidências, tem região plana, e assim a companhia resolveu retomar o investimento.
A meu modo de ver, é uma decisão bastante acertada, até porque a Nardini já tinha [em Aporé] estrutura de conexão [com o sistema elétrico] para produzir e exportar eletricidade.”
Cerradinho Bio:
“A Cerradinho Bio tem se dado muito bem em seus investimentos em etanol de milho e resolveu partir para uma usina full [100% de produção a partir do milho] na região de Maracaju (MS).
A região foi muito estudada antes de a companhia decidir. Trata-se de uma região com boa oferta de milho e, mais que isso, tem boa oferta de biomassa necessária para mover a planta industrial.
Com isso, dado o sucesso anterior com a planta de etanol de milho, a Cerradinho partiu para esse investimento.”
Coruripe:
“No caso da Coruripe, também é outra decisão bastante acertada ao pegar uma unidade que só fazia etanol para torná-la flex [produtora de etanol e de açúcar].
Temos assistido diferença enorme entre o preço do açúcar e o do etanol hidratado que, neste ano, chegou em certos momentos a atingir 500 pontos.”
Raízen:
“Quanto ao etanol de segunda geração da Raízen, ela dominou e está muito confiante com a tecnologia.
Tem um mercado lá fora que paga prêmio bastante elevado por este etanol. Então a companhia resolveu, uma vez dominada a tecnologia e a operação de uma planta de E2G, escalar o projeto que tem tudo para dar certo.”