Por que o agro brasileiro se destaca na produção sustentável de alimentos?
por Delcy MAC Cruz
A colheita de grãos e fibras deverá alcançar 265,7 milhões de toneladas na safra deste ano, a 2021/22, segundo previsão de fevereiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do governo federal.
Como reflexo da forte seca que atingiu regiões produtoras, o volume estimado é 2,5 milhões de toneladas menor que a projeção de janeiro.
Ainda assim, a produção, se confirmada, representará um novo recorde, que até o momento pertence à safra 19/20, quando foram produzidas 257 milhões de toneladas.
Para se ter ideia do peso da atual safra brasileira, ela representa 11,6% da produção mundial de grãos e de fibras em 21/22, que segundo o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), é estimada em 2.281 bilhões de toneladas.
Ou seja, 12% de todos produtos agrícolas consumidos mundo afora saem do Paraná, São Paulo, Mato Grosso e dos demais estados com presença do agro.
Tem mais.
Além de garantir a segurança alimentar mundial, o agro brasileiro é peso pesado na balança comercial.
As exportações do setor representam em torno de 25% do seu PIB e aproximam-se da metade do total exportado pelo Brasil, relata Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, coordenador científico do Cepea, em artigo de janeiro último.
Com uma fatia de 37%, a China é o principal cliente do agro brasileiro, seguida da União Europeia, com 15%.
Conforme Barros, aproximadamente 44% do faturamento externo vem do complexo soja e 16% de carnes, o que atesta como as exportações são fundamentais para o agronegócio e para o Brasil.
Não é só.
Além de sua expressiva participação na economia local e como ativo de segurança alimentar, o agro brasileiro levanta a bandeira do Brasil no mundo por conta de a produção ser baseada em matriz energética limpa.
Melhor dizendo: o cultivo de milho e de cana é movido em sua maioria por hidrelétricas e energia de fontes como biomassa, solar e eólica, que são sustentáveis e emitem menos poluentes na comparação com térmicas a carvão ou a óleo, fontes de energia empregadas em países produtores de grãos.
“Brasil é o fornecedor mundial mais sustentável de alimentos”
Para entender mais a respeito, Energia Que Fala Com Você entrevista Marcos Fava Neves, especialista em agro e professor da FEA/USP.
Como o agro ajuda o Brasil em termos mundiais?
Marcos Fava Neves – O Brasil sai na frente como sendo o fornecedor mundial mais sustentável de alimentos, bioenergia e de outros agro-produtos.
Como assim?
Marcos Fava Neves – Em 2021, o agro brasileiro acumulou recordes nas vendas externas! Foram US$ 120,6 bilhões em exportações (+19,7%), que descontado os US$ 15,5 bilhões em compras (+19,2%), nos renderam um saldo de US$ 105,1 bilhões (+19,9%); US$ 17,4 bilhões a mais em um ano! É o nosso agro que segue contribuindo para o fortalecimento da economia e o desenvolvimento da nossa nação.
E o desempenho na economia?
Marcos Fava Neves – O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VPB) alcançou a incrível marca de R$ 1,129 trilhão, o que representa um crescimento de 10,1% frente a 2020 (R$ 1,025 trilhão), segundo dados apurados pelo Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento).
Detalhe este desempenho
Marcos Fava Neves – As lavouras faturaram R$ 768,4 bilhões (+12,7%), enquanto que a pecuária somou montante de R$ 360,8 bilhões (+4,9%).
Quem liderou entre as culturas?
Marcos Fava Neves – Com relação às culturas, grande destaque ficou por conta da soja, milho e algodão, que juntos representaram quase 50% do total.
Levando em conta as projeções iniciais – que descontam os impactos da guerra na Ucrânia -, qual é a projeção do VBP para 2022?
Marcos Fava Neves – Para 2022, o governo espera um VBP de R$ 1,2 trilhão, 4% superior ao obtido no ano passado.
O emprego de iniciativas sustentáveis ajuda?
Marcos Fava Neves – Sim, isto é conseguido tendo excelentes indicadores de sustentabilidade, seja em preservação de áreas, como em uso de biocombustíveis (tais como biodiesel, bioetanol, biometano, entre outros), energias renováveis, bioinsumos, agricultura regenerativa e outras tecnologias.
É desta forma que o agro nacional reforça a segurança alimentar mundial?
Marcos Fava Neves – Sim. O Brasil pode passar do abastecimento de quase 1 bilhão de pessoas para 2 bilhões, em condições vantajosas de sustentabilidade.