Como o biometano ajuda a limpar o ambiente e pode gerar uma economia de US$ 137 bilhões
Por Delcy Mac Cruz
Montante representa quanto o Brasil gastaria em importação de diesel até 2031
Créditos de imagem: Copersucar
Caminhões carregados de cana-de-açúcar são comuns em estradas do interior paulista, região na qual fica a maioria das usinas do Centro-Sul do país. Essas estão em plena fase de produção, chamada de safra 2022-23 e que vai entre abril deste ano a março de 2023.
Assim como caminhões de outros segmentos do agronegócio, a maioria dos canavieiros é movida a óleo diesel e uma pequena parcela roda com gás natural veicular (GNV), ambos derivados de petróleo.
Mas tem aí uma novidade: nem todos os caminhões de cana são abastecidos por diesel ou gás.
É que companhias sucroenergéticas, com usinas no interior paulista, começam a trocar o diesel pelo biometano, biocombustível feito de subprodutos do processo industrial canavieiro.
Em fase inicial, a substituição dos combustíveis é em usinas de pelo menos duas companhias sucroenergéticas: a Cocal e a Tereos, que concluíram em meados deste ano empreendimentos de biogás e de biometano.
Leia aqui mais sobre o empreendimento da Cocal e, aqui, sobre o da Tereos.
Antes de seguir adiante, clique aqui se quiser ler mais a respeito desse biocombustível renovável.
Tem também os ganhos ambientais
O biometano tem a menor pegada de carbono na comparação com o diesel e o gás veicular.
Vale destacar que a pegada de carbono avalia o ciclo de vida dos energéticos e, assim, lista as emissões de dióxido de carbono (CO2) desde a produção até o uso pelo consumidor.
O saldo é que enquanto o diesel emite mais de 100 gramas de CO2 equivalente por megajoule (gCO2eq/MJ), o GNV lança mais de 80.
Já o biometano tem emissão negativa de algo em torno de menos 20 gCO2eq/MJ). Leia aqui mais a respeito desses dados.
Usinas de cana são as principais fontes
O gás verde, como o biometano é apelidado, pode ser produzido por matérias-primas cuja maioria vem de quatro setores econômicos: sucroenergético, proteína animal, produção agrícola e saneamento.
Vale destacar que, seja um ou outro, o setor sucroenergético é a principal fonte de produção da estimativa de produção.
Nada menos do que 48% de todo o potencial projetado é de subprodutos das usinas de cana-de-açúcar, com 21,1 bilhões de m3 por ano, relata a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás).
Em segundo lugar está a fonte proteína animal, com 14,2 bilhões m3/ano. Em terceiro vem a produção agrícola (6,6 bilhões m3/ano) e, em quarto, o saneamento (2,2 bilhões de m3/ano).
Independente da matéria-prima, o biometano é substituto direto dos derivados de petróleo.
Se a frota nacional estiver adaptada, o renovável torna-se pra lá de estratégico porque, segundo a ABiogás, ele tem potencial de suprir 70% da demanda nacional de diesel, equivalente a 39 bilhões de litros.
“O biometano gera uma economia entre 20% e 30% em relação ao gasto com diesel, e não podemos nos esquecer de que o Brasil importa cerca de 30% de seu consumo de diesel”, relata Gabriel Kropsch, vice-presidente da Associação.
Em linha com as projeções da ABiogás, cálculo feito pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) a pedido do jornal Valor, revela que o uso de todo o potencial de produção de biometano do Brasil para substituir o diesel nas frotas de veículos pesados poderia eliminar toda a importação do fóssil pela próxima década.
Isso representaria uma economia de até US$ 137 bilhões ao longo de 2021 a 2031, destaca conteúdo da jornalista Camila Souza Ramos no Valor.
O CBIE produziu o levantamento com base em projeções de diferentes cenários de crescimento da economia.
Em um quadro mais otimista de avanço do PIB entre 2021 e 2031, “a demanda por diesel, segundo o Centro, superaria a capacidade de refino prevista e exigiria ainda importações. Só em 2031, o volume chegaria a 35 bilhões de litros, ou o equivalente a 45% do consumo esperado para o ano”, destaca o conteúdo.
Vale lembrar que, para substituir essa importação por completo, a indústria nacional de biometano teria que chegar a 2031 com uma capacidade de produção anual de 40 bilhões de litros, ou 112,89 milhões de metros cúbicos de biogás ao dia. É esse volume que, segundo o CBIE, evitaria o gasto de US$ 137 bilhões com importações entre 2021 e 2031.
Contudo, é certo que a realidade produtiva de biogás e de biometano está bem aquém das projeções.
Conforme o Valor, em setembro a ABiogás estimava que o país tinha menos de dez unidades em produção, capazes de entregar 400 mil metros cúbicos por dia.
É pouco, sim.
Mas diante do potencial disponível de biometano, basta o empurrão necessário dos gestores públicos e certamente os segmentos com matéria-prima investirão.
Tome o exemplo do setor sucroenergético, que já tem usinas utilizando biometano e empreendimentos estão em fase de execução em unidades da Raízen, da Uisa, Adecoagro e da Zilor.