Além de açúcar, etanol e bioeletricidade, a cana gera vários outros produtos. Conheça 10 deles
Por Delcy Mac Cruz
Adubo, pellets e perfumes integram a mais recente lista de ‘filhotes’ da planta
Crédito da imagem: Usina Amambai
Que a cana-de-açúcar é prioritária no Brasil enquanto matéria-prima de açúcar, etanol e de bioeletricidade, não chega a ser uma novidade.
Vale lembrar que esta gramínea, originária da ilha de Nova Guiné, é cultivada em 9,7 milhões de hectares do território brasileiro (segundo dados oficiais de 2021). Essa ocupação responde por menos de 3% da área agricultável do país estimada pelo IBGE em 352 milhões de hectares.
Contudo, os resultados produtivos da cana são expressivos. Em média anual, ela gera 41 milhões de toneladas de açúcar, o que faz do Brasil o principal produtor mundial do alimento; e 32,5 bilhões de litros de etanol, que respondem por 48% de todo consumo de combustíveis no país.
Tem ainda a bioeletricidade, como é chamada a energia elétrica gerada a partir da biomassa da gramínea. Hoje, ela responde por 8,1% da matriz energética brasileira, mas essa participação pode triplicar porque aproveita-se apenas 15% do potencial dessa geração para rede (leia aqui mais a respeito).
Açúcar, etanol e eletricidade com baixíssima pegada de carbono são velhos conhecidos do setor sucroenergético. Assim como o são tradicionais produtos da cana como melaço, rum, cachaça e bagaço, este empregado para produzir energia elétrica.
Produtos variados
Contudo, a matéria-prima lista uma legião de produtos e até expande uma nova geração de ‘filhotes’.
Eles são recém-nascidos, estão na infância e até na adolescência. E reforçam o peso sustentável e ambiental da cana para o Brasil.
Listamos a seguir 10 desses produtos com informações sobre cada um deles.
1 - Biogás e biometano
Ambos são da ‘velha guarda’, já que o biogás, por exemplo, há décadas e décadas é produzido pela decomposição de resíduos e efluentes orgânicos. No setor canavieiro, no entanto, ele desponta desde 2012 em planta da Geo em parceria com a Coopcana no estado do Paraná.
De lá para cá, os exemplos só avançam e, entre empreendimentos em geração e em projeto, o número passa de dez, o que inclui também biometano, o gás natural renovável já implantado em Presidente Prudente, no interior paulista (leia mais aqui).
2 - Garrafa de refrigerante
Ela está prestes a completar 7 anos de idade. Foi em 2015 que a Coca-Cola anunciou uma garrafa pioneira feita de plástico 100% da cana. A “PlantBottle”, como foi chamada, se parece com as tradicionais e até o sistema de reciclagem é o mesmo, como relata o conteúdo divulgado.
Tem um detalhe: com o plástico feito de cana e não do petróleo, a ‘pegada ambiental’ deixada é muito menor. E, assim, a Coca avança em sua meta de deixar para trás o plástico de petróleo.
3 - Brinquedos de montar
Desde 2018 a dinamarquesa Lego inovou ao substituir plástico derivado do petróleo por biopolietileno (bio-PE): macio, durável e flexível derivado da cana.
Em relato, a empresa destaca: “asseguramos que a cana utilizada é obtida de forma sustentável e não compromete a segurança alimentar”. Acrescenta: a cana empregada é certificada pela norma Bonsucro Chain of Custody para fontes responsáveis.
4 - Papel
Alternativa sustentável à folha de papel sulfite tradicional, o papel de cana já possui vários fabricantes no país. Aliás, a fabricação é bastante parecida com a do papel comum, mas a extração da celulose vem do bagaço da cana.
E o resultado ambiental é exemplar: evita-se o corte de árvores com menos emissões de carbono. Tem também ganho econômico: a fabricante CGE Papéis atesta que o custo de fabricação do papel de cana fica até 20% mais em conta na comparação com o papel com base no eucalipto.
5 - Produtos de beleza
O melado de cana integra máscara hidratante em sua formulação e que, segundo o fabricante Dot, dá brilho e devolve a vida e beleza aos fios.
O hidratante é um dos cosméticos cujos derivados da cana entram na composição. Xampus e condicionadores são outros exemplos.
6 - Higienizantes antissépticos
Usamos aqui o exemplo da empresa Garoa, que emprega álcool etílico neutro - grau alimentício, na fabricação de spray higienizante antisséptico.
Outros fabricantes também empregam moléculas da cana como matéria-prima de antissépticos. E, assim, tem-se produto atóxico, que não irrita os olhos e não resseca a pele.
7 - Perfumes com 2G
O álcool é tradicional integrante de fórmulas de perfumes mundo afora. Agora, no entanto, o etanol celulósico, ou de segunda geração (2G), feito da biomassa (bagaço e palha) também entra como matéria-prima.
No caso do Grupo Boticário, o 2G integra a linha EcoÁlcool, feita a partir de resíduos de biomassa que antes eram queimados ou descartados. “Este processo também garante a redução na pegada de carbono em mais de 30% ante o álcool tradicional”, relata a empresa.
8 - Canudos biodegradáveis
Eles são feitos a partir de variedades diferentes de cana. Startup do Vietnã, por exemplo, utiliza uma espécie de cana oca cultivada originalmente naquele país.
Mas existem fabricantes como a Bionex, que oferece canudos de cana em caixas com 100. A vantagem ante o concorrente de plástico é de que o natural de cana se decompõe em apenas 15 dias.
9 - Óleo fúsel
Subproduto da cana que surge da fermentação alcoólica. É tradicional como produto de usinas e empregado em alimentos, cosméticos, fragrâncias e até mesmo em produtos de construção e pintura, como tintas, vernizes e solventes.
10 - Vidro
Aqui, a cinza decorrente da queima da cana que é rica em sílica (areia) e que também entra para a fabricação de vidro, uma vez que a areia é uma das matérias-primas.
A química e pesquisadora do Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), Denise Fungaro, relata à SuperInteressante que, além do vidro, as nanopartículas de sílica extraídas das cinzas têm outras aplicações.
Sabe quais?
Conforme a pesquisadora, a sílica da cana também pode ser empregada na produção de baterias de íons de lítio e em células de combustível.
Ou seja, a tendência é de que a cana também contribua com a tão esperada inovação em baterias e na tecnologia de células de combustível, que tendem a gerar eletrificação em motores elétricos a partir do etanol.
PRODUTOS QUE SAEM DA CANA
Fonte: Amambai