Maior interesse por etanol deve atrair 20 países para rodada de negócios

Evento integra a Fenasucro & Agrocana, programada para agosto em Sertãozinho (SP)

por Delcy Mac Cruz

Cresce o avanço do etanol como aditivo à gasolina nos países da América. Dos 36 integrantes do bloco, 14 já possuem mandatos que estabelecem algum nível de mistura do biocombustível ou têm esse investimento à vista. 

A informação integra levantamento da Biofuels Digest, mídia dos EUA especializada em biocombustíveis (clique aqui para acessar o original  em pdf). 

Mandatos, no caso, significam períodos nos quais o país seguirá com a adição de etanol à gasolina. 

E há situações em que esse mandato é suspenso. Isso ocorre principalmente em países que precisam importar etanol para fazer a mistura. Diante disso, se o preço sobe muito, ou o produto fica escasso, o governo reduz o percentual ou até suspende a mistura. 

A questão financeira, aliás, é um dos motivos da adição de etanol à gasolina. 

Tome o caso do Brasil, em que cada litro de gasolina recebe 27% de etanol anidro. 

Por ano são adicionados em média 11 bilhões de litros do biocombustível, diante um consumo nacional de 35,8 bilhões de litros do derivado de petróleo como o registrado em 2020 pela ANP. Vale lembrar que tal volume está abaixo da média, dado que este ano foi afetado pela pandemia de Covid-19, com menor circulação de veículos. 

Agora leve em conta que se a gasolina distribuída no Brasil fosse 100% pura, seriam necessários mais 11 bilhões de litros, com valores superiores aos da adição de 27% de etanol, até porque o preço do combustível fóssil depende das cotações internacionais - e elas seguem empurrando para cima o valor do petróleo. 

 

Ganhos ambientais

Fora o ganho financeiro, o etanol oferece ganhos ambientais em um ambiente de transição energética no qual é preciso reduzir as emissões de gases de efeito estufa, os GEEs, causadores do aquecimento global. 

Em um comparativo, ante a gasolina o combustível renovável emite até 90% menos dióxido de carbono (CO2), formador dos GEEs.  

E, como destaca a UNICA, o uso de etanol por quase 50% dos carros do Ciclo Otto (veículos leves) no Brasil evitou a emissão de 600 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera ao longo de 2021. 

É por isso que a adição de etanol é um caminho sem volta também nos países da América, desde, evidente, que haja oferta. 

 

Quem já usa etanol na América: 

 

Guatemala planeja mistura

O avanço do etanol integra tratativas de outros países para implementar a adição do biocombustível à gasolina. 

É o caso da Guatemala, da América Central, que avalia a implementação de uma mistura de 10% do biocombustível. 

Em maio último, na Cidade de Guatemala, especialistas, autoridades e pesquisadores do Brasil e do país se reuniram no Sustainable Mobility: Ethanol Talks Guatemala, no qual discutiram os benefícios e os desafios relacionados à implementação da mistura.

“Produzimos etanol, mas não o utilizamos. Deveríamos tirar mais proveito dos benefícios dele e acredito que o futuro na Guatemala será muito mais verde num curto espaço de tempo”, disse, no evento, o ministro de Minas e Energia do país, Alberto Pimentel, conforme relato da UNICA.  

Por sua vez, a embaixadora do Brasil na Guatemala, Vera Cíntia Álvarez, disse que o país está pronto para aderir a um programa de etanol e se juntar a mais de 60 países no mundo que já utilizam o biocombustível em sua matriz de transportes. “Criaremos, assim, um mercado mundial para o etanol e transformaremos o biocombustível em commodity com valor global”, destacou.

 

Rodada na Fenasucro

O crescente interesse de mais países pelo etanol pode ser comprovado pela 28a. edição da Fenasucro & Agrocana, feira mundial da bioenergia marcada entre os dias 16 a 19 de agosto em Sertãozinho (SP). 

É que um dos atrativos do evento é a rodada internacional de negócios, com a participação de representantes de países e fornecedores brasileiros do setor sucroenergético. 

Ela integra o projeto “Brazil Sugarcane Bioenergy, empreendido pelo Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC)

Para a rodada de negócios deste ano, a organização da Fenasucro estima a presença de representantes de 15 países. 

Este número, no entanto, deverá crescer.

A expectativa é de Flávio Castellari, diretor executivo da APLA, para quem o número de países participantes deverá subir para 20 ou mais. 

Ele explica mais a respeito em entrevista concedida para este blog em 25 de maio, durante evento de lançamento da Fenasucro & Agrocana. 

 

Confira: 

Por que mais países devem participar da Fenasucro?

Flávio Castellari - Em primeiro lugar, porque depois de dois anos sem evento físico, desta vez será possível estar na feira e o pessoal quer estar presente. 

Em segundo lugar, mundialmente o setor sucroenergético vai bem, com os preços do açúcar mundialmente competitivos. Assim, as usinas querem se reequipar, ampliar. Notei isso nas visitas realizadas neste ano na América Central.

Nos países em que estive, a receptividade foi muito grande. Por isso acredito que teremos a visita de representantes de 20 países, principalmente da América Latina. 

 

São países que já usam produtos sucroenergéticos, caso do açúcar? 

Flávio Castellari - Sim, mas também de quem já produz etanol, como a Guatemala, Bolívia e Colômbia. 

Então nossa expectativa é boa em presença de representantes desses e de outros países, como Peru e de nações da África e da Ásia. 

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