COP 27: Brasil se consolida como fonte de soluções para a descarbonização
Por Delcy Mac Cruz
Evento também é marcado pela entrada do setor sucroenergético em campanha global pela promoção do baixo carbono
Crédito da imagem: Gerd Altmann/Pixabay
O Brasil sai da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP27) consolidado como fonte de soluções para a descarbonização mundial.
Isso graças à diversidade da matriz energética brasileira, formada em sua maioria por fontes renováveis.
Para se ter ideia, de toda a carga (soma do consumo de energia com as perdas na rede), 90% é de eletricidade gerada a partir de usinas hidrelétricas, solares e eólicas. Esse percentual passa de 95% se somadas as usinas térmicas, em grande parte abastecidas por biomassa de cana-de-açúcar.
Também na COP, realizada em novembro no Egito, a cana, matéria-prima do etanol, demonstrou, ao lado de outros biocombustíveis como o biodiesel, que o Brasil é exemplo mundial de descarbonização.
Exemplo nessa linha está em levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). Ele destaca que entre março de 2003, data de lançamento da tecnologia flex, e abril de 2021, o consumo de etanol evitou a emissão de mais de 556 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Leia aqui mais sobre o potencial de descarbonização dos biocombustíveis.
“A missão de todos nós é descarbonizar, utilizando as diversas rotas tecnológicas de acordo com as circunstâncias ambientais, sociais e econômicas de cada país”, afirmou o presidente da UNICA, Evandro Gussi, durante evento na COP 27.
“Se queremos ser Net Zero, vamos precisar de todas as fontes energéticas – eólica, fotovoltaica, biomassa e, dessa biomassa, biogás e biometano, entre outras. Na cultura ‘e’, elas não são concorrentes e sim complementares”, completou Gussi.
Aliás, durante a Conferência das Nações Unidas a UNICA, que representa o setor sucroenergético, aderiu à Plataforma Biofuturo.
Ela reúne 22 países, incluindo o Brasil, com o objetivo de “promover uma bioeconomia avançada com baixo teor de carbono que seja sustentável, inovadora e escalável.”
Por sua vez, a Biofuturo é iniciativa do Ministerial de Energia Limpa (CEM), fórum global, do qual o Brasil integra, criado para promover políticas e programas que promovam a tecnologia de energia limpa.
Com a adesão à Biofuturo, os produtores de bioenergia no Brasil representados pela organização reforçam seu compromisso com a sustentabilidade e se engajam na campanha global.
“Temos cada vez mais e mais indústrias pensando em como reduzir emissões da sua cadeia de suprimentos. E a campanha conecta diferentes atores, com o objetivo de acelerar o processo de transição alavancando parcerias internacionais e regionais”, disse o CEO da Biofuturo, Gerard J. Ostheimer, durante evento na COP 27.
A campanha tem a missão de mostrar caminhos por meio dos quais países, empresas e consumidores podem substituir combustíveis, químicos e outros materiais por equivalentes biossustentáveis, reduzindo emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Além dos biocombustíveis, o Brasil já tem o programa de Estado RenovaBio, que incentiva o etanol, biodiesel e demais renováveis. Esse programa, aliás, foi citado pelo CEO da Plataforma como exemplo.
Na COP 27: Gerard J. Ostheimer, CEO da Biofuturo, e Evandro Gussi, presidente da UNICA (Crédito: UNICA/Divulgação)
Promoção do etanol
Vale destacar que, seguindo o modelo da Plataforma Biofuturo, a UNICA e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), vinculada ao Ministério de Relações Exteriores, tornaram pública em fevereiro de 2008 estratégia para promover a imagem dos produtos sucroenergéticos no exterior, em especial do etanol brasileiro como uma energia limpa e renovável.
As duas entidades assinaram um convênio que prevê investimentos compartilhados, relata a UNICA.
O projeto tem por objetivo influenciar o processo de construção de imagem do etanol e demais derivados da cana-de-açúcar junto aos principais formadores de opinião mundial – governos e meios de comunicação, bem como empresas de trading, potenciais investidores e importadores, ONGs e consumidores.
Às vésperas do início da COP 27, no dia 9 de novembro, as principais associações que representam o setor produtivo de etanol em todo o mundo lançaram uma declaração conjunta reforçando a importância de biocombustíveis sustentáveis, como o etanol, no enfrentamento à crise climática.
Esse documento tem a chancela de associações como a UNICA, União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), a americana U.S. Grains Council, a europeia ePure e a canadense RICanada.
Na declaração, elas reafirmam o compromisso do setor com a construção de um futuro sustentável, para o qual o etanol oferece uma resposta imediata, acessível, de baixo custo e eficaz para os desafios ambientais.
Embora tenham características regionais e modelos de produção específicos, as organizações entendem a necessidade de uma abordagem global no processo de descarbonização da matriz de transportes, ajudando os países a reduzir emissões e a cumprir as metas pactuadas em âmbito internacional.
A seguir, a íntegra da Declaração conjunta:
Como as principais associações mundiais de etanol representando produtores em todo o mundo, estamos unidos em nossos esforços para apoiar a transição energética global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Os benefícios do etanol renovável para o meio ambiente, a segurança energética e a saúde humana reforçam seu papel essencial nos esforços globais para atingir o net zero até 2050 e além.
À medida que os países buscam alcançar seus compromissos do Acordo de Paris, o uso e a implementação do etanol renovável podem oferecer reduções imediatas das emissões de GEE no setor de transportes. Além disso, os avanços tecnológicos e a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis continuam a diminuir a nota geral de intensidade de carbono do etanol, aumentando ainda mais a produção, tornando o etanol o combustível de transporte renovável mais eficaz e prontamente disponível.
Inúmeros fatores, incluindo o aumento dos preços do petróleo e a guerra na Ucrânia, levaram o custo da energia a altas históricas, forçando os países a equilibrar a necessidade de reduzir suas emissões de GEE em detrimento da obtenção de segurança energética e da estabilização dos preços dos combustíveis. Os combustíveis misturados ao etanol historicamente reduzem os preços da gasolina, reduzindo a dependência do petróleo importado e melhorando o fornecimento de energia.
O etanol também amplia as oportunidades de emprego nos setores agrícola, energético e de transporte, abrindo áreas para os países melhorarem a cooperação climática e reforçarem as relações comerciais positivas. A produção de etanol renovável contribui para a produção de alimentos e ração, além de apoiar a viabilidade econômica dos agricultores em todo o mundo. A abundância e a acessibilidade do etanol o tornam uma escolha clara para os países que buscam soluções para os desafios relacionados à segurança energética.
Combustíveis misturados com etanol comprovadamente diminuem poluentes atmosféricos nocivos à saúde. A capacidade do etanol de ser usado diretamente nas frotas globais atuais de veículos e na infraestrutura de abastecimento existente, torna-o uma solução imediata e prática para os países que buscam melhorar a qualidade do ar e a saúde humana.
O etanol também é um parceiro fundamental na descarbonização de setores difíceis de eletrificar, como a indústria da aviação. À medida que a demanda por matéria-prima de baixo carbono produzida de forma sustentável continua a subir, o setor de aviação pode utilizar biocombustíveis como o etanol renovável para produzir combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), demonstrando o papel do etanol como um combustível líquido renovável voltado para o futuro.
Nossas organizações continuam comprometidas em construir um futuro sustentável e acreditam que o etanol renovável amplamente disponível serve como uma resposta imediata, de baixo custo, e eficaz para os desafios ambientais, de segurança energética e de saúde humana. Embora nossas organizações trabalhem com uma diversidade de matérias-primas cultivadas de forma sustentável, com características regionais e modelos de produção específicos, entendemos que o enfrentamento das mudanças climáticas exige uma abordagem global e que os biocombustíveis, como o etanol renovável, são vitais para descarbonizar o setor de transporte e ajudar os países a atingir net zero até 2050 ou mais cedo.
Ainda no clima da COP 27, o presidente e CEO da UNICA, Evandro Gussi, que cumpria agenda no evento, foi anunciado no dia 16 como um dos integrantes da equipe de transição do próximo governo do Brasil.
Ele integrará o grupo de Agricultura ao lado da senadora Kátia Abreu (PDT-TO), Neri Geller e Luis Carlos Guedes, que foram ministros da Agricultura em gestões petistas, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), Silvio Crestana, ex-presidente da Embrapa, e Tatiana de Abreu Sá, ex-diretora executiva da Embrapa. Leia mais a respeito aqui.
Em seu perfil no Linkedin, Gussi fez o seguinte comentário:
“Agradeço ao vice-presidente eleito e coordenador da equipe de transição, Geraldo Alckmin, pelo convite e pela confiança ao me indicar para o grupo de Agricultura.
Agricultura e pecuária sustentáveis são as vocações do Brasil.
É um consenso entre ambientalistas e produtores rurais - da agricultura familiar às propriedades maiores - que a atividade agropecuária deve ser marcada por altíssimo compromisso socioambiental.
Penso que o papel dessa equipe seja justamente construir um espaço de diálogo e de reflexão que contemple todas as dimensões dessa cadeia - econômica, social e ambiental - de modo a oferecer ao novo governo propostas que permitam a consolidação e o avanço dessa agenda.”