Como a Tereos empreende ações sustentáveis para reduzir (de vez) o impacto de suas operações

Por Delcy Mac Cruz

Em entrevista, Rafael Campolina, gerente-executivo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da companhia, detalha sobre investimentos focados em gestão eficiente dos recursos

Crédito da imagem: Tereos

 

Controlada pela francesa Tereos, a Tereos Açúcar & Energia Brasil está na linha de frente do setor sucroenergético.

Com sete unidades industriais na região noroeste do Estado de São Paulo, ela registrou resultado recorde de moagem ao processar 21,1 milhões de toneladas de cana na safra 2023/24, alta de 22% ante o ciclo anterior.

Diante disso, a Tereos ocupa a quinta posição no ranking da empresa de assessoria FG/A com os 15 maiores grupos sucroenergéticos do país em moagem.

Em linha com esse desempenho, como a Tereos Açúcar & Energia Brasil empreende ações para reduzir o impacto das operações e ampliar o fornecimento de soluções mais

sustentáveis?

 

Para comentar a respeito desses investimentos e de outros temas relacionados a ESG, o blog Fenasucro entrevista Rafael Campolina, gerente-executivo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da companhia.

 

Confira:

 

A Tereos possui aportes em práticas sustentáveis como financiamentos verdes e gestão eficiente da água.

Quais as próximas práticas ESG da companhia? 

 

Rafael Campolina - Estamos constantemente investindo em projetos e iniciativas que visam reduzir o impacto de nossas operações, ampliar o nosso fornecimento de soluções mais

sustentáveis, assim como promover uma gestão mais eficiente de nossos recursos.

Anunciamos recentemente nossa adesão à iniciativa SBTi e um programa global para zerar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2050 em toda a cadeia de valor.

Para isso acontecer, iremos investir 800 milhões de euros em unidades industriais para reduzir as emissões em 50% nas operações em todo o mundo.

Nas atividades agrícolas, que representam 47% das emissões totais, a Tereos busca reduzir as emissões em 36%

até 2033 (escopos 1 e 3, em comparação a 2023), incluindo uma estratégia de desmatamento zero.

Até o final de 2025, o Grupo garantirá 100% do fornecimento de matérias-primas agrícolas provenientes de áreas não desmatadas, o que pressupõe rastreabilidade e garantias sobre sua origem. 

 

Quais são os investimentos em soluções sustentáveis no Brasil?

 

Rafael Campolina - No Brasil, investimos em biogás e avaliamos a produção de biometano, combustível

gerado a partir da vinhaça, um coproduto da produção de etanol, e uma alternativa limpa ao diesel.

Além disso, implementamos ações para reduzir o consumo de diesel, como a renovação da frota de caminhões por veículos mais modernos e que emitem menos CO2.

A Tereos também está adotando o uso de fertilizantes orgânicos em vez de minerais nitrogenados, além de reduzir o uso de calcário e gesso.

Essas medidas estão gerando ganhos ambientais, agronômicos e operacionais.

A empresa também está desenvolvendo iniciativas com fertilizantes de baixa emissão e estudando parcerias para fertilizantes verdes.

Em relação à cana certificada, até o momento, já

temos cerca de 65% da cana-de-açúcar processada no Brasil certificada e uma meta de chegar a 75% até 2029/30.

 

A companhia também divulgou importante prática ESG que é a de rodar 100% da frota com  biometano até 2030. Como?

 

Rafael Campolina - Sim, ainda temos a meta de utilizar biometano em 100% da nossa frota de caminhões

canavieiros, composta por quase 200 caminhões, até 2030.

A intenção é que o biometano seja obtido a partir da biodigestão da vinhaça, gerada em uma de nossas

unidades industriais.

O volume de vinhaça gerado em uma única unidade da Tereos é suficiente para abastecer toda a frota de caminhões canavieiros no modelo dual fuel, havendo ainda a geração de biometano excedente que poderia ser comercializado no

mercado.

  

Como a companhia trabalha ações ESG em cidades-sedes das unidades produtoras?

 

Rafael Campolina - A Tereos possui forte compromisso com as comunidades em que atua, promovendo iniciativas que visam estimular o desenvolvimento local e o bem-estar da população das regiões, além de reforçar nosso compromisso ambiental.

Dessa forma, investimos em iniciativas como ações de conscientização, palestras educacionais em instituições

de ensino, projetos de reflorestamento e apoio a instituições locais.

Realizamos anualmente, por exemplo, nossa campanha de prevenção e combate a incêndios, conscientizando a população sobre o tema e levando educação ambiental

para crianças e jovens com palestras em escolas.

Nos últimos anos também realizamos ações de limpeza de margens de rios e plantio de mudas em áreas de preservação

ambiental, em conjunto com a comunidade, para falar de conscientização e recuperação do meio ambiente.

Além disso, desenvolvemos cursos de capacitação profissional gratuitos em diferentes localidades onde atuamos, com o objetivo de desenvolver habilidades e ampliar as

oportunidades profissionais nas regiões.

Preocupados com a diversidade e a inclusão, também formamos turmas exclusivas para mulheres, para formação de tratoristas e de manutenção automotiva.

Também temos implantado uma turma exclusivamente

feminina para execução de atividades de reflorestamento.

 

Como é possível acelerar a implementação de práticas eficazes ESG no setor sucroenergético como um todo, já que ele é visado globalmente e pode sofrer retaliações na importação seja de etanol, açúcar e demais produtos?

 

Rafael Campolina - Primeiramente, é importante reforçar que o setor sucroenergético possui um papel fundamental na transição energética demandada globalmente, principalmente pela sua capacidade de produção de biocombustíveis e bioenergia.

Como exemplo, 19% da energia consumida no Brasil (seja através de eletricidade, ou de combustível), é proveniente do setor sucroenergético, atrás apenas dos derivados de petróleo. Neste sentido, o engajamento e comunicação clara com os stakeholders se faz fundamental para criarmos um ambiente favorável.

Nos últimos 20 anos, a produção de cana de açúcar no Brasil contribuiu com a remoção de aproximadamente 200 milhões de toneladas de CO2eq, o que seria o equivalente a uma plantação de florestas de 6 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

As certificações ligadas à sustentabilidade também contribuem para demonstrar aos clientes e mercados específicos que a produção é realizada de forma sustentável, com

respeito às questões socioambientais e visando uma menor pegada de carbono.

 

Como acelerar a implementação de práticas ESG no setor?

 

Rafael Campolina - A implementação de práticas ESG no setor sucroenergético pode ser acelerada também por meio de inovações tecnológicas, conciliando o aumento de produtividade com práticas mais sustentáveis.

A definição de metas públicas e desafiadoras, além da demonstração dos progressos e desafios enfrentados na implementação das práticas, também se mostra fundamental

no cenário atual.

 

Qual deve ser o papel das instituições privadas ligadas à cadeia sucroenergética nessa missão de investir (de forma rápida) em práticas ESG?

 

Rafael Campolina - As instituições ligadas à cadeia sucroenergética têm a capacidade de influenciar

significativamente o desenvolvimento sustentável.

Essas empresas têm a responsabilidade de minimizar os impactos de suas operações no meio ambiente e na

sociedade, por meio da adoção de práticas sustentáveis e a gestão eficiente dos recursos naturais, da redução das emissões de carbono e da conservação da biodiversidade, e da geração de valor compartilhado para com a sociedade,

(re)conectando o sucesso da empresa ao progresso social.