Com déficit, mercado global de açúcar traciona produção das usinas brasileiras
Com déficit, mercado global de açúcar traciona produção das usinas brasileiras
Previsão de falta do adoçante amplia oportunidades para o setor de bioenergia nacional
Imagem: UDOP/Arquivo / Delcy Mac Cruz
A produção global de açúcar tende a crescer. No caso do Brasil, as projeções da consultoria Datagro indicam para uma fabricação de 42,04 milhões de toneladas.
Se for confirmada, a estimativa para a safra 2025/26 será 5,9% maior ante a do ciclo anterior.
Por sua vez, a Índia, segundo maior país produtor de açúcar depois do Brasil, prevê fabricar 35 milhões de toneladas na safra que começa oficialmente em 1º de outubro.
A previsão, que representa aumento de 26% sobre a temporada anterior, é do USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Mas em que pese a maior oferta, o adoçante deverá registrar déficit global de oferta - e isso favorece o setor brasileiro de bioenergia.
Como assim?
Em resumo, a produção maior de açúcar tende a ser insuficiente diante a demanda global.
Para se ter ideia, em sua estimativa mais recente, divulgada em maio, a Organização Internacional do Açúcar (ISO) prevê déficit global de 5,5 milhões de toneladas na atual temporada, a 2024/25, que oficialmente termina em 30 de setembro próximo.
Esse volume, segundo a divulgação da ISO, é de 0,6 milhão de toneladas a mais do que o previsto anteriormente pela entidade em fevereiro deste ano.
Diante disso, mesmo com projeção de alta na produção global, que pode chegar a 190 milhões de toneladas, o consumo mundial deve alcançar 180 milhões de toneladas, conforme previsões de consultorias.
Mas se há previsão de produção maior, porque haverá déficit?
A resposta para essa pergunta é a de que as usinas entraram oficialmente no segundo mês da safra 2025/26 na região Centro-Sul do Brasil - e podem ocorrer muitas surpresas até o fim do ciclo, em março próximo.
Ou seja, a região, que concentra 80% da produção nacional do adoçante, pode registrar viradas produtivas no meio do caminho.
Exemplos: o preço do etanol pode ganhar remuneração, e ser atrativo enquanto produto; ou a cana-de-açúcar pode sofrer com queimadas e estiagem, como em 2024.
Trata-se, enfim, de suposições. Assim como elas existem no setor canavieiro da índia.
Até a finalização deste texto, as projeções apontavam para alta na produção indiana do adoçante.
Mas já neste ano a Índia ficou de ampliar para 20% a adição de etanol à gasolina, como medida para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, também, para conter as importações de petróleo (leia mais aqui).
Se essa mistura for confirmada em todo o país, parte da cana hoje focada para fazer açúcar terá de ser direcionada para produzir etanol.
A caminho do déficit
Caso essa projeção seja confirmada, haverá menos açúcar para atender a demanda mundial. E nem os estoques serão capazes de dar conta.
E é aí que entra o setor de bioenergia brasileiro. Ele pode ajudar a suprir o déficit global de açúcar.
Isso pode ocorrer, por exemplo, com a maior produção de etanol pelas usinas que usam milho como matéria-prima. As previsões são de que elas poderão fabricar 10 bilhões de litros em 2025, ou seja, 2 bilhões de litros acima do ofertado em 2024.
Diante disso, as usinas de cana podem migrar mais matéria-prima para produzir açúcar e, assim, ajudar a suprir o anunciado déficit mundial do adoçante.
Afinal de contas, ao contrário das unidades produtoras de etanol de milho, restritas a um produto, as de cana podem alterar o mix produtivo - e ampliar a fabricação de açúcar ou do biocombustível conforme a indicação operacional.