Elétricos contam com o etanol na briga pela descarbonização
Por Delcy Mac Cruz
É o que destaca estudo sobre combustíveis sustentáveis da McKinsey
Crédito da imagem: Udop
Seja no Brasil ou em qualquer outro país, os veículos elétricos costumam ser celebrados pelo seu potencial em favor do meio ambiente.
Os exemplos nessa direção são vários. Um deles é o relatório da BloombergNEF (BNEF), para quem a eletrificação de veículos, edifícios e indústrias na Europa pode reduzir em até 60% as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) entre 2020 e 2050.
Em março deste ano, estudo de pesquisadores da Ford e da Universidade de Michigan anunciou que a eletrificação de veículos leves significa cerca de 64% menos emissões de GEEs.
Geradores do aquecimento global, os GEEs são formados, entre outros, pelo dióxido de carbono (CO2). Trata-se de um gás incolor e sem cheiro, resultante da queima durante o transporte de veículos movidos principalmente a derivados de petróleo.
Reduzir - ou mitigar - as emissões de carbono virou obrigação desde o Acordo de Paris, em 2015, tratado no qual 195 países se comprometeram com metas contra o aquecimento global.
É certo que a pandemia e a guerra Rússia-Ucrânia atropelou a implementação dessas metas. Mesmo assim, o potencial limpo dos veículos elétricos continua sendo entoado.
Mas não é bem assim.
Reduções são comparáveis
Energia Que Fala Com Você divulgou, ainda em 2021, que os veículos elétricos também poluem. No caso, o conteúdo reúne informações que atestam intensas emissões de carbono durante, por exemplo, a fabricação de baterias.
Por sua vez, a McKinsey apresenta recente levantamento no qual confirma que os combustíveis sustentáveis podem proporcionar reduções de GEEs comparáveis às dos veículos eléctricos a bateria (BEV).
O estudo “Traçando as Perspectivas Energéticas Globais até 2050: Combustíveis Sustentáveis”, produzido por Nathan Lash e Ole Rolser, revela, entre outras, que uma das medidas para alcançar os objetivos de descarbonização atende pelo nome de combustíveis sustentáveis.
E quais são eles?
Os combustíveis sustentáveis incluem biocombustíveis tais como o bioetanol, conhecido por etanol, que no Brasil é produzido a partir da cana-de-açúcar e do milho.
Outros sustentáveis listados pela Mc Kinsey são o óleo vegetal hidrotratado (HVO) e sintéticos tais como amoníaco e metanol.
Como eles podem ser usados?
Segundo o estudo, os sustentáveis podem ser utilizados como substitutos em motores de combustão interna convencionais (ICE).
Com o etanol, o Brasil já faz isso. Para se ter ideia, o hidratado para veículos flex e o anidro, adicionado em 27% ao litro da gasolina, respondem, juntos, por 48% do consumo interno de combustíveis.
O documento da McKinsey lembra que, no caso do HVO, os custos de utilização são superiores até porque esse ainda está em fase de pesquisa.
Em todo caso, ambos podem “alcançar reduções de gases de efeito de estufa de ciclo de vida comparáveis às de veículos elétricos, permitindo uma descarbonização mais rápida das frotas existentes a curto prazo.”
Demanda deve triplicar
A procura de combustíveis sustentáveis deverá triplicar nos próximos 20 anos, projeta o estudo.
Em termos de emprego nos transportes, os sustentáveis deverão ter cota entre 7 e 37%. A variação depende dos níveis de ambição zero de carbono pelos países.
Mais: o crescimento de combustíveis sustentáveis até 2035 é impulsionado principalmente pelo transporte rodoviário, atingindo 290 megatoneladas (Mt) no cenário mais acelerado, enquanto que a aviação desempenha um papel cada vez maior a partir daí.
Sustentáveis ‘ajudam’ os elétricos
Segundo o documento, mesmo num mundo com rápida adoção de elétricos (VE) - onde eles representam cerca de 75% das vendas totais de veículos até 2030 - o cumprimento dos objetivos regulamentares de redução de GEEs para o transporte poderia exigir uma contribuição significativa de combustíveis sustentáveis.
É que embora a aceitação dos elétricos no segmento dos veículos de passageiros seja forte, no caso de caminhões a eletrificação só deve vir a longo prazo.
Assim, antes da eletrificação ficar completa, “o cumprimento dos objetivos de redução de GEEs na maioria dos países exigirá a utilização de combustíveis sustentáveis''.
Investimentos no radar
Por fim, a McKinsey estima uma carteira global de investimento total planejada de US$ 40 a 50 milhões para uma uma capacidade de 46 milhões de toneladas métricas de combustíveis sustentáveis até 2025.
Entretanto, relata, são necessários investimentos adicionais de entre US$ 1 e US$ 1,4 trilhão até 2040 para atender aos compromissos de descarbonização.