Por que mais países tendem a usar o etanol como aditivo à gasolina
Por Delcy Mac Cruz
Atualmente, 65 deles possuem regulamentação que estabelecem emprego do biocombustível
Créditos das imagens: Etanol: UDOP/Divulgação
Os ganhos permitidos pelo etanol ampliam o potencial dele ser adotado em mais países.
De longe, o combustível renovável, feito da cana-de-açúcar e do milho, é estratégico para liberar países da dependência de importação de combustíveis fósseis, cujos preços podem subir de hora para outra.
Não à toa, mais de 60 países já possuem mandatos (regulamentações) que estabelecem algum período de mistura de etanol à gasolina, relata a UNICA, entidade representativa do setor sucroenergético.
Esse avanço do biocombustível é destaque da Biofuels Digest, mídia dos EUA autora de levantamento que apresenta 65 países com mandatos em biocombustíveis (clique aqui para acessar pdf do estudo).
Além de proporcionar menor dependência de importação de fósseis como a gasolina, o etanol reforça posição mundo afora pelo seu potencial de descarbonização.
Em síntese, o biocombustível emite até 90% menos dióxido de carbono (CO2) do que a gasolina.
Veja o caso do Brasil, que tem experiência de quase 50 anos com o etanol, nascido em 1975 com o Programa Nacional do Álcool (Proálcool).
Apenas nas duas últimas décadas, segundo a UNICA, o uso do etanol no Brasil evitou que cerca de 600 milhões de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera.
Em termos comparativos, o montante evitado equivale a 25% das 2,4 bilhões de toneladas de CO2 emitidas pelo Brasil em 2021, conforme levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
Adesão crescente
Ou seja: ao proporcionar menos emissões de gases causadores do aquecimento global, o etanol gera ganhos ao meio ambiente e à saúde.
E é este outro motivo que acelera a adesão de mais países ao biocombustível.
Um deles é a Guatemala. A partir de 2024, a mistura de 10% de etanol à gasolina será obrigatória em todo o país, segundo o ministro de Energia e Minas, Alberto Pimentel, durante evento em novembro no Brasil (leia mais a respeito aqui).
Já a Índia, com população de 1,4 bilhão de habitantes, avisou que em 2025 tem por meta adicionar 20% de etanol ao combustível fóssil. Desde junho deste ano, a gasolina já recebe 10% do biocombustível.
Quer saber mais sobre países que já usam o etanol como aditivo? Clique aqui.
Como ampliar a oferta
Aliás, a Índia comunicou que defenderá uma aliança global sobre biocombustíveis na próxima reunião do G20 (leia aqui).
Em outras palavras, o etanol pode ganhar a adesão de mais países no curto prazo.
Entretanto, tem aí uma pedra gigante no meio do caminho: poucos países produzem hoje etanol. Estimativas dão conta de que 16 deles têm capacidade de produção seja a partir da cana ou do milho.
Diante disso, como atender mais nações interessadas pelo biocombustível?
Aliás, a baixa oferta foi discutida no seminário internacional “O Brasil e a ASEAN”, em Brasília.
Participante do evento, Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da UNICA, lembrou que “a produção de etanol hoje está muito concentrada em poucos países, sendo que mais de 100 nações produzem cana-de-açúcar.”
Segundo ele, “com um pequeno esforço, podem [partir para] a produção de etanol.”
Eduardo Leão de Sousa (primeiro a partir da direita), diretor da UNICA: expansão do etanol com apoio do Brasil (Crédito: UNICA)
Em linha com este raciocínio, o executivo da UNICA destacou que o Brasil, dotado de experiência de sobra no setor sucroenergético, está aí para ajudar.
“Temos um potencial grande de cooperação e estamos dispostos a colaborar no que for possível com os países para promovermos um mundo mais limpo e mais sustentável”, enfatizou Sousa (leia aqui).
De pronto, o embaixador da Tailândia, Saksee Phromyoth, disse no evento: “o Brasil é reconhecido em todo o mundo por suas fontes de energia renovável, incluindo o etanol de cana”.
“Temos que olhar para o futuro a partir das oportunidades de compartilhamento desse conhecimento com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN)”, destacou ele, referindo-se à entidade, que hoje integra 10 países, entre eles Cingapura, Indonésia, Filipinas, Malásia, além da Tailândia.