Renovável e limpo, biometano avança como substituto do gás natural
Por Delcy Mac Cruz
Com emissão negativa de CO2, biocombustível entra no lugar do derivado fóssil em fornos, caldeiras e na produção de defensivos
Crédito da imagem: Copersucar
O biometano avança no Brasil. Feito a partir da purificação do biogás produzido no processamento de resíduos como os de biomassa de cana-de-açúcar, esse biocombustível faz o Brasil crescer no ranking global de geração de energia e de combustíveis de fontes renováveis e limpas.
No caso do biometano, ele substitui o gás natural em qualquer de suas aplicações, mesmo em motores de veículos movidos a gás, com a vantagem de ter emissão negativa de carbono.
Para se ter ideia, enquanto o gás natural veicular (GNV) emite por baixo 80 gramas de CO2 equivalente por megajoule (gCO2eq/MJ), o biometano tem emissão negativa de menos 20 gCO2eq/MJ, segundo avaliação da Abiogás (leia mais aqui).
Diante dessas credenciais positivas, não é de estranhar o avanço da geração de biometano.
Das 6 plantas produtivas hoje em operação, em poucos anos o país deverá quase triplicar esse número.
Leia aqui:
Número de plantar produtoras de biometano deve chegar a 17 nos próximos anos
PRODUÇÃO CRESCE, MAS É PRECISO AVANÇAR MAIS
As novas plantas produtoras são aguardadas com ansiedade. Isso porque é preciso ampliar a oferta do renovável.
No caso, a oferta tem crescido nos últimos anos. Saiu de
36,1 milhões de litros em 2020 para 67,5 milhões de litros em 2023, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) (leia mais aqui).
Conforme os dados oficiais, 64,7% da produção de 2023 está na região Sudeste do país, enquanto a região Nordeste concentra os demais 35,3%.
Tem aí um detalhe: além de maior, a produção de biometano precisa estar mais próxima dos consumidores, porque a logística é tão vital quanto o próprio renovável.
Afinal, o transporte exige custos e caminhões transportadores movidos a diesel irão emitir CO2 e, assim, o biometano tende a perder a emissão negativa do poluente.
APLICAÇÕES VARIADAS
Mas enquanto essas questões são encaminhadas, avançam, também, as aplicações do biometano, seja como substituto de gás natural em caldeiras, seja como matéria-prima para produção de amônia verde.
Sim, o mercado consumidor tem pressa e já coloca em prática a aquisição do renovável.Tome os exemplos da Nestlé e da Yara Brasil, apresentados a seguir.
Fábrica da Nestlé terá biometano em 20% da matriz de gases
Até o fim de 2024, a companhia suíça projeta que o biometano representará 20% de sua matriz de gases combustíveis na fábrica de Araçatuba (SP).
Como: substituindo o fornecimento que hoje é feito principalmente com gás natural.
Não é só em Araçatuba.
A Nestlé utilizará o renovável também nas fábricas de Caçapava e de Marília, ambas no interior paulista, que estão sendo adaptadas para o recebimento do renovável produzido a partir de biomassa de cana e de aterros sanitários.
Em tempo: a substituição de gás natural e GLP por biometano, representará, segundo a empresa, uma potencial redução de gases de efeito estufa (GEEs) da ordem de 90% de gás carbono equivalente (CO2eq) nessas unidades.
Em fornos e caldeiras
O processo de transição energética e da pegada de carbono para contribuir com a meta global da Nestlé de reduzir as emissões em 50% até 2030 e se tornar net zero até 2050, considera no Brasil a ampliação do uso do biometano e de biomassa.
Hoje, caldeiras e fornos são abastecidos com biomassa ou gás natural e GLP.
Conforme relato da empresa, em Araras (SP), a fábrica da Nestlé gera bioenergia por meio de borra de café, um subproduto da fabricação de café solúvel que é misturado a cavaco de madeira - o mix é usado como biomassa para a geração de vapor e energia das caldeiras da unidade.
Em torno de 97% da borra gerada nos processos produtivos da fábrica são utilizados como biomassa.
Os 3% restantes vão para compostagem, utilizados como fertilizantes orgânicos para as lavouras da região.
O subproduto é prensado e armazenado em um silo, no qual é misturado ao cavaco, e posteriormente direcionado às caldeiras.
A fábrica de Araçatuba foi ainda a primeira planta da Nestlé no mundo a implantar um forno de ar quente movido a biomassa (madeira de reflorestamento) em substituição ao forno a gás, com foco em investimento em fontes renováveis e redução na pegada de carbono.
O forno de ar quente de biomassa traz outras vantagens como alta eficiência térmica e menor custo operacional.
Amônia verde a partir de biometano
De origem norueguesa, com operações comerciais em mais de 150 países e foco em soluções agrícolas, a Yara anuncia a adoção do biometano para produzir amônia, matéria-prima para produzir fertilizantes.
A previsão é de que a fábrica da empresa em Cubatão (SP) entregue os primeiros lotes da amônia verde no segundo semestre deste ano.
“O Brasil vai produzir amônia verde antes que as plantas da Europa”, disse ao jornal Valor o presidente da Yara Brasil, Marcelo Altieri (leia aqui).
A adoção do biocombustível integra iniciativas da Yara “voltadas a promover uma transição energética em suas operações e colaborar na descarbonização das cadeias agroalimentar e industrial”, relata a empresa.
É o caso de biometano na produção de amônia, parcerias com cooperativas agrícolas para a comercialização do fertilizante verde e acordos com a indústria de alimentos.
“Estamos desenvolvendo pesquisas para o lançamento de novas soluções nutricionais até 2025, que chegarão para complementar o nosso portfólio e apoiar o agricultor brasileiro a produzir mais com menor impacto ambiental, alinhado às premissas da agricultura regenerativa”, relata o presidente da empresa no Brasil.