Vem aí o combustível renovável aéreo feito de resíduos de cana

Por Delcy Mac Cruz

Produto está em fase de desenvolvimento e tem previsão de chegar ao mercado em 2024

Crédito da imagem: Shutterstock

Assim como os demais meios de transporte, o setor aéreo precisa entrar de vez na descarbonização e no desenvolvimento sustentável dos negócios.

Trata-se de uma guerra global contra o aquecimento global, provocado pelos gases de efeito estufa (GEEs). Esses, por sua vez, são gerados principalmente pela emissão de dióxido de enxofre (CO2) dos combustíveis fósseis, caso da gasolina e do óleo diesel.

Em meio a essa guerra, o Brasil tem exemplos sólidos de  redução de carbono, ou CO2. Um deles é o etanol de cana-de-açúcar.

Quase 50% da frota nacional de veículos leves utiliza esse biocombustível diretamente (em modelos flex) ou com gasolina, que tem 27% do renovável.

Para se ter ideia, se usado em substituição à gasolina, o etanol de cana é capaz de reduzir em até 73% as emissões de CO2, segundo estudo da Embrapa Agrobiologia.

 

Mas por que o setor aéreo tem que correr contra as emissões?

Há duas respostas a esta pergunta.

A primeira é de que o Brasil consome 17 bilhões de querosene de aviação (QAV) por ano, com emissão de 10 milhões de toneladas de CO2, informa o Capital Reset.

A segunda resposta é de que, além de poluente, a bioquerosene custa muito caro.

Levantamento da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) atesta que nos primeiros oito meses deste ano a QAV acumula alta de 63%.

Tem mais: a querosene representa um terço dos custos totais das companhias aéreas.

Com estes motivos, dá para entender porque o setor aéreo precisa voar bem rápido no universo da descarbonização.

 

E como fazer isso?

Existem tecnologias como a eletrificação, que é crescente nos veículos rodoviários, mas ainda é incipiente no caso dos aviões.

Outra tecnologia bem avaliada é o hidrogênio verde. Esse pode ter origem no gás natural ou na biomassa de cana.

Seja uma como outra, ambas estão no campo do desenvolvimento, sem data certa para chegarem ao mercado.

Mas existe um combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) em fase adiantada de desenvolvimento.

Trata-se do emprego de biomassas verdes, como resíduos orgânicos do agronegócio, para produzir hidrogênio verde e SAF, também chamado de bioQAV (bioquerosene de aviação).

Quem conduz esse investimento é a Geo Biogás & Tech, especializada em biogás e biometano, entre outras soluções.

Detalhes sobre o SAF renovável

Entenda como é este renovável para aviação a partir de informações da Geo Biogás em conteúdo no Valor.

A partir do biogás: a Geo pesquisa o processo a partir da produção do metano e obter hidrogênio verde e SAF em unidades de biogás.

Como: a empresa pretende unir as possibilidades de produção a partir de duas provas-conceito (POC, na sigla em inglês) realizadas neste ano (2022) e que resultarão em plantas de hidrogênio verde e de SAF.

Aporte: Alessandro Gardemann, presidente da Geo Biogás & Tech, afirma que os investimentos em P&D e em engenharia para os projetos devem superar os R$ 20 milhões.

Matéria-prima: as usinas deverão produzir biogás e biometano (fontes da SAF e do hidrogênio) a partir da biomassa em geral, especialmente resíduos da cana como o bagaço e a vinhaça.

Fabricação do SAF: se daria por meio do processo conhecido como Fischer-Tropsch, que aproveita o processo de reforma do biogás para convertê-lo em querosene de aviação.

Parceria: este projeto é desenvolvido junto com a Universidade Estadual de Maringá, que envolve tecnologia proprietária que resultará em um catalisador próprio.

Previsão de data: a expectativa é de que as unidades de demonstração da produção de SAF estejam em operação a partir de 2024.