Biometano e combustível para drones: conheça as recentes aplicações do etanol
Por Delcy Mac Cruz
Biocombustível já substitui gás em regiões do interior paulista e serve para abastecer aeronaves não tripuladas
Créditos das imagens: Drone: Liconic
Empregado para rodar veículos flex como etanol hidratado ou anidro (misturado em 27% ao litro da gasolina), o biocombustível se revela estratégico para a balança comercial. Isso porque supre quase metade da demanda de combustíveis para veículos leves e, assim, reduz a importação de óleo para ser convertido em gasolina e dar conta de atender a demanda.
Para se ter ideia, em 2022 o hidratado registrou demanda de 16,6 bilhões de litros, enquanto o anidro somou outros 12 bilhões de litros (ou 27% dos 43 bilhões de litros demandados de gasolina C). Ou seja, em 2022 a demanda de etanol chegou a 28,6 bilhões de litros, ou 2,4 bilhões de litros a menos que os 31 bilhões de litros de gasolina injetados no tipo C.
As informações estão em levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) feito com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis e com o Ministério da Agricultura.
Confira as demandas de combustíveis em 2022:
Estratégia vai além de ajudar a balança
Ainda levando em conta os números de 2022, caso a frota de leves rodasse 100% com gasolina, seriam necessários por baixo 72 bilhões de litros. E como o Brasil importa óleo para gerar parte desse volume, seria como afetar negativamente a balança comercial - que faz a média das exportações e de importações.
No entanto, a estratégia do etanol no mercado de combustíveis vai além de conter importações de óleo. É que o biocombustível também é vital para o Brasil investir nas metas de descarbonização.
Quando avaliado o ciclo de vida completo do combustível (que inclui desde o plantio da cana, produção e entrega no posto de venda ao consumidor), o etanol reduz as emissões de dióxido de carbono (CO2) em até 90% em relação ao ciclo de vida da gasolina, destaca a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
Segundo estudo da entidade, entre março de 2003 (data de lançamento da tecnologia flex) e maio de 2020, o consumo de etanol evitou a emissão de 515 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. Tal volume equivale às emissões anuais somadas de Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai.
Novos ‘filhotes’
Não para por aí. É que o etanol estreia novos produtos no mercado e, assim, irá ampliar as reduções de CO2 emitidos. Um deles é o biometano, biocombustível gasoso obtido a partir do processamento do biogás. No caso, ambos têm, aqui, resíduos de cana como fontes: vinhaça e torta de filtro. De forma geral, o biometano resulta de etapas de purificação do biogás, cuja composição reúne características que o tornam intercambiável com o gás natural em todas as suas aplicações, seja fornecido por gasoduto ou transportado em caminhões na forma de gás comprimido (leia mais a respeito aqui). Mais: em termos de emissões de carbono, ele é bem mais limpo que o gás natural.
Levantamento da ABiogás destaca que, em termos comparativos, enquanto o gás natural veicular emite 80 gramas de CO2 equivalente por megajoule (gCO2eq/MJ), o biometano tem emissão negativa de - 20 gCO2eq/MJ.
Quer saber mais sobre biometano? Leia aqui.
Esse gás renovável já entrou em prática no interior paulista por meio da sucroenergética Cocal e da concessionária GasBrasiliano, controlada pela Compass (Grupo Cosan) e pela Mitsui (mais informações aqui).
No começo de fevereiro de 2023 elas iniciaram a operação da primeira rede exclusiva de gasoduto no Brasil para transporte de biometano. Ele começa abastecendo atividades industriais dos municípios de Presidente Prudente, Narandiba e Pirapozinho.
Segundo destaca a Cocal, o investimento total no projeto foi de R$ 180 milhões, sendo R$ 30 milhões da GasBrasiliano para construção da rede exclusiva de distribuição e R$ 150 milhões da Cocal na construção da planta de biogás para a produção do biometano. A capacidade é de gerar 25 mil metros cúbicos por dia. Foram construídos 64,5 quilômetros de tubulação e a indústria alimentícia Liane, de Presidente Prudente, é a primeira cliente.
Além de aumentar o uso de energias renováveis por meio do biometano, a empresa também prevê reduzir os custos mensais em torno de 30%.
“Até agosto de 2022, nossa matriz energética estava dividida em 70% de energia elétrica convencional, 10% de gás GLP e 20% de óleo BPF e, agora, a meta é chegar a 30% dessa matriz com renováveis”, relata Maurício Calvo, diretor industrial da Liane.
Unidade produtora de biometano da Cocal em Narandiba (SP)
Drones movidos a etanol
Outra recente aplicação do etanol é sua presença como combustível em drones. Trata-se do sistema híbrido a etanol para drones, o LPU Air, como registrado pela Liconic Technology, empresa com unidade em Sorocaba, no interior paulista. Ela atesta ser a primeira startup do segmento drone a trazer para a América Latina tecnologia testada de hibridização de frotas elétricas a base de etanol.
Como funciona?
A unidade LPU substitui as baterias elétricas convencionais em modelos de drone acima de 15 quilos. Segundo a empresa, com payload (carga útil), é possível realizar 10% a mais de tempo de voo, ante o uso de bateria, e até 5 horas de voo com um quilo de payload. Tempo de reabastecimento da unidade? 1 minuto, conforme a Liconic. E o custo de manutenção? Zero.
Relata a empresa: a implementação desse sistema híbrido representa em média 40% de redução de custos, considerando todos os insumos da solução elétrica (energia + bateria) e da solução híbrida (horas de uso + biocombustível). Fora isso, têm os ganhos ecológicos.
“Com o etanol, é possível atingir nível negativo de carbono”, relata Pedro Junior, da equipe da Liconic. Conforme ele, a escolha do etanol para esse modal aéreo se fez por uma visão estratégica de mercado a partir da tendência mundial de transição para energias renováveis.
“Concluímos que não faria sentido criar um produto a gasolina, que não terá espaço no mercado futuro”, explica. Assim, “a preocupação com a sustentabilidade e com a empatia do setor de drones agrícolas pelo uso do etanol fez com que essa estratégia fizesse ainda mais sentido.”
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