Novas matérias-primas ampliam - e garantem - a produção de etanol no Brasil
Novas matérias-primas ampliam - e garantem - a produção de etanol no Brasil
Fontes em uso e em fase de pesquisa reforçam a diversidade produtiva do biocombustível
Imagem: Divulgação/Arquivo / Delcy Mac Cruz
A oferta de etanol produzido no Brasil só tende a crescer. É certo que a moagem de cana-de-açúcar deve ser menor na safra em andamento na região Centro-Sul, a 2025/26, por conta da menor disponibilidade da planta.
Segundo a estimativa mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura e Pecuária, a oferta de cana deve ser 2% menor ante a safra anterior.
Se a previsão for confirmada, serão fabricados 28,11 bilhões de litros de etanol de cana, redução de 4,2% na comparação com a safra 2024/25.
Já a produção de etanol feito de milho novamente irá surpreender: as usinas que empregam o cereal para fazer etanol deverão ofertar 8,7 bilhões de litros, 11% a mais do que em 2024.
Vale lembrar que a estimativa da Conab pode ser alterada com novo levantamento a ser divulgado em agosto. E também é superada pelas previsões de produtores, para quem a oferta deve chegar a 10 bilhões de litros até dezembro próximo.
A produção planejada é suficiente?
Sim, é suficiente, se se levar em conta projeção da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), para quem o consumo nacional de etanol anidro (misturado à gasolina) e hidratado (veículos flex) deve ser de 34,8 bilhões de litros em 2025.
Sendo assim, esse volume é 2 bilhões abaixo da projeção da Conab (36,82 bilhões de litros).
Detalhe: fora o consumo em si, é preciso ter estocagem para garantir o suprimento e a oferta em caso de imprevistos para a produção - caso da estiagem severa e de incêndios em 2024 (leia mais aqui).
Mesmo assim, há condições de atender a demanda.
Como assim?
É que, no caso das mais de 300 biorrefinarias de cana, basta ‘virar a chave’ da indústria. Ou seja: alterar o mix e passar a fazer mais etanol do que açúcar.
Novas fontes
Alterar o mix produtivo é estratégico para o setor de bioenergia.
Mas ele tem novidades já em fase de uso e em etapas de pesquisas: são as novas fontes de fabricação do biocombustível.
O blog da Fenasucro destaca 3 dessas matérias-primas que vêm para reforçar a oferta de etanol no Brasil.
Confira:
A Be8 iniciou em março último as obras civis da segunda fase de construção da nova planta de etanol, a primeira de grande porte no estado do Rio Grande do Sul.
O etanol é feito a partir de cereais, principalmente o trigo, e a unidade é a primeira de produção de glúten vital do Brasil.
A área construída da nova planta será de cerca de 40 hectares, ou mais de 63 mil metros quadrados.
A segunda fase iniciará pela realização da base e das fundações da estrutura do empreendimento.
Com previsão de início de operação em 2026, a fábrica será flexível para a produção de etanol anidro (que pode ser adicionado na gasolina) ou hidratado (consumo direto) e terá capacidade de 220 milhões de litros.
Parque fabril
A Be8 também vai oferecer ao mercado o farelo oriundo do processamento dos cereais, conhecido como DDGS (Distiller’s Dried Grains with Solubles) ou Grãos Secos de Destilaria com Solúveis (em português), obtido imediatamente após o processo fermentativo de produção de etanol.
Esse é um importante produto, com grande potencial de utilização em rações animais. Serão produzidos 155 mil de toneladas por ano de farelo.
CB BIOENERGIA
A CB Bioenergia deve inaugurar neste 2025, no Rio Grande do Sul, às margens da BR 287, a primeira usina de etanol de trigo do Brasil.
O complexo pertence à família Bonotto e o investimento é de R$ 100 milhões. A fábrica (usina) representa um marco para a região, gerando empregos e impulsionando a economia regional.
A capacidade de produção será de 40 mil litros de álcool por dia, com o processamento de 100 toneladas de matéria-prima também nessas 24 horas (leia mais a respeito aqui)
MANDIOCA DOCE
Pesquisa apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), avalia a viabilidade da produção de bioetanol, através da hidrólise e fermentação das raízes de mandioca açucarada.
Amparada pelo Programa de Apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação em Áreas Prioritárias para o Estado do Amazonas, o estudo intitulado “Mandioca açucarada, uma alternativa para a produção de bioetanol no estado do Amazonas”, analisa que a quantidade de amido presente no bagaço, após extração do caldo, permite uma maior liberação de açúcares, o que torna o processo fermentativo mais eficiente e vantajoso.
Segundo a coordenadora do estudo e doutora em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia, Leiliane do Socorro Sodré de Souza, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a mandioca foi escolhida devido à motivação do grupo de pesquisa em desenvolver bioprodutos a partir de biomassa vegetal presente no estado.
“A produção de biocombustíveis é uma possibilidade interessante para comunidades isoladas. E, como a mandioca é uma espécie que vários produtores têm experiência com cultivo e, mesmo que a mandioca açucarada tenha algumas características diferentes, a mandioca amilácea e açucarada são similares no cultivo, e assim esta foi escolhida para a pesquisa”, afirmou.
A mandioca açucarada apresenta em sua composição em torno de 85% de água e o restante da composição divide-se em açúcares, proteínas, amido e fibras.
Sobre a investigação da viabilidade da produção de bioetanol através da hidrólise, um fenômeno químico no qual uma molécula é quebrada em moléculas menores na presença de água, e da fermentação das raízes de mandioca açucarada, Leiliane Souza explica mais sobre o processo.
AGAVE
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram uma cepa geneticamente modificada da levedura Saccharomyces cerevisiae capaz de digerir o principal carboidrato presente no agave – um tipo de suculenta muito comum no México e no Nordeste brasileiro, destaca a Agência Fapesp.
Com essa inovação, a planta ganha potencial para se tornar uma das mais importantes matérias-primas para a produção de etanol em ambientes semiáridos, biocombustível de papel fundamental no contexto das mudanças climáticas. O pedido de patente já foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
O agave é conhecido por ser a planta a partir da qual a bebida alcoólica destilada tequila é produzida e, mais recentemente, vem ganhando fama como opção saudável de adoçante.
No Brasil, sua produção se destina apenas à produção de fibra de sisal e grande parte de sua biomassa é descartada.
Segundo os pesquisadores, essa biomassa ainda não é utilizada para produção de etanol biocombustível principalmente pela necessidade de maior eficiência na conversão dos açúcares da planta – seu principal açúcar é um polímero de frutose chamado inulina, cuja digestão requer uma enzima que não está naturalmente presente na Saccharomyces cerevisiae, a levedura utilizada pela indústria para produzir etanol.
Para viabilizar o agave como matéria-prima para o etanol, pesquisadores do Laboratório de Genômica e Bioenergia do Instituto de Biologia (LGE-IB) da Unicamp lançaram mão de estratégias de engenharia genética e criaram uma nova cepa de S. cerevisiae.
Além da aplicação na indústria de biocombustível, a ideia dos pesquisadores é que a patente possa ser útil também no setor alimentício, que utiliza inulina na produção de frutose e xaropes.