Eficiência industrial: como ela pode ser melhorada, independente do porte da usina 

Eficiência industrial: como ela pode ser melhorada, independente do porte da usina 

Especialista em biocombustíveis, Jaime Finguerut dá sua receita para obter desempenho de excelência

Crédito da imagem: Raízen   /   Delcy Mac Cruz

A maioria das usinas em operação, e cujos problemas financeiros estão equacionados, é eficiente.

Aliás, elas têm que primar pela eficiência porque, do contrário, não teriam como sobreviver.

As mais eficientes são aquelas que têm o menor custo total e, principalmente, uma cana mais barata e de melhor qualidade, de tal forma que as perdas inevitáveis não pesam tanto no custo total.

 

Mas e quando se trata de alta eficiência em processos industriais?

 

“Quando se fala em alta eficiência, aí temos um problema”, alerta Jaime Finguerut, engenheiro e cientista especializado em biocombustíveis, fermentação e bioprocessos.

É que para saber efetivamente qual é a eficiência industrial, “as fórmulas atuais dependem de grande quantidade de informações analíticas.”

E essas informações, emenda, estão “todas sujeitas a erros, o que torna difícil apreender as relações de causa e efeito, ou seja, saber o porquê a eficiência subiu ou desceu.”

 

O que fazer, então, para obter a alta eficiência?

 

Para saber mais a respeito deste e de outros temas ligados a processos industriais em usinas, o blog Fenasucro entrevista Finguerut, diretor e membro do Conselho do Instituto de Tecnologia Canavieira (ICT).

Tem mais: ele integrou a equipe que desenvolveu o processo de produção de etanol de segunda geração no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), no qual trabalhou por 44 anos e atualmente é consultor sênior. 

Diante das altas e baixas da eficiência industrial, como fazer para obter a alta eficiência?

 

Jaime Finguerut - As usinas devem monitorar os principais sub-processos mais sujeitos a perdas on-line com medidores analíticos reais (como NIR on-line) e controlá-los usando técnicas modernas de Controle Avançado e tomar decisões baseadas em dados.

O resultado será uma eficiência maior e o conhecimento das causas das variações, com aprendizado contínuo.

 

Tradicionalmente, a área agrícola responde por média 60% dos custos de produção das usinas. É possível fazer com que a indústria amplie sua fatia de 40%?

 

Jaime Finguerut - Uma característica de todos os processos industriais maduros, ou seja que resolveram a maioria dos problemas com o equipamento (CAPEX), com as conversões, perdas, uso de energia e destino dos resíduos (OPEX), entre outros, sobra apenas o custo da matéria-prima, em geral representando 60 a 70% dos custos.

Assim, num processo maduro é muito difícil melhorá-lo significativamente.

 

Não é possível alterar?

 

Jaime Finguerut - Esse processo pode ser substituído por um novo processo radicalmente diferente e melhor.

 

Como?

 

Jaime Finguerut - Na  nossa indústria não vislumbramos inovações radicais, porém temos algumas novidades incrementais que podem aumentar o faturamento com a mesma matéria-prima cara.

Por exemplo: aproveitando a matéria orgânica da vinhaça para fazer biogás e gerar receita além dos custos, otimizar a planta para vender mais eletricidade, fazer produtos "especiais" para vender com  prêmio, usar outras matérias-primas em conjunto (como milho) para estender a safra, e, finalmente, aumentar a eficiência reduzindo custos.

Veja que se a produção agrícola for mais eficiente, ou seja a cana que sai da lavoura tiver um menor custo para a mesma qualidade, o custo industrial será proporcionalmente maior porém o custo total será menor e o lucro maior.

 

Como a cana que chega com menos qualidade afeta o desempenho da indústria?

 

Jaime Finguerut - Como temos um empreendimento agroindustrial, onde a parte agro representa 60-70% dos custos, o processamento industrial tem de ser feito "aceitando" tudo o que a lavoura mandar.

Para ter esta robustez (aceitar matérias-primas com uma larga faixa de qualidade) e flexibilidade (ora está bom, ora não...) o custo industrial aumenta seja porque temos de ter mais equipamento do que o necessário, como teremos de gastar mais com energia, insumos e geração de resíduos.

Diante disso, quanto pior a matéria-prima, que deveria ser sempre limpa (baixas impurezas), fresca (não deteriorada) e madura (o maior teor de açúcar e a maior pureza possível) sim, haverão perdas, aumentando a responsabilidade do Controle Operacional.

 

O que fazer?

 

Jaime Finguerut - Um Controle moderno já substituiu o Controle Laboratorial por analisadores on-line, capazes não só de permitir saber a qualidade da cana on-line como também obter as principais eficiências (Extração e Fermentação) on-line correlacionando as perdas com a qualidade da cana.

O histórico no tempo da qualidade da cana permitirá prever quando entrarão as canas piores e poderão ser estabelecidas estratégias operacionais mais adequadas.

Este tipo de gerenciamento permite a tomada de decisão baseada em dados, usando as técnicas modernas de tratamento de dados massivos, sem a necessidade de ter de consultar um especialista nestas áreas a cada situação específica.

Já existem empresas oferecendo este serviço e algumas Usinas já estão se preparando ativamente para esta nova era do gerenciamento.

 

Quais são os principais acertos das usinas em eficiência industrial?

 

Jaime Finguerut - As melhores usinas são as que têm mais e melhores informações sobre os processos principais e têm um pessoal treinado e motivado para aprender com os dados e tomar as decisões mais corretas na situação atual.

Como já descrevi, o processo precisa estar equipado para as variações de matéria-prima.

 

Significa que todas podem melhorar a eficiência, independente do porte de moagem?

 

Jaime Finguerut - Todas as usinas, independente do porte, podem melhorar a sua eficiência industrial, reduzindo perdas custos.

 

Qual sua receita?

 

Jaime Finguerut -  Na minha opinião todas as usinas podem melhorar com a geração de dados analíticos de alta qualidade, on-line, de forma a ter um enorme Banco de Dados que pode gerar um excelente Aprendizado de Máquina, ou seja, gerar algoritmos locais (para as suas condições) que auxiliam na tomada de decisões, mais rápidas e assertivas.

O novo conceito que estou propondo de obter dados e basear as decisões em dados on-line tem, sim, um custo, principalmente de CAPEX, que as Usinas maiores poderão retornar com maior rapidez.

No entanto, a solução que temos hoje é atrativa para todas as usinas em operação hoje.

O ativo gerado que o Conhecimento do Processo gera um valor enorme, que perdurará por todo o período em que a usina continuar funcionando.

 

A seu ver, onde estão os principais gargalos e erros?

 

Jaime Finguerut - Um erro comum é não ter dados de qualidade para tomar decisões rápidas e assertivas.

Poucas amostras, amostras não representativas, métodos analíticos desatualizados ou imprecisos, depender de consultas a especialistas que muitas vezes não tem o histórico da situação específica, pessoal não treinado e não motivado para aprender com os dados....

Mas tudo isso tem solução, como descrevi acima.

 

E os custos para aderir ao seu conceito de busca de ganho de eficiência industrial?

 

Jaime Finguerut - O custo de ter as suas próprias informações de qualidade é em geral muito baixo, não implicando em encontrar novas fontes de financiamento, mesmo para as usinas com restrições neste aspecto.

A infraestrutura pode ser adequada com poucos investimentos adicionais e o pessoal da própria usina é quem irá operar e aprender com os dados.