Plástico renovável de cana ganha nova tecnologia de produção

Bagaço será usado como matéria-prima do bioplástico, que já é feito partir da conversão em resina

Crédito da imagem: Braskem/Divulgação

A produção de plástico renovável feito de cana-de-açúcar está em vias de ganhar nova tecnologia de produção no Brasil. 

Também chamado de plástico verde ou bioplástico, ele já é fabricado há 12 anos pela Braskem. Ela detém a marca I'm green™ bio-based, gerada a partir da resina PE (polietileno), que tem a cana como matéria-prima. 

É o primeiro plástico de fonte renovável produzido em escala mundial no mundo, destaca a empresa. 

“Exportamos para Ásia, Europa, Estados Unidos e América do Sul”, disse, em entrevista à Reuters, Gustavo Sergi, diretor de químicos renováveis da Braskem.

“As empresas consumidoras têm metas de redução de carbono junto a governos e os clientes delas também estão demandando”, disse.

Descarbonização: está aí uma das frentes que jogam em favor do bioplástico. 

No caso do produto da Braskem, ele tem o diferencial de capturar gás carbônico (CO2) durante o processo produtivo.

Bagaço como nova fonte de produção

Diante a briga global pela descarbonização, o bioplástico é uma ferramenta mais do que aliada nessa guerra. 

Assim, é natural que o mercado mundial pelo produto avance a passos largos. 

Para se ter ideia, a Braskem relata que por ano produz 200 mil toneladas de seu plástico renovável. Portanto, mesmo no curto prazo será preciso muito mais oferta.

Em linha com isso, vem aí uma nova tecnologia para ampliar a produção de plástico verde de cana e que também foca a descarbonização. 

Em fase de estudos, a proposta, em resumo, pretende aproveitar o bagaço (resíduo) da cana como combustível para aquecer caldeiras e criar moléculas orgânicas para a produção do plástico sustentável. 

Quem realiza os estudos é o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), constituído com apoio da FAPESP e da Shell e cuja sede fica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Também integram a equipe pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP. 

Antes de seguir adiante, que tal um breve relato sobre o plástico em si?

Confira um resumo, a partir de informações a partir do blog  Raízen, companhia fornecedora de etanol para a Braskem fabricar o bioplástico: 

 

O que é plástico?

É um tipo de molécula chamada polímero. “Poli” significa “muito” e “mero” quer dizer “unidade”.

Os polímeros estão presentes em incontáveis substâncias da natureza, como no colágeno (proteína responsável pela elasticidade da pele) ou na celulose (principal componente das células das plantas). Até mesmo o DNA é um polímero!

E onde o plástico entra nisso?

O plástico comum é um polímero sintético (fabricado a partir de meios industriais), diferentemente dos outros polímeros que acabamos de citar, que são naturais.

O que são termoplásticos?

Esses são os polímeros do plástico que a maioria das pessoas conhece – aquele que pode ser moldado em praticamente qualquer formato. 

Os mais utilizados são o polietileno (PE), polipropileno (PP), cloreto de polivinila (PVC), poliestireno (PS) e nylon (PA6 e PA6,6).

Biopolímeros

Mas existe mais uma categoria: os biopolímeros. Eles são uma alternativa interessante para o plástico comum, pois possuem processos produtivos mais sustentáveis. Esses tipos de plásticos são produzidos a partir de fontes naturais, como plantas, e podem ser utilizados em diversos produtos que levam o polímero tradicional.

De onde vem o plástico?

O plástico comum tem origem fóssil. Ele vem do petróleo (extraído do subsolo, em terra firme ou no oceano), que, ao chegar na refinaria, é convertido em outras substâncias – os derivados do petróleo.

Um desses derivados é a nafta, matéria-prima utilizada na fabricação de plástico comum. “Plástico” é uma palavra de origem grega e tem como significado “aquilo que pode ser moldado”.

 

E o que é plástico de origem renovável?

Os plásticos de origem renovável são feitos a partir de plantas. A empresa Braskem, por exemplo, emprega diversas tecnologias para a produção desse tipo de plástico e uma delas é a resina PE (polietileno), que tem a cana-de-açúcar como matéria-prima.

Sem derivados do petróleo

Vamos, agora, ao estudo do bioplástico a partir do bagaço.

A meta do projeto no âmbito do RCGI é produzir plástico e outros materiais poliméricos que não sejam derivados do petróleo. 

Em conteúdo da FAPESP e da Assessoria do RCGI, Antonio Carlos Bender Burtoloso, coordenador do projeto e professor do IQSC-USP, relata: 

 

  • A constituição química dos poliuretanos resulta da combinação de moléculas menores, caso do isocianato

  • Esse é composto usado nas reações de polimerização e sua preparação industrial costuma ser feita com gás fosgênio

  • Apesar de barato, tal gás é extremamente tóxico à saúde e ao meio ambiente

  • A proposta é substituir o gás pelo carbono. Ou, então, a amina produzida pelo petróleo e pela biomassa da cana. 

  • Outra atenção dos pesquisadores se volta ao poliol, elemento-chave na estrutura dos poliuretanos. Esse também é derivado de petróleo, porém a proposta é prepará-lo a partir do bagaço de cana. 

  • Esse projeto é desdobramento de outro realizado entre 2018 e 2021 também no IQSC

  • Na ocasião, chegou-se a um plástico com poliol originário do bagaço de cana, mas com ‘ingrediente’ derivado do petróleo. Agora, a meta é fazer 100% da biomassa. 

3 toneladas por hectare

Enquanto os pesquisadores trabalham na tecnologia, o bioplástico da Braskem com cana da Raízen segue firme. 

Aliás, seguem informações sobre este renovável:

  • Reciclável, é feito a partir do etanol empregado para produzir eteno, que é um polímero usado, por sua vez, na fabricação de plástico

  • Um hectare de cana é suficiente produzir 7,2 mil litros etanol - e esse mesmo hectare rende 3 toneladas de polietileno de origem renovável

  • O etanol da Raízen é transportado para a Braskem, desidratado e convertido em eteno renovável por meio de um processo exclusivo da empresa.

  • Esse eteno é transformado em polietileno e EVA (biopolímeros), que farão parte de diversos tipos de embalagens e artigos que você utiliza em seu dia a dia.

  • Para ser produzido, o bioplástico usa o mesmo maquinário do plástico comum (ou seja, não demanda a compra de novos equipamentos) e é certificado pelo padrão Bonsucro, que atesta a responsabilidade social e ambiental das empresas nas etapas da fabricação.

  • O plástico feito a partir da cana é uma inovação porque tem a mesma função que o plástico tradicional, podendo ser usado em diversos produtos, como calçados, embalagens, itens de higiene pessoal, bens duráveis etc.

Setores que podem usar o bioplástico: 

  • Agronegócio – tubos de irrigação, bombonas e embalagens para agroquímicos

  • Alimentos – embalagens para a proteção de pães, frutas, café, açúcar e refeições prontas congeladas

  • Bebidas – embalagens cartonadas e plásticas de água, leites, sucos e até mesmo tampas e rolhas de vinho

  • Esportes e calçados – gramas sintéticas, tapetes de ioga, tatames, calçados e tênis esportivos

  • Automotivos – dentro do veículo, há diversos componentes como os tapetes, além das embalagens de aditivos e óleos automotivos

  • Vestuário – roupas, capas de chuva, solados de tênis e até mesmo peças íntimas, como sutiãs.

 

Não é só: a lista de clientes potenciais inclui também cosméticos, produtos de higiene, produtos de limpeza, utilidades domésticas, brinquedos e até mobiliários.